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“A língua é a nossa maior riqueza” - Eulália Lopes Silva
2011-10-03
A professora Eulália Maria Silva está desde 1974 na Alemanha. Com uma simpatia contagiante, falou com O Emigrante/ Mundo Português sobre a sua carreira, paixão pelo ensino e ligação a Portugal. O seu trabalho é reconhecido por todos os portugueses, sendo uma figura bastante respeitada entre a comunidade lusa.

Eulália Maria Silva sempre teve vontade de conhecer o mundo. E foi por isso que antes de partir definitivamente para a Alemanha em Outubro de 1974, estudou em vários países. 
Licenciada em Filologia Germânica conta em entrevista ao O Emigrante/ Mundo Português o porquê de uma carreira no estrangeiro: "sempre tive vontade de conhecer o mundo. O meu professor de Matemática disse-me sempre "siga matemática" porque eu adorava os números. E eu respondi que não, eu queria era conhecer o mundo e a matemática não me levava a isso (risos). Hoje claro que penso diferente porque com a matemática também se chega longe...".
Natural do Algarve (concelho de Olhão), viajou bastante nas primeiras décadas da sua vida. Deixou a sua casa com 17 anos para ir estudar para Coimbra, depois esteve na Alemanha, Inglaterra, França e Holanda. "Em 68 estive a estudar na Alemanha. Em 69 estive em Londres e depois em França. Quando acabei o curso estive na Holanda com uma bolsa. Quando estava na Holanda soube de uma vaga, quando até já tinha concorrido em Portugal, aqui na cidade de Kaiserslautern que me interessou bastante" recorda. "Da Holanda vim para cá, soube que procuravam uma professora do secundário e acabei por pedir a transferência para aqui. Tive dois anos de sanção porque já tinha lugar em Portugal (risos). Depois foi-me levantada a sanção e então continuei cá e só em 92-93 fui fazer o estágio de profissionalização a Portugal" relembra.
Com um espírito aventureiro, Eulália Silva reconhece que foi muito importante ter o apoio dos pais. "O meu pai chegou a tentar que eu ficasse com eles mas sempre respeitou. Os meus pais também estiveram em França e talvez por isso sempre entenderam o meu interesse em viajar" partilha ao O Emigrante/ Mundo Português.
Quando chegou à Alemanha confessa que viveu tempos difíceis. Encontrou um mundo totalmente novo, uma comunidade mais fechada da que estava habituada. "Eu era muito nova, tinha apenas 23 anos. A colega que tinha estado antes de mim, também no secundário, era freira. Quando cheguei recebia conselhos de todo o lado mas que eu achava retrógrados. Os meus pais deram-me outra educação e eu cheguei aqui e até me diziam que eu não podia falar com alemães, que não podia sair à noite... Foi tudo muito difícil para mim" admite.
Mas como era a comunidade portuguesa da altura? "Eu vim na altura do Padre José Cabral. Foi ele que trouxe para aqui as aulas de português. Havia um lar de jovens, que estavam a aprender português também. Muito da comunidade girava à volta desse lar. Também havia um grande número de analfabetos. Isto era uma zona de tecelagem e mecânica. Havia pessoas que iam evoluindo, pessoas que tinham ideia de voltar, mas que hoje ainda estão cá" revela.  
"A aprendizagem era diferente. Vinham crianças do norte da Alemanha cujos pais queriam que eles aprendessem português. No seu dia-a-dia aprendiam alemão mas os pais tinham muito a ideia que só estavam aqui durante algum tempo, que iriam regressar a casa e que portanto o melhor era os filhos aprenderem em português" acrescenta.
"Depois o que aconteceu é que eu comecei a verificar que os pais tentavam aprender alemão com os filhos. Começou a misturar-se a língua materna com a alemã. Uma frase começava em português e acabava em alemão. Eu dizia-lhes para falarem na língua em que se sentissem melhor. Chegavam às aulas de alemão e não falavam correctamente" conta ainda. 
"Sempre achei que uma língua materna bem falada é um grande passo para a integração" diz peremptória. E talvez por isso tenha sempre lutado para que as suas filhas soubessem alemão e português. "Casei na Alemanha e as minhas duas filhas sempre falaram português. Sempre fui adepta de uma língua materna pronunciada correctamente. Lembro-me que a minha filha mais velha chegava do jardim-de-infância e perguntava como é que se pronunciavam certas palavras em português. Com a mais nova foi mais fácil porque aprendia com a irmã" conta. 
Hoje o sistema escolar funciona de maneira diferente. No estado onde lecciona - Renânia-Palatinado - são precisos pelo menos 10 alunos para formar uma turma. "A nível do primário quando há um número suficiente de manhã nós tiramos de uma aula de religião ou de desporto. Não podemos tirar de uma disciplina principal" conta, para acrescentar, "quando não há número suficiente de alunos para fazer os alunos vêm da parte da tarde, de diferentes escolas, sejam eles do primário ou do secundário, e têm aulas em grupos constituídos por níveis etários ou conhecimento".
Sobre a comunidade afirma que "hoje é muito diferente. As pessoas antigamente exigiam mais dos jovens, os costumes eram mais rigorosos. Lembro-me que me diziam que a comunidade portuguesa era exemplar, muito apologista da família. Os meus colegas elogiavam o facto de as crianças não terem problemas em casa" refere.
Mesmo assim elogia o facto de "as novas gerações, onde muitos foram meus alunos, querem que os filhos aprendam português. Muitos são casais mistos e é engraçado que ambos querem que os filhos saibam a língua dos seus pais". 
Sobre um eventual regresso a Portugal admite que, apesar das saudades, será difícil isso acontecer: "vou sempre a Portugal mas tenho as minhas filhas e os meus netos aqui.  Portugal é o país do meu coração. Tenho saudades do sol e do mar. E dos figos e da fruta (risos)".
Ana Rita Almeida
ralmeida@mundoportugues.org

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