José Cesário, que recebeu os representantes dos dois sindicatos no dia 29 de Setembro, recusou ceder às cinco semanas de greve dos funcionários consulares na Suíça, afirmando que o Governo não tem condições para satisfazer as suas reivindicações e apelou ao fim da paralisação. "O Governo compreende muito bem a situação destes trabalhadores, mas já tivemos oportunidade de dizer que não dispomos de meios para satisfazer a sua reivindicação", disse José Cesário aos jornalistas.
Cerca de vinte funcionários consulares na Suíça manifestaram-se naquele dia em frente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) por uma actualização salarial, alegando que perderam 40 por cento do salário devido à diferença cambial entre o euro e o franco suíço e também aos cortes salariais na função pública. "Estes trabalhadores merecem-nos muito respeito, tal como os contribuintes portugueses cujos meios nós administramos. Portanto, entendemos que é altura de as pessoas terem consciência de que seria bom que esta greve terminasse para bem de todos", sublinhou o governante.
José Cesário fez questão de frisar que o que está em causa são salários que variam entre os três mil e os 7,5 mil euros por mês. "O Estado português gasta, com a totalidade das missões e dos consulados que tem na Suíça, cerca de quatro milhões de euros por ano só em funcionários administrativos", afirmou. "Nas circunstâncias que estamos a viver, não temos condições para aumentar estes salários, embora reconheçamos que há algumas situações complicadas", acrescentou.
Quanto aos portugueses que residem na Suíça e que precisam de documentos, o secretário de Estado assegurou que o Governo está a "resolver as questões mais urgentes". "Há alguns funcionários que estão a trabalhar na secção consular em Berna e no consulado em Zurique e estão a resolver as situações mais urgentes", disse o governante, acrescentando que "há consulados dos países mais próximos que estão também a atender algumas dessas pessoas".
Resposta não surpreendeu
O secretário-geral STCDE afirmou não ter ficado surpreendido com a resposta negativa do Governo às reivindicações dos trabalhadores na Suíça, que se manifestaram frente ao MNE. "Sou um pessimista por natureza, estou sempre à espera do pior. Por isso, não fiquei surpreendido", disse Jorge Veludo à Agência Lusa.
Balões pretos, música de intervenção, cartazes e cerca de 20 funcionários consulares vestidos com t-shirts que indicavam os seus postos de trabalho e a apitarem era o cenário esta manhã à porta do MNE. Nos cartazes que empunhavam podiam ler-se frases de ordem como: «Paulo Portas primeiro trata dos portugueses», «Os funcionários precisam de salários dignos e estáveis» e «40 por cento de redução nos salários é insustentável». À mesma hora, outros funcionários consulares manifestavam-se frente à Embaixada de Portugal em Berna.
Jorge Veludo garantiu ainda à Lusa que estes trabalhadores estão a contar com a ajuda de familiares ou de amigos para poderem aderir a esta greve que já dura há mais de um mês e negou que o sindicato tenha algum fundo de maneio para situações do género.
Quem também marcou presença na manifestação foram alguns deputados na Assembleia da República, como o deputado do PS pela Emigração, Paulo Pisco, que classificou esta situação de "chocante", "humilhante" e causadora de "enormes prejuízos para a comunidade portuguesa". Por seu lado, o deputado do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, considerou "inaceitável que o governo português não tenha uma resposta para uma situação tão difícil como esta, quando o governo suíço já se mostrou aberto para conversar e até solidário para com os problemas que estes funcionários atravessam". O deputado do PCP, João Ramos, vê esta situação "com muita preocupação" e lembra que estes funcionários consulares trabalham "num dos países com nível de vida mais caro do mundo". O PSD, que elegeu três deputados pelo Emigração, não se fez representar.
A trabalhar no consulado de Genebra há 23 anos, Célia Canário garante que está a ganhar o mesmo que ganhava há 18. "Nunca imaginei passar por um cenário destes. Só vai dando porque conto com a solidariedade do meu marido", contou à Lusa. Célia Canário disse ainda que os salários que alguns colegas estão a receber - 2.700 francos suíços (2.200 euros líquidos) - "não podem ser praticados na Suíça". "As entidades suíças consideram-nos como tendo falta de meios de subsistência", afirmou Célia Canário. "Dá direito à abertura de várias ajudas por parte da Segurança Social", disse ainda a manifestante, esclarecendo que por ser funcionária do Estado português não tem direito a nenhuma prestação social.
Empresários na Suíça protestam
Um dia antes da manifestação em frente ao MNE, empresários portugueses entregaram uma carta aberta ao cônsul-geral em Zurique, Paulo Rufino, manifestando que se sentem prejudicados com a greve dos funcionários consulares na Suíça, que dura há mais de um mês.
"O objectivo da carta é mostrar que nos sentimos prejudicados com esta greve que dura há um mês. Vários clientes estão a desmarcar viagens porque não conseguem os documentos necessários, no caso passaportes, para efectuar a viagem", disse à Agência Lusa Emília Farinha Félix, responsável pela agência de viagens Félix, em Zurique.
De acordo com Emília Félix, o seu negócio está a ser prejudicado, citando o exemplo de "vários clientes que pretendiam viajar para os Estados Unidos e tiveram que cancelar as passagens devido à greve nos consulados portugueses". "Muitas pessoas também procuram a nossa agência para saber o que se passa nos consulados", acrescentou.
Na carta, entregue esta semana no consulado de Zurique e à qual a Lusa teve acesso, os empresários dizem compreender "as razões que movem o descontentamento dos trabalhadores consulares", mas acrescentam que "é difícil de aceitar e compreender a ausência de soluções por parte das autoridades competentes".
"A paralisação dos serviços consulares, parcial ou totalmente, como tem acontecido nos últimos dias, prejudica as nossas empresas, os nosso clientes, a comunidade, criando junto da opinião pública e das instituições suíças uma imagem negativa do nosso país", sublinha a carta.
Os empresários defendem que a situação "não pode continuar", acrescentando que com o prolongar do conflito laboral todos ficam prejudicados, e apelam a uma rápida solução do problema.
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