Diana do Mar, da Agência Lusa
Macau, China, 31 mai (Lusa) -- Santos Pinto esteve sempre afastado da política, tem "vergonha" de dizer há quantos anos não vota, mas acaba por se envolver nas conversas que se vão servindo à mesa do restaurante que abriu há 20 anos em Macau.
Natural do Alentejo, onde até se sentia "aquele bicho dos comunistas e dos trabalhadores, aquelas coisas esquisitas", Santos Pinto nunca se meteu na política, seguindo "até hoje" o conselho que lhe foi dado pelo seu pai. Contudo, reconhece: "Mesmo que a gente não queira (...) vive-se sempre a política porque toca no nosso povo, na nossa família".
Em Macau, a comunidade portuguesa não fica indiferente. "Ao almoço, ouvi vários comentários por causa do debate dos líderes dos partidos principais e parece-me que as sondagens dão uma coisa, mas a ideia das pessoas que vêm aqui é outra", partilha Santos Pinto, notando que a perceção é a de que vai haver uma coligação governamental que "não vai adiantar muito" para o país.
A política em Portugal desperta o interesse da comunidade que dela fala e que dela se lamenta entre pratos também eles nacionais, diz Santos Pinto: "As pessoas que estão aqui há mais tempo também acompanham a crise, aliás, quando vêm aqui não se fala de outra coisa (...) porque é um problema nosso, dos portugueses, que todos vivemos".
Apesar de considerar que ainda "há muita gente a votar em Macau", Santos Pinto admite que quem está "há muitos anos" no território se vai afastando "mesmo sem querer" também por força do crédito que os políticos em Portugal foram perdendo.
Segundo o presidente do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas, Fernando Gomes, "há interesse" e "tanto o PS como o PSD locais têm motivado as pessoas, telefonado, feito corresponder um certo interesse, motivação".
O professor de Ciência Política e Relações Internacionais Arnaldo Gonçalves nota, por outro lado, "que a maior parte das pessoas que comentam em termos de política eleitoral e da relação de Macau com Portugal não leram os programas dos partidos e não têm a mínima noção do que é que dizem".
"Vai haver pouca gente a exercer" o seu direito nas legislativas de 05 de junho, prevê, ao apontar que 1.000 votos seria "excecional".
Já Albano Martins, considera que "precisamente pela situação em que o país se encontra, toda a gente tem que ter motivação porque é importante que cada um (...) tente dar o seu apoio a quem entender por bem que deve governar".
Ainda que reconheça que a taxa de participação é tradicionalmente reduzida no território, o economista considera que há pessoas que "vão querer votar até para repugnar a situação que se vive em Portugal e que os obrigou a sair".
E é com essa geração dececionada com o seu país que Santos Pinto se cruza frequentemente. "Na segunda-feira apareceu-me um rapaz sozinho e eu disse: «Anda perdido por aqui?»".
A resposta foi pronta, conta: "Não ando perdido, venho fazer um teste para a universidade, sou professor de Direito e venho fazer provas de admissão para ver se consigo ficar aqui que a vida está difícil".
DM.
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