Os descendentes dos emigrantes consideram que é preciso actualizar a política de relacionamento com as comunidades portuguesas no estrangeiro e encontrar soluções específicas para as necessidades de cada uma delas. E para que isso aconteça é importante ouvir antes de agir, dizem, ao DN, três representantes das comunidades portuguesas em França, nos Estados Unidos e na África do Sul.
"O modelo de funcionamento das comunidades é bom, no entanto é preciso ouvir, porque as pessoas que vivem no estrangeiro têm potencialidades a nível do turismo, do empreendorismo e investimento no seu país de origem. Nós não pedimos esmolas, de forma alguma, só queremos ser ouvidos", diz Paulo Marques, autarca, filho de emigrantes portugueses em França. Este é o país com mais emigrantes e descendentes - número que rondará um milhão. O total de portugueses e luso-descendentes no mundo até à terceira geração é de 31,19 milhões, segundo um estudo divulgado em Abril.
Paulo Marques, líder da Associação Cívica de Autarcas Portugueses, vereador da UMP em Aulnay-sous-Bois, diz que houve falta de comunicação na extinção de dois consulados em Versalhes e Nogent. Mas também pensa que o apoio à participação cívica das comunidades nos países em que vivem tem sido claramente positiva.
"Hoje há 3500 autarcas de origem portuguesa em França. Enviamos turistas para Portugal. Mas sentimos que o potencial de empresários que estão fora não é aproveitado e que os ministérios portugueses não falam entre si", explica, defendendo que a aposta no ensino da língua é uma das melhores forma que manter os luso-descendentes ligados a Portugal.
O mesmo pensa Manny de Freitas, filho de madeirenses, deputado no Parlamento da África do Sul. "Eu já penso diferente dos meus pais. Eles queriam voltar a Portugal, mas eu nem penso nisso. E também não admito investir em Portugal, se houver melhores condições noutras partes do mundo. É assim que a minha geração pensa", explica, confirmando também a importância de ouvir as comunidades e de ensinar a língua e a cultura portuguesa. "Quem sabe o que precisa é quem vive nos vários pontos do mundo. Não são os técnicos em Lisboa."
Elmano Costa, director do Departamento de Estudos Portugueses da Universidade da Califórnia, afirma que o Governo deve entender que uma solução não serve para todos. "Na Califórnia as pessoas praticamente não vão votar, pois ninguém se lembrou que ir do sul ao norte da Califórnia é o equivalente a ir de Portugal até França. É preciso haver novas formas de voto."
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