Alguns emigrantes
madeirenses radicados em Inglaterra têm vindo a passar por dificuldades
financeiras, ao ponto de se verem obrigados a recorrer à ajuda do Centro
Desportivo e Cultural Português de Londres para comer. A constatação é feita
pelo presidente daquela instituição, o também madeirense José Manuel Sousa, que
relaciona o agudizar desta situação com o desemprego associado à crise
económica mundial.
"É verdade sim senhor que já matamos a
fome a muitos conterrâneos nossos", assume José Manuel Sousa, com base na
sua experiência de alguns anos ligado à colectividade. O dirigente explica que
a colectividade ajuda "de todas as maneiras possíveis", embora
"não dê dinheiro a ninguém".
José Manuel Sousa explica que o problema se
fez sentir com maior intensidade no início deste ano, altura em que "muita
gente se chegou até ao clube a pedir ajuda", até mesmo "para
comer". Entretanto, a situação tem vindo a melhorar gradualmente, embora,
admite o emigrante madeirense, "de vez em quando ainda vão surgindo alguns
casos", mesmo que "em menor número". Até porque já se começam a
sentir os efeitos da retoma da economia em Inglaterra, com reflexo,
designadamente, no aumento da oferta de emprego.
O presidente do Cultural de Londres lembra,
todavia, que a colectividade é confrontada, volta e meia, com pedidos de ajuda,
até mesmo de agregados familiares onde um ou mais membros perderam o emprego.
Na maioria dos casos, porém, são situações passageiras, que se normalizam com a
inclusão num novo trabalho.
Alguns casos mais complicados
Pelo meio existem também alguns casos mais
complicados, relacionados não só com o desemprego, mas também com problemas
sociais como a toxicodependência, o alcoolismo e até mesmo questões de foro
mental. A título de exemplo, o presidente do Cultural de Londres aponta o caso
crónico de um emigrante madeirense, desempregado e sem morada certa, que
"vem todos os dias comer ao clube". Este é um caso particularmente
"delicado", como sublinha o dirigente, uma vez que o próprio clube
"já lhe pagou três viagens de regresso à Madeira e ele acaba sempre por
regressar". Uma situação "que se arrasta há cerca de dois anos".
Mesmo com a crise, José Manuel Sousa reconhece
que actualmente "sempre é mais fácil arranjar trabalho em Londres do que em Portugal". De
resto, é comum o clube a ajudar os emigrantes na procura de emprego, quer junto
de instituições públicas inglesas, quer ainda nas próprias empresas de que são
proprietários ou onde trabalham.
No entanto, o facto de alguns dos emigrantes
não dominarem bem a língua inglesa é um problema adicional para encontrarem
ocupação. Segundo José Manuel Sousa, a exigência principal é mesmo "falar
o inglês", razão pela qual muitos deles acabam por só conseguir trabalho
em sectores onde as qualificações pedidas são menores, como é o caso das
limpezas. Contudo, realça o dirigente, esse é um problema que se vem esbatendo
nos últimos anos, dado que a nova geração de emigrantes "já se apresenta
melhor preparada".
Cultural de londres "não é só
festas"
O presidente do Centro Desportivo e Cultural
Português de Londres nega que as acções da colectividade se resumam "a
bailhinhos, macarrão e futebol", como acusam alguns emigrantes madeirenses
radicados em
Inglaterra. "O clube não é só festas, há muitos anos que
vimos desenvolvendo um trabalho importante na ajuda aos nossos
conterrâneos", sublinha José Manuel Sousa, relevando, em particular, a
acção efectuada pela colectividade "no apoio social" aos emigrantes
que passam por dificuldades, nomeadamente "na procura de emprego"
(vide peça principal).
O presidente do Cultural de Londres explica
ainda que o clube procura ajudar na integração dos emigrantes, em particular
daqueles recém-chegados ao país, recusando a ideia de que esteja fechado em si próprio. Nessa
perspectiva, alude ao facto de o Cultural de Londres manter contactos com
algumas entidades oficiais da capital, sempre com o intuito "de ajudar e
contribuir para o bem estar dos emigrantes portugueses".
A polémica em relação ao Centro Cultural
e Desportivo Português de Londres tomou forma através dos comentários 'on-line'
efectuados na edição electrónica do DIÁRIO, na continuidade da notícia
referente à festa do 27.º aniversário, celebrado no passado dia 23 de Outubro.
Nélio
Gomes
Diário de Notícias da Madeira, aqui.