Daniel Ribeiro, correspondente em Paris (www.expresso.pt)
"Tivemos essa informação e estamos a trabalhar o assunto com as autoridades francesas, não obstante haver uma autonomia decisória a nível das escolas que dificulta o tratamento da questão. É tudo quanto posso dizer neste momento", disse hoje ao Expresso o embaixador Francisco Seixas da Costa.
A exclusão do ensino de Português do currículo escolar de duas universidades das mais prestigiadas de França e da Europa provocou movimentos de protesto de luso-franceses e da principal associação de defesa do ensino do Português e da literatura lusófona em França. "Trata-se de mais uma afronta ao ensino do Português em França", comentou Hermano Sanches Ruivo, deputado municipal na Câmara de Paris.
A decisão das direções das duas escolas, Escola Normal Superior e Polytechnique, conduz a que a língua portuguesa desapareça pura e simplesmente das ofertas para os "concursos" dos próximos anos letivos. A decisão foi também fortemente contestada pela ADEPBA (Associação oficial para o Desenvolvimento dos Estudos Portugueses, Brasileiros e da África e Ásia lusófonas), numa carta enviada às direções das duas escolas de elite de Paris.
"O desaparecimento da língua portuguesa (...) é incompreensível (...) sejam quais forem as razoes para esta decisão - comodidade, economias (...) - dificilmente se compreendem", escreve a ADEPBA. A associação sublinha que as línguas espanhola e alemã se mantêm no currículo de ambas as escolas, apesar de a portuguesa ter uma importância muito maior no mundo do que designadamente a alemã.
"Decisão contrária aos acordos da França com Portugal e o Brasil"
"Além disso, acrescenta a associação, esta decisão é contrária aos acordos bilaterais sobre o desenvolvimento das respetivas línguas assinados entre Portugal e a França, a 10 de abril de 2006, e entre o Brasil e a França, igualmente durante o ano de 2006".
Na carta de protesto, a ADEPBA lembra a importância da língua portuguesa no mundo e igualmente as fortes relações económicas entre a França, Portugal, Brasil e Angola. "A supressão do português (...) da Escola Normal Superior e da Polytechnique é uma mensagem muito negativa que atinge a credibilidade da língua portuguesa como instrumento de formação intelectual e cultural para as futuras elites do nosso país", conclui a associação.
Cópias da carta, assinada por Cristophe Gonzalez, presidente da ADEPBDA, foram enviadas a diversos ministérios do Governo francês e às embaixadas dos países lusófonos em França.
Num comunicado, Hermano Sanches Ruivo apela a que a comunidade portuguesa reaja contra esta decisão que, segundo ele, afasta o ensino de Português "destas duas escolas de prestígio".
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