Correio: Considera importante as crianças portuguesas residentes no
estrangeiro terem acesso à aprendizagem da língua portuguesa?
Ana
Costa: É claro que sim. É um direito que se encontra consagrado na Constituição
Portuguesa. Os meus pais foram emigrantes e na altura não existia o ensino do
português na Alemanha. Pretendo, por isso, dar o meu contributo aos filhos dos
emigrantes.
C.: Com quantos alunos conta o ensino do português no
Luxemburgo?
A.C.: Cerca de 5.000 alunos. Mas o Luxemburgo é
particular porque há bastante ensino integrado, o que nos cria também algumas
dificuldades porque temos de seguir o projecto que o Ministério da Educação
luxemburguês criou. Existe uma diferença entre o ensino integrado e o paralelo.
No integrado ensina-se história, geografia ou ciências da natureza, mas em
língua portuguesa. Enquanto os outros alunos têm essa disciplina em alemão ou em
francês, os nossos alunos têm essa disciplina na língua materna. Só o ensino
paralelo é que funciona como uma formação em língua e cultura
portuguesa.
C.: Qual dos dois sistemas revela melhores
resultados?
A. C.: Depende. O ensino integrado só funciona no
primeiro ciclo. Mas, no ensino integrado está-se a notar uma diminuição dos
alunos porque, como eles têm dificuldades em alemão e em francês, há pais que
acham melhor tirá-los das aulas de língua portuguesa. Têm medo que eles fiquem
retidos. Nós não temos essa visão. As pessoas em idades inferiores conseguem
aprender várias línguas ao mesmo tempo. O ensino paralelo funciona em horário
pós-escolar.
C.: Quais as maiores lacunas que encontra no sistema de
ensino do português no Luxemburgo?
A.C.: Sentimos algumas
dificuldades, nomeadamente na elaboração dos horários da rede escolar. Temos
dificuldades em coordenadar os horários dos nossos professores do integrado
porque tem estado ao critério dos professores luxemburgueses fazerem-nos. A
coordenação de ensino está a realizar contactos para que os professores
portugueses sejam integrados na laboração desses horários. No ensino integrado
também há professores a trabalharem em vários locais muito distanciados.
Portanto, isto é outro problema. Também algumas salas e horários não são
adequados.
C.: O Estado português tem interesse em dar continuidade
ao ensino do português no estrangeiro?
A.C.: Obviamente que o estado
português tem interesse.
C.: Mas o estado português sofre pressões
nesse sentido...
A.C.: É claro que sofre, mas obviamente que isso
não passa pela "cabeça", digamos, das pessoas responsáveis pelo Ministério da
Educação acabar com o ensino do português no estrangeiro porque se trata da
divulgação da nossa língua e cultura e da integração. O ensino do português faz
a ponte entre os nossos alunos e a nossa comunidade com a comunidade do país de
acolhimento. O que acontece é que por vezes as pessoas não têm as condições
necessárias para trabalhar. Mas isso tem a ver com os acordos concluídos entre
Portugal e os países onde existe o ensino do português. Isto implica uma despesa
enorme para o Estado português, é claro. Mas está fora de questão terminar com o
ensino do português no estrangeiro. Isso seria o caos!
C.: Como
descreve a comunidade portuguesa no Luxemburgo?
A.C.: Parece-me
bastante diversificada. Quer-me parecer que é bastante jovem, ao contrário de
outros países, e bastante activa. Eu já estive noutros países e nunca vi tantos
restaurantes, tantas organizações portuguesas como aqui.
C.: Existe a
colaboração por parte das autoridades luxemburguesas no ensino do
português?
A.C.: Temos feito variadíssimas actividades e eles têm
sido bastante receptivos ao diálogo. Já tive várias reuniões com o Ministério da
Educação, nomeadamente com o serviço de alunos estrangeiros e emigração. Também
já tive a oportunidade de falar com a ministra da Educação e parece-me ser uma
pessoa bastante acessível, simpática e que quer colaborar connosco. Eu não tenho
qualquer queixa, à parte de algumas pequenas divergências com um ou outro
burgomestre, mas nada de especial.
C.: Quais as mais-valias para os
luso-descedentes que inserem os cursos de português?
A.C.: Em
primeiro lugar, eu costumo dizer que nós somos aquilo que é a nossa língua, o
nosso país. Como dizia Virgílio Ferreira: "Com a minha língua vejo o mar".
Obviamente que são jovens, alguns já nasceram cá, já têm bastante influência do
país e estão integrados, outros não. Entendo que há toda a vantagem, não só em
aprender português mas qualquer língua. Mesmo se para alguns o português já não
é a sua língua materna, é a língua dos pais, do seu país, da sua cultura. Por
exemplo, se eles quiserem prosseguir estudos em Portugal, eles terão
obrigatoriamente de (e alguns esquecem-se disto) saber o português. O acesso ao
ensino superior tem um contingente ao qual podem concorrer os luso-descendentes,
mas os exames decorrem em língua portuguesa.
C.: Os portugueses que
prosseguem os seus estudos a nível superior optam mais pelas universidades
francesas ou belgas, em detrimento das portuguesas. Pensa que isto se possa
relacionar com problemas linguísticos ou por falta de
informação?
A.C.: Certamente que falta de informação não é porque
estamos sempre presentes na feira do estudante para esclarecer os alunos sobre o
acesso ao ensino superior. Também estamos sempre disponíveis para encaminhar os
alunos. Acontece que a maioria dos alunos não frequenta o ensino do português e
neste caso a língua poderá ser um entrave. Outra hipótese pode ser a questão de
proximidade. De viverem aqui e não pensarem em regressar a
Portugal..
Coordenação do Serviço de Ensino no Luxemburgo (24, rue Guillaume
Schneider/ L-2522 Luxembourg); Tel.: 452403 / Horário: De segunda a sexta-feira
entre as 9h e as 13h e entre as 14h e as 17h.
Correio, aqui.