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Conselheiro das Comunidades diz que saídas do país são comparáveis à década de 1960
2010-02-17
Estimativas reveladas pela Pastoral das Comunidades de Língua Portuguesa da Europa, organismo da Obra Católica Migrações, indicam que saem anualmente do país entre 90 a 100 mil portugueses. Têm como principais destinos o Reino Unido, Suíça, França e Luxemburgo. O diagnóstico sublinha que a nova vaga de emigração portuguesa é protagonizada por jovens com formação académica, técnica e profissional, diferente das que ocorreram nos anos 60 e 70 do século passado. Uma informação que encontra eco nas palavras de Manuel Beja, conselheiro e presidente da Comissão Especializada de Fluxos Migratórios do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que afirma serem sobretudo jovens quadros técnicos, os portugueses que têm vindo a abandonar o país. O conselheiro vai mais longe e diz que a situação actual só é comparável ao aumento da emigração registado na década de 1960. Uma afirmação contestada pelo deputado socialista Paulo Pisco, que afirma não haver qualquer aumento da emigração portuguesa em termos globais.

Em declarações à rádio TSF, Manuel Beja, afirmou que a situação actual só é comparável ao aumento da emigração registado na década de 1960, sublinhando que, ao contrário do que aconteceu há 50 anos, agora são os mais preparados que estão a abandonar o país. "O fenómeno dos quadros, com a intensidade com que se está a desenvolver, é algo único nesta fase de saída de portugueses para a emigração. Há muitas organizações não-governamentais que indicam que Portugal nunca traçou uma fase de tão elevado número de saídas. Esta fase é em tudo semelhante aos finais da década de 1960, a época da chamada «mala de cartão». São desempregados que têm esperança de encontrar um posto de trabalho noutros países, sendo muitos deles quadros técnicos e científicos", explicou o conselheiro das comunidades.
Manuel Beja diz que os destinos de emigração também mudaram, notando-se um acréscimo nas viagens para a Ásia e o norte de África. "Temos experiências obtidas junto de emigrações sobretudo no norte de África, como no Dubai, na Argélia, novos destinos de emigração. Em Angola, por exemplo, há 100 mil novos emigrantes que foram para lá trabalhar. Há um aumento das saídas do país, muito provocado pelo desemprego, o que quer dizer que algo vai mal", alertou.

Menos 200 mil em alguns países

 
Afirmações contestadas por Paulo Pisco. Num comunicado enviado a O Emigrante/Mundo Português, o deputado do PS eleito pelos círculos da Emigração, afirma que "ao contrário" das declarações proferidas por Manuel Beja, "não há qualquer aumento da emigração portuguesa em termos globais". Para o parlamentar socialista, apenas há a registar que entre 2005 e 2008 "houve cerca de 575.000 portugueses que decidiram deixar seis países onde estavam a viver, contra cerca de 360.500 que optaram por sair de Portugal para se instalarem em 13 países, entre aqueles que actualmente estão entre os mais representativos dos fluxos migratórios portugueses".
Paulo Pisco acrescenta que uma análise aos dados do Observatório da Emigração, sobre 19 países "que podem ser considerados dos mais representativos" em termos de emigração portuguesa, revela "um recuo na presença portuguesa em diversos países superior a 200 mil cidadãos, que, em alguns casos, poderão até ter ido para outros países sem regressarem a Portugal".
Como exemplo, baseando-se nos dados do Observatório da Emigração relativamente aos fluxos migratórios entre 2005 e 2008, refere ter havido "uma diminuição em termos globais da presença de portugueses em França (menos 224.000), Venezuela (menos 133.000), África do Sul (menos 100.000), Macau (menos 18.000), Alemanha (menos 2.000) e Bélgica (menos 500)".
"Em contrapartida, verificou-se um aumento da presença de portugueses no Reino Unido (100.000), Estados Unidos (90.000), Canadá (53.000), Espanha (49.000), Suíça (30.000),Luxemburgo (11.000), Holanda (1.200), Andorra (1.800). Há também um aumento do número de portugueses em países africanos de expressão portuguesa como Angola (mais 15.000), Moçambique (5.300), Cabo Verde (1.500), S. Tomé e Príncipe 1.600) e Guiné-Bissau (1.100)". Perante os dados, o parlamentar socialista conclui que o saldo entre as saídas dos países de acolhimento e as de Portugal "revelam a existência de menos 215.000 portugueses a viver no estrangeiro". Paulo Pisco afirma ainda no comunicado que a opinião apresentada pelo conselheiro Manuel Beja é "inconsistente e sem rigor" porque "não é sustentada em dados objectivos".

Mais e «diferentes» emigrantes


Mas num encontro realizado entre 8 e 10 de Fevereiro em Londres, responsáveis da Pastoral das Comunidades de Língua Portuguesa da Europa, afirmaram que saem anualmente do país entre 90 a 100 mil portugueses. São "muitos portugueses" que emigram "pela primeira vez" particularmente "para o Reino Unido, Suíça, França e Luxemburgo", revelam nas conclusões do encontro. No mesmo documento, depois de analisarem a realidade da emigração actual e a situação concreta em cada país, os sacerdotes acrescentam que a nova emigração é diferente da do passado e constituída "essencialmente" por jovens "com formação académica, técnica e profissional", muitos dos quais "levam consigo todo o agregado familiar, com filhos muito pequenos, em idade escolar".
No encontro esteve presente o director da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Fr. Francisco Sales Diniz, e delegados do Reino Unido, Alemanha, França, Suíça, Luxemburgo, Bélgica e Holanda. A reunião foi dirigida pelo presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, D. António Vitalino Dantas, e contou com a visita de D. Patrick Lynch, Bispo auxiliar de Southwark, entre outros responsáveis religiosos e civis. A próxima assembleia vai realizar-se de 21 a 24 de Fevereiro de 2011, na cidade alemã de Friburgo.
A.G.P.

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