Desempenhou um papel relevante na adesão de Portugal ao «Visa Waiver», o programa de isenção de vistos para entrada nos Estados Unidos. Mas a sua actuação estende-se ao apoio aos luso-descendentes, através de um programa de estágios criado em 1994, a acções que visam o estreitar dos laços entre Portugal e os Estados Unidos e à divulgação do talento português nos Estados Unidos, nomeadamente através da organização de uma Gala que promove o sucesso português ao premiar pessoas que se destacaram nas suas áreas de actuação, naquele país, como explicou, em entrevista ao Emigrante/Mundo Português, o presidente da PALCUS, Fernando Gonçalves Rosa.
O que é a PALCUS?
É uma organização luso-americana que quer de fazer a ponte entre Portugal e os Estados Unidos. É importante que haja acima de tudo uma valorização de Portugal, que tem muito a oferecer aos Estados Unidos, tem comunidades que contribuem imenso para o desenvolvimento daquele país, com profundas raízes e integradas. Tão integradas que às vezes na segunda e terceira gerações há já uma tendência de afastamento, algo que a PALCUS está a trabalhar para que não se prolongue. Trabalhamos para criar pontes ao nível dos dois países, ao nível das comunidades e dos luso-descendentes. Porque é importante saberem de onde vêm para saberem para onde vão.
Quais os problemas da comunidade portuguesa para os quais a organização alerta?
Uma das nossas «bandeiras» é a dos «Visa Waiver» (programa de isenção de vistos). É dos programas que mais beneficia os portugueses e a maior parte das pessoas não sabe como aconteceu.
Até 1999 Portugal não tinha sequer entrada no «Visa Waiver», por várias razões, e fazia parte dos chamados "países pobres", juntamente com a Grécia, Irlanda. Há um número que os países têm que alcançar e mantêr: menos de 3 por cento de não-regressos. Nós nunca chegávamos a esse patamar. As pessoas não se convenciam que se vão para os Estados Unidos como turistas, têm que regressar dentro do período estipulado. Chegavam e ficavam lá, e ao ficarem, violavam a lei. Levou muito tempo a convencer os responsáveis de que havia outras questões: as linhas aéreas não tirarem o formulário de regresso, indivíduos que vinham, por exemplo, de Cabo Verde, Moçambique, Macau com passaporte português e eram contabilizados como portugueses.
Em 1999, na sequência de contactos da PALCUS com um político luso-americano, o congressista Richard Pombo, ele aplicou uma emenda a uma das leis para que Portugal pudesse ser incluído no programa «Visa Waiver». O Richard Pombo era representante republicano do Estado da Califórnia, na Câmara dos Representantes.
Como a Câmara e o Senado não iriam rejeitar a lei, a emenda acabou por passar e Portugal «entrou» no «Visa Waiver». Portanto, a possibilidade dos portugueses poderem viajar para os Estados Unidos durante 60 dias, sem visto, é um exemplo daquilo que nós fazemos.
Portugal é «fiscalizado» de três em três anos, e apesar de ser mais difícil sair, o nosso objectivo é continuar os contactos no Congresso, nas embaixadas para «lembrá-los» que temos que manter este programa. Pelo trabalho que desenvolveu na questão do «Visa Waiver», há dois anos homenageamos o Richard Pombo com a entrega do Life Time Award, o maior galardão que a PALCUS atribui.
De entre os seus membros há representantes políticos?
Há três representantes políticos pela Califórnia - Devin Nunes, Jim Costa e Dennis Cardoza - que são membros da PALCUS. Sempre que há questões a nível político, contactamo-los para nos assessorarem. O nosso grande aliado nos Estados Unidos sempre foi o senador Ted Kennedy, era um grande amigo da comunidade. Alias, nós perdemos dois amigos, o Ted Kennedy, que faleceu em 2009, e o seu filho Patrick Kennedy que este ano resolveu não se recandidatar ao Congresso. Eram ambos grandes amigos da comunidade portuguesa e da PALCUS e foram duas enormes perdas.
A comunidade portuguesa ainda tem «amigos» junto do poder político americano?
A comunidade tem muitos amigos, como os senadores John Kerry, Jack Reed, que é luso-descendente, e Sheldon Whitehouse. Mas sentimos a quando um desses grandes amigos desaparece, principalmente quando sabemos que ao longo dos anos pudemos contar com eles.
Ainda há pouco tempo organizamos uma recepção de boas-vindas ao novo embaixador americano em Portugal, quando estava de passagem por Newark. A PALCUS convidou-o para um encontro com a comunidade portuguesa e estavam cerca de 300 pessoas. É muito importante quando um embaixador fala e, para nós, era importante recebê-lo, dar-lhe a entender que ele tem o nosso apoio, apresentar-lhe pessoas de sucesso da comunidade e acima de tudo, dialogar com ele. E ele tem falado muito positivamente de Portugal, neste tempo de crise. Ainda há pouco tempo disse que Portugal não era a Grécia e que iria conseguir gerir os seus problemas. Essa é a grande diferença em relação à nossa organização: nós trabalhamos a níveis completamente diferentes.
A nível das comunidades portuguesas nos Estados Unidos, quais são as preocupações da PALCUS?
Preocupamos-nos com questões como as deportações, a emigração, questões complexas que têm que ser resolvidas a nível de país e de governo. E o nosso trabalho é fazer essa ponte. Em relação às deportações, o pensamento do governo americano é que essa gente é «má» e deve ser mandada embora. E o governo português não está pronto para recebê-los.
Outro problema é que a pessoa não pode ser castigada duas vezes e nos Estados Unidos isso tem acontecido ultimamente. Cometeu o crime, foi para a cadeia e pagou o preço. Em 1996 e em 2000 foram aprovadas novas leis de emigração que são retroactivas e vão fazer com que aqueles indivíduos que têm uma «mancha» possam vir a ser deportados, independentemente de já terem cumprido a pena e na altura não terem sido deportados. Porque a lei não se aplicava naquela altura mas aplica-se agora. Por isso lançamos uma campanha onde dizíamos "se tem problemas de emigração, não tente resolvê-los sem falar com um advogado".
Outro dos nossos programas foi o lançamento de uma grande campanha para recensearmos os luso-americanos em 2010, ano em que os Estados Unidos organizam o seu Censo. Também este ano fizemos outra campanha, a nível nacional, de apoio às vítimas do temporal na Madeira.
Estamos agora a realizar uma campanha relacionada com o Visa Waiver e que se prende com o ESTA - Electronic System for Travel Authorisation (Sistema Electrónico para Autorização de Viagem), exigido a todas as pessoas que queiram viajar para os Estados Unidos e que estejam isentos de visto. Tem requerer uma autorização online de viagem, no site do ESTA, através do preenchimento de um formulário electrónico. Assim, eles já sabem quem entra, porque vão, por quanto tempo, etc. Desde Março deste ano é obrigatório, muitas pessoas não têm conhecimento e ao chegar aos Estados Unidos podem ter a entrada negada.
Em relação aos luso-descendentes, que programas realizam?
Temos a decorrer o programa de estágios. Temos cinco jovens em programas de estágios espalhados pelos Estados Unidos e inclusive um nos Açores. Este programa existe desde 1994 e tem o apoio de cerca de 130 patrocinadores. É um programa para jovens universitários que estão no terceiro e quarto ano da faculdade, prontos a iniciara sua carreira e que precisam de um estágio que vai ajudá-los.
Podemos colocá-los a trabalhar nas embaixadas, com os deputados, nas câmaras de comércio, etc. Eles cumprem seis semanas de estágio Este ano, uma jovem está a estagiar nos Açores e há dois anos, uma veio para a Embaixada em Lisboa e outra para a FLAD (Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento). Há um grupo que faz a selecção dos jovens mediante as suas qualificações para os estágios que conseguimos arranjar.
A jovem que está nos Açores já tinha feito um estágio no ano passado, realizou uma série de contactos e regressou aos Açores para trabalhar na área do turismo. A jovem que esteve na FLAD acabou por vir trabalhar para Portugal. Os estágios pretendem que os jovens criem uma rede de contactos, porque o conselho directivo da PALCUS acredita que a rede de contactos é fundamental.
O conhecimento da língua portuguesa é importante?
O Governo português deveria reconhecer que a única forma dos jovens que crescem fora de Portugal, manterem o contacto com o país, é continuarem a ser estimulados a aprender a língua portuguesa. Uma vez integrados na sociedade americana o «cordão umbilical» vai se cortando e desaparecendo rapidamente. Há muita apetência desses jovens, mas têm tantas actividades, o tempo está tão ocupado que deve haver um estímulo enorme, principalmente às chamadas «escolas de herança», que ensinam a língua e a cultura portuguesas.
O Governo português deveria ver o que outros países - como a França, a Itália e a Espanha - fazem, na questão do ensino das suas línguas e culturas aos seus nacionais que estão no estrangeiro. Veriam que o investimento dá resultado a longo prazo. Por exemplo, quando se fala na festa nacional dos italianos nos Estados Unidos, fala-se a nível da presença de presidente da República ou de primeiro-ministro. Isto incentiva essas comunidades, num todo. É isso que na PALCUS tentamos transmitir: é preciso haver uma mão de um lado e uma do outro para conseguirmos fazer bem essa ponte.
Quais são o objectivos futuros da PALCUS?
Saber quantos membros integram a PALCUS não é uma tarefa fácil, isto porque a organização para além dos associados individuais, inclui instituições "que podem representar até 500 pessoas", como explica Fernando Rosa. Aumentar o conselho directivo para 15 pessoas é um objectivo a curto prazo. Outro é a expansão de projectos que já estão implantados, como o Programa de Estágios, que queremos ver a funcionar o ano inteiro.
Pretendemos iniciar um programa de reconhecimento junto das comunidades, queremos estar mais perto das comunidades, para que não passemos a ser «invisíveis». Por exemplo, este ano estive na Califórnia, para participar nas Festas do Espírito Santo, e em New Bedford, na festa dos madeirenses. Por vezes, quando trabalhamos ao nível nacional, passamos a ser um pouco invisíveis. As pessoas recebem os benefícios, sem sequer se aperceber como os receberam.
OS 12 VOLUNTÁRIOS
A Palcus tem um conselho directivo constituído por 12 pessoas, que trabalham em regime de voluntariado. Para além do presidente Fernando G. Rosa, é integrado por Onésimo Almeida, professor catedrático na Universidade de Brown; Cyntia Marques Russo, advogada em Newark, especializada em questões de imigração; Odete Amarelo, professora doutorada de Fall River; Alda Petitti, mestre em Contabilidade; Maria Fraley, directora interina do Instituto de Estudos Lusófonos no Rhode Island College; António Gato, director-geral do banco BES nos Estados Unidos; Larry Mendes, executivo reformado; José Carlos Sousa, director de projecto no gabinete de planeamento e desenvolvimento económico da autarquia de Washington; Ângela Costa Simões, gerente de relações pública e marketing em San Rafael, Califórnia; John Bento, arquitecto, sócio de uma empresa de arquitectura e design em Rio Vista, Califórnia; Manuel Geraldo, sócio de um escritório de advocacia em Washington, e um dos mais antigos membros da Palcus.
Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org
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