Início / Recursos / Recortes de imprensa / 2010
França: Autarcas luso-franceses estiveram em Portugal para estreitar ligações
2010-06-07
Os autarcas franceses de origem portuguesa têm um papel a representar no aprofundamento da relação entre os municípios franceses para os quais foram eleitos e as autoridades portuguesas. Uma relação que deverá privilegiar os contactos a nível de poder autárquico, principalmente entre os municípios dos dois países que tenham assinado acordos de geminação. Esta foi uma das mensagens deixadas por uma delegação de luso-eleitos de França que esteve em Portugal entre 31 de Maio e 3 de Junho. A viagem teve como principal objectivo, encontrar formas de desenvolver acções de promoção turística e cultural de Portugal nas cidades onde estes autarcas, maioritariamente luso-descendentes, exercem a sua actividade política. Mas são os próprios autarcas a alertar para a necessidade de estreitar as ligações entre os dois países e melhorar a presença e a imagem de Portugal em França.

Mais de 30 autarcas franceses, alguns nascidos em Portugal, mas na sua maioria luso-descendentes, estiveram em Portugal entre 31 de Maio e 3 de Junho para cumprirem um programa de encontros com membros do Governo, deputados e responsáveis de organismos ligados ao turismo e à cultura em Lisboa e no Porto.
Os luso-eleitos foram recebidos em audiência pelo Presidente da República e mantiveram reuniões com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Amado, e os secretários de estado das Comunidades, António Braga, do Turismo, Bernardo Trindade, e da Cultura, Elísio Summavielle. Foram ainda recebidos pelo embaixador da França em Portugal, Denis Delbourg, num encontro centrado no tema dos laços entre os dois países e da promoção da língua francesa em Portugal.
A audiência com o Presidente da República foi o primeiro compromisso do programa da viagem. Os autarcas explicaram a Cavaco Silva que é preciso reforçaras relações entre as câmaras municipais francesas e as autoridades portuguesas - que consideram insuficientes. No final da audiência, em declarações à Lusa, Hermano Sanches Ruivo, conselheiro na câmara de Paris, e um dos organizadores da visita disse ser necessário haver "uma mensagem muito clara, de certa forma de uma aceitação da parte portuguesa em dizer se nós, cidades francesas, teremos uma resposta positiva das autoridades se quisermos ter uma participação portuguesa mais consistente".
O autarca acrescentou que há "o sentimento de que não tem sido assim até o momento" e sublinhou a necessidade "de melhorar esta presença de Portugal e estreitar estas ligações", principalmente com as câmaras para as quais forem eleitos luso-franceses.
Existem actualmente mais de três mil luso-eleitos em municípios franceses.

"Embaixadores" de Portugal nas câmaras

No dia 2 de Junho, os autarcas foram recebidos por deputados membros do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-França, criado em Maio último e presidido por Carlos Gonçalves. O deputado social-democrata eleito pelo círculo da Europa, referiu que o Grupo, constituído por dez parlamentares, pretende ajudar a "incrementar as relações entre Portugal e França". "Penso que do vosso lado os objectivos são os mesmos, portanto, temos aqui uma plataforma de entendimento que vai permitir trabalhar em conjunto", frisou Carlos Gonçalves, sublinhando que independentemente de serem todos eleitos franceses, e de na larga maioria serem também franceses, os autarcas que integram a delegação "têm também uma ligação a Portugal". "Pelas funções que exercem em França, no fundo representam também um pouco Portugal", acrescentou o parlamentar, para quem os cerca de 30 autarcas luso-franceses que vieram a Portugal são "os nossos «embaixadores» nas diferentes câmaras, em cidades com densidade populacional elevada, e com capacidade para implementar aquilo que chamamos a diplomacia autárquica".
Pedro Soares, do Bloco de Esquerda, destacou a presença na Assembleia da República, daquela delegação de eleitos franceses "com tanta ligação à comunidade portuguesa" e agradeceu o facto de falarem português e "manterem alguma relação com a cultura portuguesa".
Telmo Correia, deputado do CDS-PP e um dos vice-presidentes do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-França, afirmou que o conselho que Portugal e o Parlamento têm para dar aos luso-descendentes, particularmente àqueles que mantêm uma ligação a Portugal é "em primeiro lugar sejam bons franceses, porque, num conceito de boa cidadania que é tão caro à própria sociedade francesa, sendo bons cidadãos franceses, estão também a honrar as tradições dos portugueses".
Perante os autarcas, o deputado considerou ser um estímulo a participação destes na vida política, "enquanto cidadãos franceses", porque, acrescentou, "será um contributo não só para a valorização da própria comunidade (portuguesa em França), como também uma valorização da relação entre os dois países.
José Soeiro, destacou por sua vez, os inúmeros acordos de geminação assinados com municípios franceses e lembrou que "há uma proximidade muito profunda entre a França e Portugal", por diversas razões históricas. Por isso, afirmou, "há naturalmente hoje uma forte comunidade luso-descendente em França". Sobre o Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-França, frisou que, independentemente da cor partidária de cada um dos seus membros, tem como único objectivo "aprofundar as relações entre Portugal e França e contribuir para o aprofundamento dessas relações em todos os planos".

Relações devem passar pelas autarquias

Lembrando que luso-eleitos ali presentes eram representantes de cidades, algumas com uma grande população, "e que têm uma ligação concreta a Portugal, seja pelas geminações ou porque têm autarcas franceses de origem portuguesa, Hermano Sanches Ruivo sublinhou o apelo às raízes portuguesas para no âmbito da viagem "podermos trabalhar de uma forma muito concreta". "Essa é a principal mensagem que queremos deixar: se cada vez mais acreditarmos que as relações entre a França e Portugal se devem desenvolver, também acreditamos que vão passar essencialmente pelas cidades", destacou o conselheiro na câmara de Paris, que entretanto quis deixar presente o facto de serem todos cidadãos franceses. "Agora, temos muito empenho numa ligação forte com a comunidade portuguesa. Gostaríamos que estes contactos fossem muito mais regulares e de trabalhar muito directamente com o Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-França", acrescentou.
Entretanto, o autarca frisou que no âmbito das ligações entre França e Portugal, as imagens dos dois países têm que ser trabalhadas - "a de França em Portugal e a imagem que se tem de Portugal em França". "E nós temos claramente que trabalhar nesses dois eixos, na presença portuguesa em França, mas também na presença francesa em Portugal", disse ainda.
Uma opinião partilhada por Ana Maria Torres, autarca em Bordéus, que afirmou duvidar se "haverá realmente vontade de manter os laços com França", acrescentando que "há muita falta de informações (sobre Portugal)", naquele país. A autarca, que nasceu em Portugal, lamentou ainda o "isolamento que as comunidades (portuguesas) sentem em relação a Portugal". "O papel dos consulados não é exactamente aquele que deviria ser", acusou a autarca, sublinhando que exercem "basicamente" um papel "administrativo", não havendo "uma ligação próxima aos portugueses".
Luso-descendente, Nathalie de Oliveira destacou o número de luso-eleitos em França e referiu que o seu trabalho prova ainda a participação política e cívica dos portugueses nas cidades. Autarca em Metz, revelou que a primeira comunidade europeia naquela cidade "é a portuguesa" e defendeu que o trabalho para se mudar a imagem de Portugal em França "tem que ser feito em conjunto" com as autoridades portuguesas.
Uma imagem que Alda Pereira Lemaítre, presidente da Câmara de Noisy le Sec, lamenta ser ainda a de um Portugal de há 30 anos. "Parti para França aos três anos, mas sou muito ligada à cultura portuguesa e descobri um Portugal diferente", destacou a autarca, que afirmou ser necessário "encontrar uma forma de valorizar o Portugal de hoje, de mostrar que Portugal actual é diferente" de há 30 anos atrás.
Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org

Mundo Português, aqui.

Observatório da Emigração Centro de Investigação e Estudos de Sociologia
Instituto Universitário de Lisboa

Av. das Forças Armadas,
1649-026 Lisboa, Portugal

T. (+351) 210 464 322

F. (+351) 217 940 074

observatorioemigracao@iscte-iul.pt

Parceiros Apoios
ceg Logo IS logo_SOCIUS Logo_MNE Logo_Comunidades