Em Outubro de 2009, o Governo iniciou a discussão sobre «O
que é ser francês?», tendo sido considerado na altura "importante" por 53 por
cento dos franceses interrogados. Mas numa sondagem recente, feita pela
Obea-InfraForeces para vários meios de comunicação daquele país, mais de 60 por
cento dos nacionais inquiridos considerou que o debate sobre a identidade
nacional "não é construtivo" e 53 por cento pensa que tudo não passa de
uma manobra eleitoral por parte do partido de direita UMP, no poder.
Paulo Marques, presidente da CIVICA, concorda que o debate "não é de todo
consensual" na sociedade francesa e no seio da própria associação que
lidera, mas acredita que o "tem de ser realizado". "A realização
deste debate faz todo o sentido. Vai permitir que os franceses de segunda ou
terceira geração contribuam com as suas diversas realidades e especificidades
para a discussão" sobre o que significa ser francês, afirmou à Agência
Lusa.
O responsável da CIVICA considera ainda que vai permitir aos luso-descendentes
apresentar a sua realidade e especificidade enquanto nacionais daquele país.
Apesar de a "especificidade dos filhos de portugueses ser já reconhecida
em França" e os luso-descendentes estarem "plenamente inseridos na
sociedade francesa", Paulo Marques salienta a importância da contribuição
de todos. "Quisemos aparecer neste debate por seremos também uma minoria
real e de intervenção em Franca, para podermos divulgar a nossa realidade e o
nosso contributo para entidade francesa", disse à Lusa.
Nesse sentido, Paulo Marques explica que a Associação a que preside e os mais
de 3.500 autarcas de origem portuguesa associados, participaram em diversos
debates públicos sobre o tema - organizados nos 96 distritos franceses - para
"darem voz a realidade portuguesa em França" e mostrar às pessoas que
"não há incompatibilidade entre ser francês e ao mesmo tempo português.
Para o embaixador Seixas da Costa quaisquer que sejam os efeitos do debate
sobre a identidade nacional em França "não terão um impacto na situação
específica" da comunidade portuguesa ali residente. "As razões pelas
quais esta discussão tem lugar situam-se muito longe do modelo de integração
que acabou por ser seguido pelos portugueses que permaneceram em França e que,
muito consensualmente, representa aqui um indiscutível sucesso", afirmou o
diplomata à Agência Lusa.
Seixas da Costa defende que os portugueses e luso-descendentes em França não
têm que se preocupar com o debate mas não comenta se concorda com a sua
realização, lembrando que como representante diplomático estrangeiro não se
pronuncia sobre linhas de orientação política interna francesa.
"Apenas o faria, se sentisse que a comunidade de origem portuguesa poderia
vir a ser afectada. Ora, como antes disse, não se me afigura ser esse o
caso", sublinha.
O embaixador de Portugal em França acredita entretanto que os portugueses e
luso-descendentes que tenham nacionalidade francesa e queiram participar no
debate "poderão trazer a terreiro essa magnífica aventura que tem sido a sua
integração em França".
Uma integração que, segundo diplomata, foi "facilitada pela sua seriedade,
pelo seu esforço e pelo seu trabalho", mas igualmente "pelo
reconhecimento, por parte da Franca, do contributo honrado que os portugueses
deram a este país e de que as novas gerações luso-descendentes são hoje o
espelho".
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