Os brasileiros têm uma imagem 'distorcida' em relação aos
portugueses, disse à Lusa o ex-presidente mundial do Conselho das Comunidades
Portuguesas.
'Estamos numa fase em que Portugal e o Brasil estão a reconhecer-se
mutuamente', afirmou Eduardo Neves que vive no Rio de Janeiro há quase seis
décadas.
Nascido na cidade do Porto e a viver no Brasil desde os sete anos, Eduardo
Neves conhece bem a realidade brasileira tendo sido funcionário público no país
até se reformar e deputado no parlamento português pela emigração.
Com culturas próximas, existe ainda um imaginário cristalizado 'tradicional e
histórico' do que é Portugal, analisa Neves, em vésperas da
Cimeira Luso-Brasileira, que juntará quarta feira em Lisboa
os chefes de governo brasileiro, Lula da Silva, e português, José Sócrates.
'Há uma falta de conhecimento mútuo tanto na comunidade brasileira como em
Portugal, que ignora o que partilha de experiências vindas do Brasil',
considera.
O auge da imigração portuguesa no Brasil, no século XX, ocorreu nas décadas de
50 e 60, quando 20 por cento da população carioca era composta por portugueses.
Esta imigração era proveniente do interior de Portugal, de trabalhadores da
lavoura com baixo poder de compra e elevado analfabetismo.
'Houve um período que os portugueses passaram a ser alvo de chacota, anedota.
Eram pessoas que cometiam 'gaffes' com despropósito e acabavam sendo gozados
pelos cariocas e até pelos portugueses com mais instrução', recorda.
Hoje, os meios de comunicação passaram a transmitir programas e minisséries que
'acabaram por trazer uma imagem nova reformulando a realidade portuguesa',
refere Neves.
A facilidade de aproximação física entre os dois países com dezenas de voos por
semana para Portugal contribui para 'aproximar a divulgação cultural',
acrescenta.
Entretanto, a unificação da ortografia gerou uma 'curiosidade maior e o
interesse aumentou', disse à Lusa a produtora cultural e criadora do Festival
de Teatro da Língua Portuguesa (Festlip), Tânia Pires.
'Já existe uma proximidade e uma curiosidade muito grande (entre os dois
países) e isso já abre o leque para a cultura portuguesa no Brasil', embora o
intercâmbio ainda seja 'muito modesto'.
Segundo Pires, na área cultural há um distanciamento e um desequilíbrio. 'Hoje
o teatro e a cultura brasileira estão com mais abertura em Portugal do que a
cultura portuguesa no Brasil'.
A produtora brasileira esteve seis vezes em Portugal para promover intercâmbios
e oficinas de teatro e fala da sua experiência com os artistas portugueses.
'Fui surpreendida pelo interesse grande dos portugueses em relação ao teatro
brasileiro. Mas existe um pensamento dos atores portugueses em relação aos
brasileiros como mais atrasados e o brasileiro também tem a mesma impressão do
teatro português'.
Para Tânia Pires, assim como Eduardo Neves, já existe um movimento na busca por
um conhecimento, apesar dos desequilíbrios nas relações sociais ainda serem
evidentes em ambos os países.