Reunidos em Lourdes, França, na Festa de Pentecostes, os portugueses emigrados mataram saudades e "revimos os nossos conterrâneos" - disse à Agência ECCLESIA a emigrante Marília Antunes.
Portugal "está esgotado", por isso "tive de vir ganhar a vida para França" - realçou.
Nas palavras de saudação, D. Januário Torgal Ferreira elogiou a "competência profissional, critérios de partilha e solicitude" dos emigrantes. E acrescenta: "vós fizestes de Portugal um país honrado e respeitado".
A Igreja portuguesa "não esquece os seus emigrantes". Portugal deu ao mundo novos mundos e, actualmente, "temos cerca de 5 milhões de emigrantes a residir nos vários pontos do globo" - referiu o bispo das Forças Armadas e de Segurança.
A respeito do Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, a Agência ECCLESIA ouviu alguns emigrantes a residir em França. Gaspar Silva trabalha num hotel em Lourdes, muito próximo do santuário mariano.
Vive há cerca de 20 anos naquele país e nota diferenças substanciais nos emigrantes de outrora e de hoje. "Antigamente trabalhava-se com mais ambição, a nova geração trabalha hoje e gasta amanhã" - frisou.
Natural das terras de Bragança, Gaspar Silva casou-se em França com uma portuguesa. "Tenho duas filhas e casa própria".
Lourdes está situada no sopé da cordilheira dos Pirenéus. A 11 de Fevereiro de 1858, Nossa Senhora aparece pela primeira vez à jovem Bernadette, na gruta de Massabielle, junto às margens do Rio Gave.
Com várias dezenas de hotéis, esta localidade é um "grande centro de peregrinações" - realçou Gaspar Silva. Os hotéis "não trabalham todo o ano", quando "chega o período da neve, as pessoas ficam alojadas na montanha".
No passado mês de Maio, de 20 a 25, este santuário recebeu a Peregrinação Militar Internacional. "É uma das maiores peregrinações de Lourdes" - disse Gaspar Silva. E acrescenta: "para os portugueses que trabalham aqui é uma alegria porque ouvimos falar a nossa língua".
É frequente ouvir palavras lusas nos muitos estabelecimentos que circundam o Santuário de Lourdes. Deolinda Vieira é natural da zona de Viseu e trabalha há dois anos num café daquela localidade francesa. Ao aperceber-se que estava no meio de portugueses solta uma frase: "É um cafezinho ou uma imperial?" - questionou. Antes de receber a resposta explicou: "a bebida dos portugueses é sempre a mesma".
Esta jovem viseense tem o 12.º ano de escolaridade, mas "o nosso país não lhe oferecia nada de atraente". "Aqui ganho três vezes mais e não trabalho tantas horas" - confidenciou. No entanto esclarece que o dinheiro não é tudo e sente saudades de Portugal. "Não perdi a esperança de voltar porque os meus amigos e familiares está lá" - disse Deolinda.
Presente com cerca de 600 peregrinos, a delegação portuguesa foi muita aplaudida. Ouvia-se com frequência: "Viva Portugal". Uma portuguesa que trabalha numa loja de objectos religiosos relatou à agência ECCLESIA que fica "sempre emocionada quando vejo um grupo de portugueses". Entrou no estabelecimento e foi buscar a bandeira das quinas. "Vivo em Lourdes, mas não esqueço a minha pátria" - esclareceu. E avança: "o meu coração está em Portugal"
Em Lourdes estão radicados cerca 1500 portugueses. Gaspar Silva descreveu que a existência de muitas pessoas da região de Bragança nesta localidade francesa deve-se "à madrinha dos portugueses". "A «madame» Pires ajudou-nos muito" - disse.
Para combater o saudosismo, Gaspar Silva vê a televisão portuguesa e utiliza a internet. "Temos poucos clientes portugueses, todavia quando oiço falar a nossa língua coloco o francês de lado".
Com o santuário «a meia dúzia de metros», este emigrante costuma visitar "Nossa Senhora de Lourdes e colocar uma vela para Lhe agradecer a saúde e a existência de trabalho". Gaspar Silva já esteve no santuário de Fátima e confessa que "a nível religioso sente-se mais Fátima do que Lourdes". E acrescenta: "sente-se mais a religião em Portugal".
Andorra
Do outro lado dos Pirenéus, Andorra também acolhe alguns milhares de portugueses. Estabelecimentos comerciais, construção civil e hotelaria são as áreas laborais dos emigrantes lusos. A celebração na Igreja de Santo Estêvão foi em língua portuguesa. "Soubemos que estavam cá peregrinos portugueses e viemos desenferrujar a nossa língua" - disse à Agência ECCLESIA Mário Pereira. "Nem sabem o prazer que temos ao ver gente nossa" - completou a esposa.
Natural da região minhota, Mário Pereira tem uma oficina de automóveis. "Aqui trabalhamos, mas vimos alguma coisa no bolso" - disse.
Daniel e Patrícia são dois jovens. Ele de Braga e ela de Guimarães. Daniel trabalha com os pais num dos muitos hotéis de Andorra-a-Velha. "Como estão lá as coisas? A visita do Papa foi muito falada aqui" - salientou Daniel.
A Patrícia trabalha numa perfumaria. "Senti que era português" - disse. Depois de aconselhar um produto cosmético confessou a sua intuição: "Somos diferentes dos outros povos". Sente saudades de Portugal, mas "o estômago precisa de comer todos os dias".
São emigrantes que vivem nos quatro cantos do mundo, mas "o nosso coração é sempre português" - conclui Patrícia.
Agência Ecclesia, aqui.