A ligação com o país de origem é muito forte, mesmo a milhares de quilômetros de distância.
" Três quartos se encontram na Suíça Romana,
especialmente nos cantões de Vaud e Genebra. "
Antonio Da Cunha, professor
"Não banque o português" se diz àquele que tenta entrar em um
cinema ou pegar um bonde sem pagar a passagem. Será que isso significa que os
portugueses são pessoas particularmente propensas a esse tipo de comportamento?
Navegando na internet, em um portal de provérbios, percebe-se que não é nada
disso. Aparentemente, o dito surgiu durante uma recepção organizada em Roma nos
idos de 1700, pelo embaixador de Portugal, que liberou o acesso a seus
compatriotas. O resultado foi que todos se fizeram passar por portugueses para
não pagar o ingresso.
Mas esquecendo por um momento o passado para dar uma olhada na realidade
helvética atual, constata-se que, com seus 160 mil membros, os portugueses
representam a mais importante comunidade, depois de italianos e
sérvio-montenegrinos.
"Três quartos se encontram na Suíça Romanda, especialmente nos cantões de
Vaud e Genebra", esclarece a swissinfo o presidente da Federação das
Associações Portuguesas na Suíça e professor de geografia da Universidade de
Lausanne, António da Cunha.
Na Suíça, depois da "Revolução dos Cravos"
A imigração portuguesa é relativamente recente. Os primeiros trabalhadores
chegaram à Suíça nos anos 60 para atender à demanda de mão-de-obra nos setores
hoteleiro, construção civil e agrícola.
O fluxo migratório se desenvolveu de modo marcante durante a década seguinte,
especialmente após a queda do regime fascista de Salazar (Revolução dos Cravos,
em 1974) e da ruína do império colonial.
A concessão de independência às colônias portuguesas na África levou, para
aquele país do Atlântico Sul, mais de 500 mil refugiados. "Nem todos,
porém, conseguiram se colocar na economia local, de modo que muitos migraram,
inclusive para a Suíça", explica António da Cunha.
O filho do fundador do tradicional Le Portugais, de Genebra, primeiro
restaurante lusitano da Suíça, registrou a transformação daquele período,
observando sua clientela. "Antes da revolução, não havia praticamente
nenhum português em nossas mesas ; depois, viu-se um forte fluxo e 90% dos
clientes eram meus compratriotas", conta Fernando Martins.
A imigração - indica Cunha - prosseguiu, maciçamente, nos anos 80, e até mudou
de perfil. Os novos imigrantes se distinguiram de seus predecessores por uma
melhor formação escolar. Vêm mais de um ambiente urbano do que rural.
Na mala, a paixão pelo futebol
Vistos no passado com desconfiança, os portugueses são, hoje, bem ajustados
na sociedade helvética. Nem por isso se pode dizer que estão bem integrados.
Os jovens, por exemplo, enfrentam ambiente profissional discriminatório. A taxa
de desemprego entre eles é particularmente elevada e o acesso às profissões
qualificadas continua difícil.
António da Cunha, que também é presidente do Fórum pela Integração da Migração
e do Migrante (FIMM), fala de uma "existência invisível", para
descrever a falta de participação na vida social, cívica e política helvética,
por parte dos portugueses.
Se de um lado - acrescenta o professor - é lícito denunciar a discutível
política de integração adotada por Berna, de outro, é também verdade que a
comunidade portuguesa se volta, freqüentemente, para si mesma, confinada ao seu
vínculo familiar e a várias associações. Entres estas, a esportiva, como
testemunham as numerosas equipes de futebol que levam o nome de célebres clubes
lusitanos, como Benfica, Sporting e Porto. O amor pela bola veio junto com as
roupas dentro da mala do imigrante.
"O movimento associativo reflete o apego dos portugueses às suas raízes,
em uma espécie de retorno simbólico ao pais", observa o presidente da
FIMM.
O mito da volta
Mesmo a milhares de quilômetros de distância, esse apego às raízes é muito
forte e numerosos expatriados portugueses cultivam, de longa data, o sonho de
regressar à terra natal.
São os homens principalmente que nutrem as saudades de casa. As mulheres, de
fato, afirma Cunha, freqüentemente não querem voltar, da mesma forma que os
jovens da segunda geração.
O sonho da volta é, de qualquer maneira, neste momento, algo para deixar
engavetado. Portugal está, de fato, atravessando uma profunda crise econômica e
os novos que chegam superam os que regressam.
Esses dados são revelados pela Secretaria Federal das Migrações: depois dos
imigrantes de nacionalidade alemã, os cidadãos portugueses registraram, em
2004, notável aumento, com quase 10 mil novos imigrantes chegados à Suíça.
É isto para a alegria de Fernando Martins, que poderá, assim, aumentar o número
de mesas de seu restaurante.
swissinfo, Luigi Jorio
Tradução de J.Gabriel Barbosa
Swiss Info.Ch, aqui.