Daniel Gouveia, o primeiro candidato português em eleições na Irlanda do Norte, quer combater o isolamento da comunidade e promover uma vaga de "novos cidadãos" num território onde o feudo entre católicos e protestantes recrudesceu.
Intérprete de profissão, é natural de Lisboa, e após nove anos na Irlanda do Norte foi convidado para concorrer às eleições locais de 5 de Maio em Portadown, localidade com cerca de 28 mil habitantes, a cerca de 50 quilómetros a sudoeste de Belfast.
"Aceitei ser candidato porque quero tentar que os portugueses se misturem e socializem com irlandeses, criando exemplos, mostrando a cultura portuguesa, que inclui os países de África, o Brasil e Timor, criando eventos de desporto e cultura entre todas as populações imigrantes e a comunidade local", afirmou à agência Lusa.
Gouveia, de 39 anos, foi escolhido pelo Partido Trabalhista Social-Democrata (SDLP na sigla inglesa), um partido católico moderado que defende a unificação da Irlanda do Norte com a República da Irlanda, mas sem recurso à violência. O SDLP convidou também uma candidata polaca, recrutando o que a líder do partido, Margaret Ritchie, considerou a "nova geração de irlandeses" mas que Gouveia prefere descrever como "novos cidadãos" da Irlanda.
A comunidade portuguesa é uma das mais importantes e o candidato presume que "seja um bocadinho maior" do que os três mil estimados em 2005, quando o secretário de Estado das Comunidades, António Braga, visitou a região. Na altura, a comunidade foi alvo de ataques xenófobos mas Daniel Gouveia afirma que a situação melhorou, embora os portugueses continuem um pouco isolados do resto dos habitantes.
Para combater esta situação, quer incentivar as aulas de inglês para os candidatos a empregos conseguirem fazer a entrevista exigida por muitos empregadores. Quer também ajudar as pessoas a deixarem de estar dependentes dos subsídios sociais "porque há muita gente que quer trabalhar, que está desesperada, está isolada, está deprimida e uma das razões é porque não fala a língua".
Nas últimas semanas, Gouveia tem feito campanha porta a porta a distribuir panfletos e a falar com os eleitores, sobretudo nas zonas católicas.
Outras áreas, conta, são "um labirinto de casas onde nunca sabemos o que vai acontecer".
Daniel Gouveia admite que "está a voltar violência que SDLP não aprova" com novas ameaças e bombas, de dissidentes do IRA e que já vitimaram vários polícias, um dos quais a 2 de Abril.
Além de irem a votos representantes locais em 26 distritos, há eleições regionais para eleger os membros do Parlamento autónomo e respectivo Governo.
Na Irlanda do Norte, os Unionistas Democráticos terão de defender a supremacia contra os republicanos do Sinn Féin e os mais moderados Unionistas do Ulster.
Rádio Renascença, aqui.