Nicolas Schmit (na foto) reconhece que o Luxemburgo praticou
"uma política que não incentivou a integração". Esta afirmação foi
feita pelo ministro da Imigração, na semana passada, durante um colóquio
organizado pelo Institut Pierre Werner a propósito da "Europa e os seus
imigrantes" (no original "Regards partagés: l'Europe et ses
migrants").
O ministro sublinhou que a imigração só começou verdadeiramente a partir da
industrialização do país. Até à segunda guerra mundial, "o Luxemburgo não
se via como um país de imigração", porque se tratava sobretudo dum tipo de
imigração de trabalho, encarado numa perspectiva de retorno dos estrangeiros ao
seu país de origem. Não foram muitos, no entanto, os que voltaram ao seu país,
excepção feita aos italianos aquando da crise económica dos anos 1930.
Actualmente, o Luxemburgo conta com cerca de 44 % de estrangeiros. Mesmo entre
os 56 % luxemburgueses, alguns deles têm também um passado de imigração,
indicou Schmit.
O Grão-Ducado sofreu uma modificação da sua política aquando da entrada em
vigor dos tratados europeus que introduziram o princípio da livre circulação.
Ao trazer os portugueses para o país a partir dos anos 1960-70, o Luxemburgo
praticou uma política de "imigração escolhida", registou o ministro,
acrescentando que esta política de imigração foi durante muito tempo levada a
cabo sob o prisma do controlo policial.
Demarcando-se da visão um pouco idílica da integração harmoniosa dos imigrantes
de origem europeia no Luxemburgo, o ministro afirmou que a imigração se
diversificou com os imigrantes não comunitários, que agrupa em três categorias:
os cabo-verdianos, os imigrantes oriundos das Balcãs e os estrangeiros que
vieram no quadro da globalização do mercado de trabalho.
Na perspectiva do fotógrafo Paulo Lobo, que criou o blogue Terra de Vida, é
preciso "ir para além da imagem, do cliché". Este blogue destina-se a
mostrar as diferentes facetas da imigração no Luxemburgo. Segundo ele, a
mestiçagem é uma realidade que progride no Luxemburgo: representa "um
confronto e um diálogo entre as diferentes culturas".
Tendo vindo de Portugal aos sete anos com os pais, Paulo Lobo criou este blogue
porque sentiu a "necessidade de se compreender a si mesmo". Os
imigrantes "vêm porque procuram uma vida melhor", afirmou, insistindo
na importância de uma abordagem humanista sem a qual não é possível nenhum
diálogo.
Política de imigração luxemburguesa tem
margem de manobra muito limitada
O Estado luxemburguês, embora tenha sólidas raízes corporativistas, dispõe de
uma margem de manobra muito limitada em matéria de política de imigração, afirmou
Claudia Hartmann, investigadora do CEPS em Differdange, durante o colóquio
dedicado à imigração.
O Grão-Ducado detém o mercado de emprego mais regulado e ao mesmo tempo mais
transnacional de todos os estados da OCDE. Esta contradição aparente deriva do
facto de a aplicação dos tratados europeus que garante a livre circulação de
pessoas reduzir as possibilidades de intervenção nacional, de modo que a
política das autoridades luxemburguesas apenas tem impacto sobre a imigração
não comunitária, afirmou Claudia Hartmann. Ora a percentagem dos imigrantes não
comunitários no mercado de trabalho evoluiu ligeiramente nos últimos 20 anos,
passando de 2,2 % dos activos em 1990 para 2,9 % em 2008. Se excluirmos os
fronteiriços, a proporção é de 5,1 %. Muitas coisas mudaram desde a lei de 28
de Outubro de 1920, "destinada a controlar a afluência exagerada de
estrangeiros no território do Grão-Ducado". As necessidades de mão-de-obra
levaram o Governo, a partir de 1923,
a abrir uma excepção para as empregadas domésticas e
para os trabalhadores rurais. A partir de 1945, os tratados europeus iniciaram
a transnacionalização de direitos e de mobilidade das pessoas. Em 1972, uma lei
autorizou a livre circulação dos migrantes pertencentes à União Europeia.
Embora esta lei reconhecesse apenas uma só categoria de imigrantes não
comunitários, um regulamento grão-ducal de 1994 introduziu uma política
selectiva via salarial.
A lei da imigração de 2008 vem distinguir oito categorias de imigrantes não
comunitários, e o objectivo de governo era encorajar a vinda de imigrantes
altamente qualificados. A partir daí, num país cujo funcionamento é muito
corporativista, a elite económica é estrangeira, declarou Claudia Hartmann.
Embora com um mercado de trabalho fortemente regulado, o Estado luxemburguês só
tem impacto sobre 5 % dos activos, e 2 % são particularmente procurados por
serem altamente qualificados.
O sistema corporativista estende-se também ao sistema de segurança social, que
protege eficazmente aqueles que estão no interior do sistema mas torna muito
difícil o acesso aos outros, sublinhou Claudia Hartmann.
Cristina Campos
Foto: Guy Jallay
Jornal Contacto, aqui.