By:RIC OLIVEIRA
DARTMOUTH - O trabalho da comunidade deixará de ficar
invisível.
Otília Ferreira quase não conseguia conter
o seu entusiasmo enquanto observava líder após líder comunitário manifestar o
seu regozijo pela inauguração dos Arquivos Luso-Americanos Ferreira-Mendes da
Universidade de Massachusetts em Dartmouth, no passado dia 18 de Setembro.
Sentada na primeira fila, o seu sorriso era tão radiante que seria suficiente
para levar qualquer soldado de infantaria a baixar a sua arma.
Afinal de contas, o arquivo não só é o
primeiro repositório do género nos Estados Unidos, como também ostenta o nome
do seu pai, um pioneiro da rádio e imprensa escrita já falecido. Quando chegou
a vez de cortar a fita ao lado de várias entidades, foi ela que desempenhou o
papel principal.
"É um lar para a história
luso-americana, aqui na boa velha América," adiantou Ferreira, sobre os
arquivos.
Entidade após entidade elogiou os esforços
da criação dos arquivos, que começaram há cerca de três anos, com uma avultada
oferta monetária da família Ferreira Mendes, a qual lhe concedeu o direito de
escolher o nome para os mesmos.
No interior do repositório, podem-se já
encontrar centenas de artefactos e retratos antigos - assim como colecções
pessoais de líderes políticos, caso da primeira senadora de Massachusetts, Mary
L. Fonseca, do segundo autarca de origem portuguesa de Fall River, Carlton M.
Viveiros, e colecção de exemplares do extinto Diário de Notícias de New Bedford
- todos eles preservados para uma eternidade, dentro de um edifício com clima
controlado, que anteriormente acolheu uma delegação da Radiotelevisão
Portuguesa (RTP).
O Director do Centro de Estudos e Cultura
Portuguesa daquela universidade, Frank Sousa, salientou que os arquivos
legitimam o elo entre os estudos académicos e a "preservação étnica."
"Proporcionam a oportunidade de
estudar o relacionamento entre os portugueses e os Estados Unidos e como este
se relaciona com a história dos E.U.A.," frisou.
Sousa elogiou o trabalho da Chanceler Jean
F. MacCormick, que, segundo ele, assegurou que o projecto não só avançasse como
se materializasse.
"Nada disto seria possível se não
tivéssemos um objectivo conjunto," adiantou a chanceler, acrescentando que
os arquivos são a "cereja no bolo do mundo académico... é uma legião viva
e vibrante de pessoas do nosso passado e do nosso presente que nos mostram o
nosso futuro."
Para o Embaixador de Portugal nos Estados
Unidos, João de Vallera, os arquivos são um "monumento" à herança
cultural portuguesa.
"É um momento significativo para a
comunidade portuguesa," adiantou.
O Mayor de Fall River, Robert Correia,
também proferiu algumas palavras. Segundo Sousa, foi Correia que há quase 20
anos ajudou a estabelecer o Centro de Estudos e Cultura Portuguesa naquele
campus. Através do cargo que ocupava na Câmara de Representantes, ajudou a
conseguir milhões de dólares para aquela universidade, enquanto também
trabalhava para financiar vários programas e comparticipações para o centro,
que em pouco tempo já viu a criação de uma Cátedra em Estudos Portugueses, um
programa de professores convidados, um programa de doutoramento e agora um
arquivo vibrante.
"Ele é um dos maiores apoiantes desta
universidade," adiantou Sousa.
Correia, por sua vez, referiu que os
arquivos assegurarão que o trabalho do passado não será esquecido, recordando
"as gerações que nos antecederam - os verdadeiros alicerces do que os
luso-americanos têm feito ao longo destes anos."
Entretanto, alguns momentos após os
convidados visitarem os arquivos, Arthur Motta, de New Bedford, vinha a correr
do seu carro, com composições musicais da autoria da sua tia - "a primeira
luso-americana a completar o curso do conservatório."
Esta seria mais uma adição àquela que já é
uma colecção de memórias, documentos históricos e outros aspectos da vida
luso-americana, assegurando que a comunidade vive com uma visibilidade que nem
o tempo nem a marginalização prévia podem fazer esvanecer.
O Jornal, aqui.