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10 de Junho – Lançamento do livro: "De pai para filho - Imigrantes portugueses no Rio de Janeiro", de Sílvio Rabaça
2010-06-07
O Rio é uma "casa portuguesa". Cidade abriga o maior contingente de imigrantes do País: são 510 mil, oriundos da metrópole europeia. Livro mostra influência desses estrangeiros no comércio, na indústria, na luta contra preconceito racial e até na festa de Carnaval

POR MARIA LUISA BARROS

Rio - Cariocas, mas de alma portuguesa, com certeza. A chegada de 1,8 milhão de portugueses em cinco séculos de imigração marcou hábitos e costumes da sociedade e provocou profundas transformações no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro, a primeira opção dos patrícios que desembarcavam nos portos brasileiros. Atualmente, vivem no país 510 mil portugueses - 82 mil só no Estado do Rio. É o maior grupo de imigrantes no País, seguido por japoneses e italianos.

A saga dos lusitanos está contada no livro ‘De pai para filho - Imigrantes portugueses no Rio de Janeiro' -, que será lançado quinta-feira, Dia Nacional de Portugal, no Palácio São Clemente, em Botafogo. A publicação é a primeira de uma série sobre imigração, que terá ‘Árabes no Rio de Janeiro' e ‘Judeus Cariocas'. O livro custará R$ 85 nas livrarias.

A maior presença das comunidades portuguesas se deu no comércio e na indústria - de simples caixeiros viajantes a donos de grandes redes de supermercados. Trouxeram os açougues, as padarias, as fábricas, os cafés que deram origem aos botequins e até o tradicional biscoito Globo. Em 1856, havia cerca de 20 mil estabelecimentos comerciais no Rio. Nesses, para cada três brasileiros, eram dois portugueses. Esses abriram negócios que atravessaram o século, como a Confeitaria Colombo, Casas Turuna, Angu do Gomes, Casa Cruz, Lidador e Casa Granado. 

Para um dos autores do livro, Silvio Roberto Rabaça, a herança carioca deve muito ao imigrante, que no imaginário popular virou figura caricata como o português da padaria. "É um preconceito oriundo da colonização. O Rio é uma cidade portuguesa, mas os cariocas não avaliam a importância do imigrante português para o desenvolvimento do País", reconhece Silvio Rabaça. 

Os portugueses marcaram presença no esporte, com a fundação do Clube de Regatas Vasco da Gama, o primeiro a aceitar jogadores negros em seus quadros. E foram protagonistas das mudanças no cenário cultural, com a publicação de jornais, revistas como ‘O Cruzeiro', e criação de companhias teatrais e de programas de rádio com sua maior estrela, a portuguesa Carmen Miranda.

Irmandades e festas sacras

Uma das maiores contribuições portuguesas no Rio de Janeiro foi a criação das irmandades, confrarias e ordens terceiras, como as do Carmo e de São Francisco, que fundaram os primeiros hospitais na cidade, muito antes da criação dos institutos de previdência. "Eles já pensavam longe e se uniam para poder se amparar", explica Silvio Rabaça. A Santa Casa, no Morro do Castelo, assistia órfãos, escravos, doentes mentais e presos. Com o dinheiro de heranças, construíram igrejas e conventos de onde se surgiram as festas religiosas.

CURIOSIDADES

SAMBA DA MANGUEIRA
O nome da agremiação tem origem na primeira estação de trem da Central do Brasil em frente à fábrica de chapéus Mangueira, do português José Luiz Fernandes Braga. O próprio Carnaval carioca tem em uma de suas origens o bloco português do Zé Pereira.

FAZER UMA VAQUINHA
A expressão nasceu na torcida vascaína, que patrocinava os jogadores, numa época em que o futebol era amador e os atletas não recebiam salário. Em troca, os torcedores concorriam a prêmios associados aos números do jogo do bicho. O maior valor - 25 mil réis - correspondia ao da vaca.

AS CALÇADAS DE COPA
As pedras portuguesas em forma de ondas no calçadão de Copa se tornaram um dos cartões-postais mais famosos do mundo. O desenho ondulado criado em Lisboa, no século 19, e ampliado pelo paisagista Roberto Burle Marx é considerado o maior mosaico do mundo.

QUILOMBO LEBLOND
O português José de Seixas Magalhães era dono de uma chácara onde hoje é o Alto Leblon. Lá ele cultivava camélias com a auxílio de escravos fugidos, a quem dava abrigo. Um dos vizinhos era o francês Charles "Le Blond" (o loiro), cujo nome deu origem ao Leblon. A camélia virou símbolo da campanha abolicionista e era usada na lapela de seus simpatizantes.

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