"Somos a maior comunidade portuguesa das Américas, à excepção do Brasil", diz Deolinda Adão, directora do programa de estudos portugueses na Universidade de Berkeley. "Os portugueses não são uma minoria na Califórnia."
Apesar disso, a última vez que um presidente português visitara a costa oeste dos EUA tinha sido Mário Soares, em 1989. "Costumamos dizer que somos esquecidos pelas autoridades portuguesas", diz Manuel Eduardo Vieira, 66 anos, radicado nos Estados Unidos desde 1972, proprietário e presidente da AV Thomas Produce, o maior produtor mundial de batata doce. "É muito fácil vir de Lisboa até à costa leste. É só atravessar o Atlântico e lá estão", diz, numa referência aos dois outros enclaves de origem portuguesa, em New Jersey e Massachusetts. "Atravessar a América é atravessar um continente."
No domingo, Manuel Eduardo Vieira foi condecorado por Cavaco Silva num jantar com cerca de 800 convidados em honra da comunidade portuguesa na Califórnia. No seu discurso, o presidente da República afirmou que estava ali para "reparar um esquecimento". Tal como já fizera em encontros anteriores com a diáspora portuguesa durante esta visita, Cavaco invocou a crise em Portugal garantindo que o país vai ultrapassar as dificuldades actuais. Afirmou que Portugal está a apostar nas exportações e a tentar atrair investimento internacional.
"Como os Estados Unidos, também Portugal é uma terra de oportunidades, para quem as saiba aproveitar no momento certo", disse. "Esse momento é hoje, é agora." E notou que "àqueles que desejam investir deve ser dada a possibilidade de o fazerem sem entraves burocráticos ou constrangimentos administrativos".
"Portugal tem um grande potencial, mas é muito burocrático", disse Manuel Eduardo Vieira ao PÚBLICO. "Não há uma mentalidade de facilitar mas de complicar", afirmou, baseando-se na sua própria experiência de investimento em Portugal - em Maio de 2010, inaugurou um hipermercado nas Lajes do Pico, nos Açores.
Vieira também notou que a crise tem um efeito psicológico: "Há emigrantes com boas economias que podiam investir em Portugal, mas fala-se tanto da troika e da crise que têm receio de o fazer. Nesse sentido, a vinda do presidente cá pode ser benéfica."
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