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Emigrantes em dificuldades
2009-10-30
Presidente diz que o cultural de Londres tem "matado a fome" a conterrâneos

Alguns emigrantes madeirenses radicados em Inglaterra têm vindo a passar por dificuldades financeiras, ao ponto de se verem obrigados a recorrer à ajuda do Centro Desportivo e Cultural Português de Londres para comer. A constatação é feita pelo presidente daquela instituição, o também madeirense José Manuel Sousa, que relaciona o agudizar desta situação com o desemprego associado à crise económica mundial.

"É verdade sim senhor que já matamos a fome a muitos conterrâneos nossos", assume José Manuel Sousa, com base na sua experiência de alguns anos ligado à colectividade. O dirigente explica que a colectividade ajuda "de todas as maneiras possíveis", embora "não dê dinheiro a ninguém".

José Manuel Sousa explica que o problema se fez sentir com maior intensidade no início deste ano, altura em que "muita gente se chegou até ao clube a pedir ajuda", até mesmo "para comer". Entretanto, a situação tem vindo a melhorar gradualmente, embora, admite o emigrante madeirense, "de vez em quando ainda vão surgindo alguns casos", mesmo que "em menor número". Até porque já se começam a sentir os efeitos da retoma da economia em Inglaterra, com reflexo, designadamente, no aumento da oferta de emprego.

O presidente do Cultural de Londres lembra, todavia, que a colectividade é confrontada, volta e meia, com pedidos de ajuda, até mesmo de agregados familiares onde um ou mais membros perderam o emprego. Na maioria dos casos, porém, são situações passageiras, que se normalizam com a inclusão num novo trabalho.

Alguns casos mais complicados

Pelo meio existem também alguns casos mais complicados, relacionados não só com o desemprego, mas também com problemas sociais como a toxicodependência, o alcoolismo e até mesmo questões de foro mental. A título de exemplo, o presidente do Cultural de Londres aponta o caso crónico de um emigrante madeirense, desempregado e sem morada certa, que "vem todos os dias comer ao clube". Este é um caso particularmente "delicado", como sublinha o dirigente, uma vez que o próprio clube "já lhe pagou três viagens de regresso à Madeira e ele acaba sempre por regressar". Uma situação "que se arrasta há cerca de dois anos".

Mesmo com a crise, José Manuel Sousa reconhece que actualmente "sempre é mais fácil arranjar trabalho em Londres do que em Portugal". De resto, é comum o clube a ajudar os emigrantes na procura de emprego, quer junto de instituições públicas inglesas, quer ainda nas próprias empresas de que são proprietários ou onde trabalham.

No entanto, o facto de alguns dos emigrantes não dominarem bem a língua inglesa é um problema adicional para encontrarem ocupação. Segundo José Manuel Sousa, a exigência principal é mesmo "falar o inglês", razão pela qual muitos deles acabam por só conseguir trabalho em sectores onde as qualificações pedidas são menores, como é o caso das limpezas. Contudo, realça o dirigente, esse é um problema que se vem esbatendo nos últimos anos, dado que a nova geração de emigrantes "já se apresenta melhor preparada".

Cultural de londres "não é só festas"

O presidente do Centro Desportivo e Cultural Português de Londres nega que as acções da colectividade se resumam "a bailhinhos, macarrão e futebol", como acusam alguns emigrantes madeirenses radicados em Inglaterra. "O clube não é só festas, há muitos anos que vimos desenvolvendo um trabalho importante na ajuda aos nossos conterrâneos", sublinha José Manuel Sousa, relevando, em particular, a acção efectuada pela colectividade "no apoio social" aos emigrantes que passam por dificuldades, nomeadamente "na procura de emprego" (vide peça principal).

O presidente do Cultural de Londres explica ainda que o clube procura ajudar na integração dos emigrantes, em particular daqueles recém-chegados ao país, recusando a ideia de que esteja fechado em si próprio. Nessa perspectiva, alude ao facto de o Cultural de Londres manter contactos com algumas entidades oficiais da capital, sempre com o intuito "de ajudar e contribuir para o bem estar dos emigrantes portugueses".

A polémica em relação ao Centro Cultural e Desportivo Português de Londres tomou forma através dos comentários 'on-line' efectuados na edição electrónica do DIÁRIO, na continuidade da notícia referente à festa do 27.º aniversário, celebrado no passado dia 23 de Outubro.

Nélio Gomes

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