Dulce Maria Scott é professora na Anderson University, Indiana,
USA, e investigadora no Institute for Portuguese and Lusophone World
Studies, Rhode Island University College.
Este seu texto inédito, que aqui se publica no Comunidades, não
só serve de preâmbulo ao conhecimento da pesquisa da Professora Scott,
como constitui a base para um estudo muito mais abrangente da sua
investigação. Neste estudo, já se apresenta uma interpretação de
resultados preliminares da sua pesquisa, a qual provém de uma reflexão
analítica sobre um inquérito online e entrevistas pessoais
levadas a cabo pela própria Professora Scott, tanto na
Califórnia como na Nova Inglaterra. Segundo estes resultados, a
maioria dos descendentes de imigrantes portugueses que até à data
participaram neste estudo, encontram-se bem integrados na sociedade
americana, mantendo-se, no entanto, ligados à sua etnicidade, cultura,
identidade luso-americana e a Portugal.
Cerca de 1.400 pessoas de vários estados americanos e de algumas províncias canadianas preencheram o questionário online,
o qual é dirigido a descendentes de portugueses nascidos/as nos Estados
Unidos e no Canadá, ou que emigraram para estes países antes dos 14
anos de idade.
A Professora Scott convida os descendentes de imigrantes portugueses a participarem no inquérito, através dos seguinteslinks:
** Para residentes dos Estados Unidos:http://PortugueseAmericans.questionpro.com
**Para residentes do Canada:http://questionpro.com/t/ADIuIZGVfP
Praz-nos informar de que futuros resultados da pesquisa da Professora Scott serão divulgados no Comunidades.
Irene Maria F. Blayer
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ESTUDO SOBRE A INTEGRAÇÃO DOS DESCENDENTES DE IMIGRANTES PORTUGUESES NA AMÉRICA
A minha pesquisa debruça-se sobre a problemática da integração dos descendentes de imigrantes portugueses na América. Alguns observadores têm afirmado que os luso-americanos não se encontram bem integrados na sociedade americana. Esta suposição tem sido baseada, nas seguintes observações, entre outras, sobre as características dos luso-americanos:
- O nível educacional dos luso-americanos, que, apesar de próximo das médias nacionais americanas, ainda se encontra num patamar inferior ao que tem sido atingido por outros grupos de imigrantes de origem europeia.
- O nível de concentração geográfica dos imigrantes portugueses e a tendência destes para se manterem separados como grupo étnico.
- A propensão dos imigrantes portugueses para reproduzirem e manterem a cultura e a identidade étnicas, e, consequentemente, de não se integrarem na cultura dominante da sociedade americana.
Baseada em alguns dos dados recolhidos através do inquéritoonline e
em entrevistas pessoais feitas no verão de 2010 na Califórnia e na Nova
Inglaterra--e em consonância com desenvolvimentos teóricos recentes--
apresento neste artigo uma nova perspectiva sobre estas afirmações,
demonstrando que muitos dos inquiridos, descendentes de imigrantes
portugueses, têm vivenciado uma trajectória de integração e de
mobilidade social ascendente bastante rápida. Também argumento que,
tanto a concentração geográfica como a manutenção da cultura étnica,
não impedem uma integração ascendente, não devendo, consequentemente,
ser consideradas, como frequentemente o têm sido, indicadores de um
baixo nível de integração dos luso-americanos na sociedade americana.
Em vez de se perguntar se estão bem integrados, a questão mais
apropriada a ponderar é a seguinte: como estão a integrar-se os
luso-americanos na sociedade americana? A trajectória de integração[1] dos
imigrantes portugueses e dos seus descendentes não tem sido atípica
para uma população de imigrantes laborais, que chegaram aos Estados
Unidos com níveis de educação e de habilitações profissionais e
técnicas baixas. Tendo em conta o ponto de partida, isto é, os níveis
baixos de capital individual das populações imigrantes portuguesas, o
progresso socioeconómico desta população tem decorrido com celeridade.
Devo de salientar que os dados, não sendo difluentes de uma amostra
representativa de toda a população luso-americana, só podem ser
aplicados aos inquiridos e entrevistados e não a todo o universo
populacional luso-americano. Por exemplo, é muito provável que o
inquérito online esteja a capturar segmentos da população
luso-americana com níveis educacionais e de rendimento mais elevados do
que a população luso-americana em geral.
INTEGRAÇÂO EDUCACIONAL E SOCIOECONÓMICA
A nível educacional, os resultados do inquérito online mostram,
em congruência com a realidade da imigração portuguesa, que na geração
dos pais o nível de educação era baixo, com mais de 60 por cento não
tendo completado o liceu e só 7 por cento tendo completado um
bacharelado. Em contrapartida, na geração dos filhos observa-se uma
subida de escolaridade rápida; cerca de 96 por cento dos inquiridos
tinham completado o liceu e mais de 41 por cento tinham atingido o grau
de bacharelado.
Mais de 63 por cento dos inquiridos indicaram
que o seu rendimento era superior ou muito superior ao dos pais. Apesar
dum patamar educacional menos elevado, dados censitários mostram que os
luso-americanos e os seus descendentes têm alcançado paridade com os
outros grupos ancestrais europeus nos vários indicadores de rendimento
médio e de taxas de pobreza.[2]
No inquérito online as
três ocupações predominantes dos pais dos inquiridos eram de trabalho
tipicamente manual, em fábricas, em construção e em agropecuária.
Similarmente, as mães, que trabalhavam fora de casa, encontravam-se
concentradas em ocupações fabris e em serviços de limpeza. Na geração
dos filhos, as três ocupações prevalecentes são profissões típicas da
classe média: funcionários, profissionais e outras ocupações ligadas à
educação a nível primário e secundário.
Os dados recolhidos sobre
os níveis de educação e de rendimento, assim como sobre as ocupações
desempenhadas pelos inquiridos e pelos seus pais, evidenciam uma subida
inter-geracional rápida, da classe operária na geração dos pais à
classe média na geração dos filhos.
[1] Para uma visão global das diferentes trajéctorias de integração identificadas por sociólogos americanos, ver, entre outros: Portes, A., P. Fernández-Kelly and W. Haller (2009), "The Adaptation of the Immigrant Second Generation in America: A Theoretical Overview and Recent Evidence," Journal of Ethnic and Migration Studies, 35(7), pp. 1077-1104; Waldinger, R. (2007), "Did Manufacturing Matter? The Experience of Yesterday's Second Generation: A Reassessment", International Migration Review, 41(1), pp. 3-39; Waldinger, R. e C. Feliciano (2004), "Will the new second generation experience 'downward assimilation'? Segmented assimilation re-assessed," Ethnic and Racial Studies, 27(3), pp. 376-402.
[2]Ver,
por exemplo, U.S. Census Bureau, Census 2000 Special Tabulations
(STP-159) e 2006 American Community Survey. Para uma análise de dados
censitários pertinentes aos luso-americanos, ver Scott, D. M. (2009).,
"Portuguese Americans' Acculturation, Socioeconomic Integration, and
Amalgamation: How far have they advanced?" Sociologia, Problemas e Prácticas, N. 61, pp.41-64. eScott, D. M. (2010) "A Integração dos Luso-Americanos Nos Estados Unidos: Uma Análise Comparativa," Boletim do Núcleo Cultural da Horta, pp. 327-353.
(cont...)
por: Irene Maria F. Blayer
RTP Açores, Comunidades, aqui.