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África do Sul: Coordenador do ensino diz que atrasos nas nomeações de professores afastam alunos
2009-11-02
O interesse na aprendizagem da língua portuguesa na África do Sul está a ser prejudicado pelo atraso nas nomeações dos professores feitas pelo Ministério da Educação. A afirmação é do coordenador do ensino do português naquele país, que alerta para a redução do número de alunos…

Apesar do ano lectivo começar em Janeiro, alguns professores chegam aos seus postos de trabalho em Março e Abril, o que levou alguns pais de alunos de escolas onde os professores ainda não tinham sido colocados, a optarem por outras disciplinas e actividades opcionais com prejuízo para a língua portuguesa, refere o coordenador.
Em declarações à Agência Lusa, Armindo Cameira Boto, responsável por uma rede com 41 professores, que leccionam na África do Sul, Namíbia e Suazilândia, garante que "o interesse pela língua portuguesa continua a ser enorme nesta região, mas que os atrasos nas nomeações feitas pelo Ministério da Educação criam grandes problemas à rede e geram o desagrado de encarregados de educação".
Contactado o Ministério da Educação, este informou, através da sua assessoria de imprensa, que não há qualquer sinal de atraso na colocação de professores neste ano lectivo e que tudo está a decorrer dentro da normalidade.
"Apesar dessa contrariedade (atrasos), o interesse pelo Português mantém-se altíssimo, com alunos, instituições governamentais e privadas a telefonarem constantemente para a Coordenação do Ensino, na embaixada de Portugal em Pretória, inquirindo sobre cursos e professores na África do Sul", salienta Armindo Boto.
Em meados deste ano, a tutela do ensino do português no estrangeiro passou do Ministério da Educação para o dos Negócios Estrangeiros, mas o Instituo Camões só assumirá a rede do ensino do português no estrangeiro no ano lectivo 2010/2011.
Em declarações à Lusa em Maio, o secretário de Estado das Comunidades, António Braga, admitiu, no entanto, que em países como a África do Sul, onde o ano lectivo começa em Janeiro, o Instituto Camões poderá acolher propostas mais cedo para expansão da rede.
Na África do Sul, os mais de três mil alunos dos diferentes graus estão neste momento em exames nas escolas públicas e privadas e os 35 professores destacados leccionam em Joanesburgo (a cidade com maior concentração de alunos e professores), Pretória, Cidade do Cabo, Durban, Pietermaritzburg, Bloemfontein, Nelspruit e Klerksdorp.

Ensino de sucesso

Considerado um caso de sucesso no universo da emigração portuguesa, a rede do ensino na África do Sul inclui igualmente uma importante componente de formação. Situado no consulado-geral de Joanesburgo, o Centro de Recursos da rede do ensino do Português fornece materiais e informação actualizada a mais de três dezenas de professores locais, que leccionam em áreas onde residem milhares de lusófonos e que não são cobertas pela rede oficial.
A formação de professores é uma das tarefas fundamentais da Coordenação da rede, refere o seu responsável. Na África do Sul, segundo Armindo Boto, várias instituições governamentais, como a polícia, os serviços de Imigração no aeroporto de Joanesburgo e o parlamento, organizam cursos de Português recorrendo aos serviços da rede do Estado Português. Na Namíbia, onde cinco professores leccionam Português a cerca de 300 alunos, existe um centro de formação com grande dinamismo e resultados apreciáveis, esclarece o coordenador. Na sua maioria, os professores ali formados servem refugiados angolanos do centro de Osire.

Investimento "rentável"

O embaixador de Portugal, João Ramos Pinto, confirma a importância do ensino da língua portuguesa naquele país, considerando que o investimento feito pelo Estado português é "rentável e bem empregue".
Em declarações à Lusa na capital sul-africana, Ramos Pinto destacou que o português ocupa um lugar importantíssimo na África do Sul, país cuja Constituição "protege" a língua portuguesa, por inúmeras razões, que vão da enorme comunidade lusófona, à relação de proximidade com Moçambique e Angola e aos interesses e negócios entre os países e povos da região.
"O Português é e sê-lo-á cada vez mais uma língua de negócios na região, é a segunda língua mais falada no espaço da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), e, por isso, existe uma grande procura e interesse por parte da África do Sul e professores e intérpretes da nossa língua", salientou João Ramos Pinto.
O diplomata destacou que a rede do ensino da língua portuguesa no país, que beneficia de forma directa mais de três mil alunos, é apenas uma vertente do esforço das autoridades portuguesas no campo da língua. "Estamos a ensinar português a funcionários alfandegários, no parlamento sul-africano, nos serviços de polícia, a funcionários responsáveis pelo turismo, e temos pedidos sistemáticos de embaixadas de outros países, de departamentos governamentais e outras instituições, o que me faz crer que é um investimento que vale a pena e se reproduz por si próprio", referiu o embaixador de Portugal.
Ramos Pinto é peremptório sobre o futuro do programa e da rede do ensino do Português, defendendo que deve continuar a ser apoiado. "Sempre advogarei junto das autoridades, embora ache que é uma advocacia um pouco inútil porque elas estão perfeitamente conscientes da sua importância, que o ensino do Português na África do Sul é para continuar a ser apoiado, apesar de ser um esforço bastante grande", salientou.
Segundo cálculos da embaixada de Portugal na capital sul-africana, os custos do programa em curso rondam os 900 mil euros anuais, mas para os seus responsáveis a importância da rede que foi montada ultrapassa em muito os custos financeiros.
O embaixador português destacou a existência de centros de língua portuguesa nas universidades de Witwatersrand (Joanesburgo) e Cabo, onde leccionam leitores destacados pelo Instituto Camões, o pedido da Universidade de Pretória, no sentido de terem um leitor no futuro, e também a importância de haver uma leitora de Português na Universidade de Gaborone, na Suazilândia, que apoia também o Secretariado da SADC na formação em Língua Portuguesa.
Com o Mundial de futebol a realizar-se no próximo ano no país, a língua Portuguesa adquire uma dimensão ainda mais notável, segundo os diplomatas. Para receber equipas como o Brasil e Portugal (ainda não apurado), e os visitantes aguardados, a FIFA recrutou vários quadros e voluntários que participarão na logística do maior torneio de futebol, pela primeira vez disputado em solo africano.

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