Há cada vez mais casos de pessoas a entrar em situação de grave carência social e financeira entre a comunidade portuguesa radicada na África do Sul. São sobretudo idosos, a quem a vida trocou as voltas num dado momento de um percurso que, pensavam, só tinha a direcção do sucesso.
"Todas as comunidades têm os seus problemas e se alguns colegas meus na Europa tentam minimizar essas dificuldades, nós, na África do Sul, somos transparentes", assegura Silvério Silva, conselheiro eleito pela Comunidade Portuguesa (CP) de Joanesburgo.
Recordando que já chama a atenção, "há mais de dez anos", para o facto de "a nossa comunidade não estar só a envelhecer como também a empobrecer", o conselheiro não se sente inibido em falar nas dificuldades que atingem os idosos.
"Cada vez se vê mais idosos a viver abaixo do nível da possibilidade", diz, explicando que foram várias as razões que contribuíram para este estado de coisas; desde os negócios que correram mal, o trabalho que faltou, a partida dos filhos (emigraram) ou a impossibilidade destes em ajudar os pais, ou outros porque ficaram dependentes de pensões de baixo valor e não conseguem entrar para lares de terceira idade. A tudo isto junta-se o facto de muitos não terem efectuado descontos para seguros sociais e de saúde.
O Estado português disponibiliza apoios financeiros para emigrantes em situações de carência financeira, através dos consulados. Mas, segundo Silvério Silva, a procura por parte dos interessados não tem sido grande. "Embora sejam avisados para concorrerem a esses fundos, acho que, por vergonha, muitos não o fazem", diz.
Questionado sobre o que é que o Estado português podia fazer para ajudar a melhorar esta situação, o conselheiro mostrou-se resignado: "Nesta altura o que é que a gente pode exigir de um país que está a necessitar de ajuda financeira de outros cidadãos. É difícil , acho que não podem fazer mais". No entanto, pede para que estes fundos, "que não podem ser melhorados, sejam pelo menos mantidos".
A conselheira da CP pela Cidade do Cabo, Lígia Fernandes, também afirma que os casos de compatriotas "carenciados estão a aumentar dia-a-dia". Há cerca de 12 anos, lembra, os representantes da comunidade começaram a pedir ajuda. Muitas pessoas passaram a receber uma pensão pelo tempo de trabalho que realizaram em Portugal antes de emigrarem. E outras começaram a ser beneficiadas com suplementos devido às parcas reformas que auferiam pelo trabalho na África do Sul, onde o Estado Social é praticamente inexistente.
Contudo, Lígia Fernandes chama a atenção para o facto de os bancos cobrarem comissões elevadas sobre pequenas quantias, pelo que os beneficiários acabam por receber "muito menos do pouco que já iam receber". Uma situação que, atendendo à influência que a Caixa Geral de Depósitos detém na África do Sul, podia ser minimizada.
Lígia Fernandes apelou ainda à comunidade para se juntar ou continuar a apoiar os esforços que o Centro Português de Cultura e Beneficência do Cabo tem desenvolvido para ajudar os casos de pessoas mais carenciadas na sua área.
Diário de Notícias da Madeira, aqui.