O encontro, que teve lugar no Centro Português de Caracas inseriu-se no
âmbito do programa português do Ano Europeu de Combate à Pobreza e
Exclusão Social, um problema que "sempre teve expressão no seio da
comunidade portuguesa radicada na Venezuela, mas a consciencialização e
debate sobre esta temática é relativamente recente", como sublinhava a
cônsul-geral de Portugal em Caracas, Isabel Brilhante Pedrosa, num
comunicado divulgado sobre o Encontro.
Sobre a mesa estiveram temas
como "um olhar sobre a comunidade portuguesa na Venezuela", o
"movimento associativo como alternativa de superação", "da teoria à
prática" e "o impacto das medidas públicas". Em debate esteve também a
importância do reforço da coesão social, a pobreza envergonhada, a
economia social, o desafio da saúde na erradicação da pobreza, a
educação e a inclusão social, entre outros assuntos.
Diagnóstico social
O
documento elaborado no final do Encontro que reuniu representantes de
mais de 30 instituições luso-venezuelanas, destaca como eixo
estratégico o "reforço dos meios de identificação de casos e situações
de exclusão social e pobreza entre a comunidade portuguesa pela
participação co-responsável de todos". Por outro lado, os participantes
comprometem-se a "promover a elaboração de um diagnóstico social da
comunidade portuguesa e incentivar o desenvolvimento de maior e mais
estreita articulação e coordenação entre todos os agentes e
intervenientes sociais aos mais diversos níveis".
O encontro
permitiu determinar que "a prosperidade e o sucesso associados à
presença portuguesa na Venezuela se traduz numa destacada relevância
dos portugueses em todos os sectores socioeconómicos da sociedade
venezuelana", mas "não exclui a consciencialização da emergência do
crescente número de casos e situações de exclusão social e pobreza, uma
realidade que só nos pode incitar ao mais profundo inconformismo".
"É
a este inconformismo que pretendemos dar voz, procurando que o mesmo se
transforme numa actuação colectiva positiva capaz de dar resposta a
problemas concretos e caminhar no sentido de promover a inclusão e
coesão social entre a comunidade portuguesa na Venezuela", refere-se
nas conclusões, divulgadas pela agência Lusa. No documento lê-se ainda
que nos momentos em que "enfrentamos uma crise económica global, com um
impacto social sem precedentes capaz de aumentar o risco de pobreza e
de afectar novos grupos de cidadãos, importa sublinhar que o tempo
presente não está isento de sinais de esperança e acima de tudo, não
devemos subestimar a nossa própria capacidade de mudança e de exercer
influência a favor do bem comum e da dignificação da pessoa humana".
A
iniciativa da comunidade portuguesa recebeu o elogio do presidente do
Instituto Venezuelano do Seguro Social (IVSS) - o organismo venezuelano
equivalente ao Instituto Português da Segurança Social, mas exerce
também funções na área da saúde. "O esforço que faz a comunidade
portuguesa na Venezuela é louvável e tem um alcance bem importante (...)
falamos de seres humanos a que há que atender e onde não há espaço nem
limitações geográficas e culturais, é um problema que estamos
enfrentando e aplaudo esta iniciativa da comunidade portuguesa", disse
o coronel Carlos Rotondaro, em declarações à Lusa.
O responsável
explicou que os portugueses estão dispersos por todo o território
nacional e que "é importante continuar com estas iniciativas e
sobretudo aproveitar o nível de organização que tem a comunidade
portuguesa no país". No seu entender, usando essa estrutura, o próprio
IVSS pode oferecer serviços "não só de prestações itinerantes, mas na
área de saúde e atenção aos pacientes com doenças que implicam custos
elevados, oferecer essa segurança social conjuntamente com as
iniciativas que tenha a comunidade portuguesa".
Carlos Rotondaro
frisou ainda que prevê visitar Portugal em Fevereiro de 2011 para
ampliar os acordos bilaterais em matéria de saúde. "Estabelecemos um
contacto para que no próximo ano, em Fevereiro, possamos continuar a
estabelecer laços de coordenação, de irmandade e sobretudo empenhados
em resolver problemas e ampliar os convénios", disse.
Já o
presidente do Instituto Português de Segurança Social afirmou que o
combate à pobreza é tarefa de todos e Portugal tem responsabilidades a
que não pode fugir para com a comunidade luso-venezuelana, defendeu em
Caracas o presidente do Instituto Português de Segurança Social,
Edmundo Martinho. "Nenhum de nós está livre de poder cair por força
duma situação de saúde, do desemprego, numa situação difícil e nenhum
de nós pode sentir-se desresponsabilizado destas tarefas, somos todos
chamados para isto e isto é um papel que nos cabe, cabe ao Estado
seguramente e o Estado tem em relação à Venezuela e à comunidade
portuguesa responsabilidades a que não pode fugir", disse. Por outro
lado, sublinhou que na sequência da sua deslocação a Caracas está agora
"muito mais preparado para, não só entender aquilo que é a realidade da
comunidade portuguesa na Venezuela, mas sobretudo para poder contribuir
para melhorar a condição de vida daqueles que na Venezuela não
encontraram infelizmente as suas melhores condições de vida".
Desafio à comunidade
O
embaixador de Portugal em Caracas instou a comunidade portuguesa
radicada na Venezuela a encontrar soluções para resolver os vários
casos de pobreza. "Trata-se de uma realidade da qual todos devemos
tomar consciência e usar os meios ao nosso alcance para encontrar
soluções para este problema no sentido de conferir a estas pessoas uma
melhora concreta das suas condições de vida", disse. João Caetano da
Silva explicou que "Portugal e a Venezuela estão determinados a
resolver as situações pendentes na área de pensionistas
luso-venezuelanos" e que "existe um diálogo directo entre os dois
países sobre esta e outras matérias".
Por outro lado, a cônsul-geral
em Caracas exortou os participantes a transformar o encontro "numa
jornada de reflexão sobre uma problemática muito actual e do maior
interesse para a comunidade portuguesa", sublinhando que "agora há uma
maior consciencialização" para as diferentes situações relacionadas com
a pobreza, sendo "uma responsabilidade que não é exclusiva das
autoridades". Em declarações à Lusa, Isabel Brilhante Pedrosa defendeu
um maior humanismo na atenção consular aos pobres, na expectativa de
que o Encontro tenha servido para sensibilizar a comunidade para esta
problemática. "Na prática eu espero que isto represente uma maior
sensibilização de todos os segmentos da comunidade portuguesa e uma
promoção da inclusão. Não terá uma tradução imediata, no sentido de que
uma pessoa ficará amanhã menos pobre ou com mais dinheiro, mas espero e
posso começar por dizer em relação ao consulado, que represente um
maior humanismo no atendimento das pessoas que nos procuram para ajuda
e que se encontram em situações de precariedade", disse.
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