por Francisco mangas
Os meus pais foram emigrantes e o 'Livro' trata da emigração.
Qual é o sentimento do autor ao ver o seu livro a ganhar corpo e a sair, completo, na máquina da gráfica?É o sentimento de quando se recebe o livro impresso, encadernado, pela primeira vez. Neste caso, este sentimento, que é sempre de realização ou de felicidade (se é que se pode utilizar a palavra), acaba por ser maximizado tendo em conta o processo e o esforço que para mim foi terminar um romance com este título tão ambicioso.
Por que razão escolheu o ambicioso título Livro para o romance? Existem várias explicações para o título. A que é mais fácil de dizer, e mais evidente, tem que ver com uma personagem, também narrador, que surge já no último quarto do romance, e que tem o nome próprio de Livro. Mas existem outros aspectos: um deles é ser um livro que atravessa todo o romance - e percorre todas as personagens.
É uma história de emigração. Sim. Trata bastante da emigração portuguesa para França. O primeiro capítulo começa em 1948, ainda no momento da infância daquela que vai ser uma das personagens principais, depois acompanha a vida dela e de outras personagens até aos nossos dias. E essa vida acaba por ser muito marcada pela emigração.
O José Luís Peixoto tem familiares emigrantes? Os meus pais foram emigrantes em França, nos anos sessenta. Eu nasci já em Portugal, depois de eles voltarem. As minhas irmãs mais velhas: uma delas nasceu em França, a outra foi para lá pequena e passou a infância. Sempre tive essa mitologia, não por a ter vivido mas por sempre me falarem da França como um lugar muito diferente, e que tinha o simbolismo grande de ser o antes de eu nascer.
Cinco leitores seus assistiram ao nascimento, na gráfica da Porto Editora, do seu novo romance. Escreve a pensar nos leitores? A ideia do leitor acaba por ser implícita. Não é exactamente escrever para os leitores (até porque os leitores são uma identidade vasta e abstracta), mas um texto faz-se para o humano. Ou para os outros. Os outros são pensados no momento da escrita. Se fosse só um processo que envolvesse unicamente a mim e aos meus critérios, de certeza que o resultado seria diferente. Por outro lado, não sei se teria a mesma vontade de o partilhar.
Conhecia algum destes leitores? Conhecia uma pessoa pela Internet, e outra já estive no mesmo lugar que ela, mas não a conhecia ainda pessoalmente. De alguma forma, já nos conhecíamos através da leitura: fiquei muito contente por ser acompanhado por pessoas que prezam os meus livros, num momento como este.
DN Artes, aqui.