Milhares de emigrantes começaram a chegam às fronteiras para matar saudades da terra natal. A maioria partiu à procura das oportunidades que escasseavam em Portugal. Hoje, pelas mesmas razões, um largo número de portugueses engrossa a coluna dos que partem, cerca de 30 mil todos os anos, segundo dados do próprio Governo. A nova vaga tende a crescer, já que o desemprego não dá sinais de abrandar e a retoma económica tarda.
O fenómeno acentuou-se nos últimos dois, três anos, como
revelou ao CM o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário,
que admitiu ser sobretudo a falta de emprego que move: muitos jovens
licenciados em busca do primeiro emprego, pessoas de 40, 50 anos, que ficaram
desempregadas por algum motivo e procuram novas oportunidades...
Partem muitas vezes para fazer os mesmos trabalhos que aqui recusam, mas lá
fora são melhor pagos... Podem não voltar ricos, mas têm consciência da riqueza
que representam para o País. As divisas resultantes das remessas representam
hoje, em média, entre 3,4 e 3,7 mil milhões de euros, qualquer coisa como 700
milhões de contos. Trata-se da segunda maior fonte de divisas do País a seguir
ao turismo.
A nova emigração ruma sobretudo a outros países da UE, levada pelo sonho de uma
vida melhor, que não raro se transforma num verdadeiro pesadelo: o secretário
de Estado admitiu que há situações sociais gravíssimas vividas por compatriotas
nossos por essa Europa. E no meio das dificuldades o sentimento de desemparo é
enorme. Os emigrantes queixam-se de quase tudo: da burocracia para tirar um
passaporte, o bilhete de identidade, das pensões, do ensino dos filhos, que mal
falam o Português...
Apesar de tudo, a saída anual de milhares de portugueses prossegue, agora em
simultâneo com uma vaga precisamente em sentido contrário: a dos imigrantes que
vêem em Portugal um novo ‘Eldorado' e deitam mãos a tarefas que os nacionais
muitas vezes desprezam. O fenómeno é inédito: Portugal é, como referiu José
Cesário, talvez o único no mundo que simultaneamente é um País de emigrantes e
de imigrantes.
PORTUGAL SÓ DE FÉRIAS
"O IP5 já foi transformado em auto-estrada?". Esta foi uma das
frequentes perguntas que muitos emigrantes fizeram ontem à chegada à fronteira
de Vilar Formoso, na altura em que pisaram solo luso para mais um período de
gozo de férias. Depois de um ano ausentes, os emigrantes chegam a Portugal com
muitas saudades e sedentos de novidades. Apesar do amor à Pátria, quando são
questionados se desejam voltar de vez a Portugal, a resposta é quase
peremptória: "Não". A malfadada crise económica que atravessamos, o
aumento do desemprego, o atraso estrutural e os fracos ordenados, são
argumentos que levam a que estas pessoas não pensem voltar tão cedo ao País.
"Em Portugal só de férias", afirmou José da Silva, de 37 anos, que
ontem chegou de Paris.
"Se nos sentimos bem onde estamos, por que é que havemos de mudar?,
interroga-se Alexandre Pinto, de 48 anos, emigrante na Suíça. "Só para
gozar a reforma", concluiu.
REMESSAS ESTABILIZAM EM BAIXA
As remessas dos emigrantes continuam a ter um grande peso na economia nacional,
basta dizer que é a segunda maior fonte de divisas logo a seguir ao turismo.
Contudo, o valor total das transferências dos cerca de 4,5 milhões de
compatriotas que se encontram 123 países do Mundo têm vindo a baixar lentamente
ao longo da útima década, com tendência para estabilizar em valores da ordem
dos 3,5 mil milhões de euros (700 milhões de contos por ano).
Os dados do Banco de Portugal dos últimos três anos mostra-nos isso mesmo:
3.458,121 milhões de euros, em 2000; 3.736,820 milhões, em 2001, e 3.405,871
milhões, em 2002. O grosso das transferência continua a vir dos países
europeus, especialmente da França, Suíça, Alemanha, e Reino Unido.
Correio da Manhã, aqui.