Por se
tratar de um fenómeno recente, o boom migratório para Espanha não está
suficientemente estudado, mas já há académicos a lançar novas
perspectivas sobre esta matéria. Por exemplo, a de que esta debandada
de trabalhadores redundou naquilo a que o sociólogo João Queirós, da
Universidade do Porto, chama "desestruturação bipolar".
"Quando
olhávamos para a emigração clássica para França, falava-se em
comunidades bipolares, porque os emigrantes e criavam lá os seus laços
e integravam-se nas sociedades de acolhimento, ao mesmo tempo que
construíam a sua casa na aldeia de origem. Neste caso, falamos de
desestruturação bipolar, porque é uma emigração pendular e variável,
com muitas mudanças de local de trabalho, em que não há lugar à
construção de comunidades em Espanha e em que, ao mesmo tempo, se dá
uma desestruturação dos contextos de origem, por causa da ausência do
homem".
Esta emigração pendular caracteriza-se ainda pelo
fechamento em torno da família. "Os homens, quando chegam de
fim-de-semana, tendem a fechar-se no reduto doméstico, com quebra de
alguma dinâmica social", analisa ainda João Queirós. Apontando a
"juvenilização" do fenómeno, o sociólogo nota que esta emigração, mais
do consubstanciar uma opção de vida, decorre "da inexistência de
emprego em Portugal". O grave é que, "longe de a fazer desaparecer, a
emigração acentuou a precariedade do operariado", com "muitas situações
de exploração". "São", diz Queirós, "homens duros, com vidas muito
frágeis". N.F.
Público, aqui.