O fundador e director do
Museu da Imigração, em
Lausanne (Suíça), o português Ernesto Ricou, garantiu hoje
que podia fazer dez vezes mais se beneficiasse de apoios oficiais.
"Recebemos cartas bonitas, parabéns e palmadas nas costas, mas não temos
apoios oficiais, nem suíços, nem portugueses", lamentou Ernesto Ricou, em
declarações à agência Lusa.
Por isso, "fazemos apenas um décimo do que seria possível", sublinhou
este artista plástico e professor de artes visuais em Lausane, de 61 anos.
O museu tem apenas cinco anos de existência, mas já foi reconhecido pelo
Conselho Internacional dos Museus e premiado pelo Fórum Europeu dos Museus.
Trata-se, na descrição do seu responsável, de um "museu laboratório",
que "nada tem a ver com um museu clássico" e que funciona num pequeno
imóvel, em "30
metros quadrados de humanidade".
Está vocacionado para a preservação da memória dos imigrantes, refugiados e
transnacionais, precisou Ernesto Ricou.
O director do museu disse ainda que "grande parte da população suíça
rendeu-se à evidência" e convive bem com a comunidade imigrante, "mas
outra parte continua a achar que o país vive uma invasão dos estrangeiros, o
que cria tensões".
Ora - observou o professor - o museu está "na encruzilhada dessas
tensões", procurando, por um lado, enfatizar as "coisas
maravilhosas" que a Suíça faz e, por outro, estimular a autoestima dos
estrangeiros.
Uma das duas exposições permanentes do museu relaciona-se com a obra do
escritor Charles Ferdinand Ramuz (1878-1947), "o Eça de Queirós
suíço", que, no seu romance A Beleza sobre a Terra, antecipava os
problemas que a Europa está a atravessar quanto ao racismo, à intolerância e à
xenofobia.
A mostra integra livros, documentos, fotografias, pinturas e desenhos
executados por alunos do colégio onde Ricou ensina há 21 anos.
Outra exposição permanente é a da mala do imigrante, um conjunto de artigos que
os estrangeiros radicados na confederação helvética confiaram ao museu.
São bens praticamente sem valor patrimonial, mas com grande valor sentimental,
como passaportes caducados ou o jornal da aldeia.
"Mala surge aqui num contexto absolutamente simbólico", explicou
Ernesto Ricou, numa alusão à mala de cartão da Linda de Suza, uma antiga
cançonetista imigrante portuguesa em França.
Os imigrantes que doam artigos pessoais a esta secção do museu são convidados a
entregarem também a sua biografia com vista à sua futura introdução num banco
de dados.
Sempre que quiserem, têm as portas abertas para promoverem conferências ou,
simplesmente, contarem o seu próprio percurso migratório.
A condição é que, no final dessa acção promovam uma refeição típica do seu país
Em paralelo, o museu tem em funcionamento um atelier pedagógico para crianças
sobre (des)enraizamento cultural dos imigrantes.
No âmbito das iniciativas temporárias, o Museu da Imigração em Lausanne está
agora a promover uma exposição e um ciclo de conferências sobre o Sri Lanka e a
Albânia, duas das comunidades mais modestas radicadas na Suíça.
Um terço dos sete milhões de habitantes da Suíça são estrangeiros e maior
comunidade imigrante é a portuguesa, com cerca de 300 mil pessoas.
É um nível de imigração "tão alto" como o da década de 60 do século
passado, assinalou Ernesto Ricou.
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