Em declarações à rádio TSF, Manuel Beja, afirmou que a
situação actual só é comparável ao aumento da emigração registado na década de
1960, sublinhando que, ao contrário do que aconteceu há 50 anos, agora são os
mais preparados que estão a abandonar o país. "O fenómeno dos quadros, com a
intensidade com que se está a desenvolver, é algo único nesta fase de saída de
portugueses para a emigração. Há muitas organizações não-governamentais que
indicam que Portugal nunca traçou uma fase de tão elevado número de saídas.
Esta fase é em tudo semelhante aos finais da década de 1960, a época da chamada «mala
de cartão». São desempregados que têm esperança de encontrar um posto de
trabalho noutros países, sendo muitos deles quadros técnicos e científicos",
explicou o conselheiro das comunidades.
Manuel Beja diz que os destinos de emigração também mudaram, notando-se um
acréscimo nas viagens para a Ásia e o norte de África. "Temos experiências
obtidas junto de emigrações sobretudo no norte de África, como no Dubai, na
Argélia, novos destinos de emigração. Em Angola, por exemplo, há 100 mil novos
emigrantes que foram para lá trabalhar. Há um aumento das saídas do país, muito
provocado pelo desemprego, o que quer dizer que algo vai mal", alertou.
Menos 200 mil em alguns países
Afirmações contestadas por Paulo Pisco. Num comunicado enviado a O
Emigrante/Mundo Português, o deputado do PS eleito pelos círculos da Emigração,
afirma que "ao contrário" das declarações proferidas por Manuel Beja, "não há
qualquer aumento da emigração portuguesa em termos globais". Para o parlamentar
socialista, apenas há a registar que entre 2005 e 2008 "houve cerca de 575.000
portugueses que decidiram deixar seis países onde estavam a viver, contra cerca
de 360.500 que optaram por sair de Portugal para se instalarem em 13 países,
entre aqueles que actualmente estão entre os mais representativos dos fluxos
migratórios portugueses".
Paulo Pisco acrescenta que uma análise aos dados do Observatório da Emigração,
sobre 19 países "que podem ser considerados dos mais representativos" em termos
de emigração portuguesa, revela "um recuo na presença portuguesa em diversos
países superior a 200 mil cidadãos, que, em alguns casos, poderão até ter ido
para outros países sem regressarem a Portugal".
Como exemplo, baseando-se nos dados do Observatório da Emigração relativamente
aos fluxos migratórios entre 2005 e 2008, refere ter havido "uma diminuição em
termos globais da presença de portugueses em França (menos 224.000), Venezuela
(menos 133.000), África do Sul (menos 100.000), Macau (menos 18.000), Alemanha
(menos 2.000) e Bélgica (menos 500)".
"Em contrapartida, verificou-se um aumento da presença de portugueses no Reino
Unido (100.000), Estados Unidos (90.000), Canadá (53.000), Espanha (49.000),
Suíça (30.000),Luxemburgo (11.000), Holanda (1.200), Andorra (1.800). Há também
um aumento do número de portugueses em países africanos de expressão portuguesa
como Angola (mais 15.000), Moçambique (5.300), Cabo Verde (1.500), S. Tomé e
Príncipe 1.600) e Guiné-Bissau (1.100)". Perante os dados, o parlamentar
socialista conclui que o saldo entre as saídas dos países de acolhimento e as
de Portugal "revelam a existência de menos 215.000 portugueses a viver no
estrangeiro". Paulo Pisco afirma ainda no comunicado que a opinião apresentada
pelo conselheiro Manuel Beja é "inconsistente e sem rigor" porque "não é sustentada
em dados objectivos".
Mais e «diferentes» emigrantes
Mas num encontro realizado entre 8 e 10 de Fevereiro em Londres, responsáveis
da Pastoral das Comunidades de Língua Portuguesa da Europa, afirmaram que saem
anualmente do país entre 90 a
100 mil portugueses. São "muitos portugueses" que emigram "pela primeira vez"
particularmente "para o Reino Unido, Suíça, França e Luxemburgo", revelam nas
conclusões do encontro. No mesmo documento, depois de analisarem a realidade da
emigração actual e a situação concreta em cada país, os sacerdotes acrescentam
que a nova emigração é diferente da do passado e constituída "essencialmente"
por jovens "com formação académica, técnica e profissional", muitos dos quais
"levam consigo todo o agregado familiar, com filhos muito pequenos, em idade
escolar".
No encontro esteve presente o director da Obra Católica Portuguesa de
Migrações, Fr. Francisco Sales Diniz, e delegados do Reino Unido, Alemanha,
França, Suíça, Luxemburgo, Bélgica e Holanda. A reunião foi dirigida pelo
presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, D. António Vitalino
Dantas, e contou com a visita de D. Patrick Lynch, Bispo auxiliar de Southwark,
entre outros responsáveis religiosos e civis. A próxima assembleia vai
realizar-se de 21 a
24 de Fevereiro de 2011, na cidade alemã de Friburgo.
A.G.P.
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