Nos últimos anos, estas têm sido as imagens que passam pela cabeça de milhares de portugueses quando se fala em Angola. Acossados pelo aumento do desemprego e pela estagnação económica em Portugal, e os angolanos estão cá para recebê-los, com politicas acertadas Angola tem lugar para todos e que angolanos e portugueses emigrantes saiam beneficiados com todo esse " El Dorado".
"O que faz um pai de família português com quatro crianças em idade escolar, quando recebe apenas 900 euros por mês?", questiona a revista semanal alemã Der Spiegel em sua edição desta semana (14.05).
A resposta: "Ele decide emigrar".
Por isso, muitas agências de headhuntersem Lisboa estão recrutando profissionais que se mudam para as antigas colônias de Portugal - especialmente Angola. "Mais de 10% dos clientes treinados pela consultoria Ema Partners International em Lisboa se mudaram para o país ocidental africano", descreve a revista.
Em vez de 900 euros, o personagem destacado pela revista, Antonio Sá Água, recebe ofertas de salário de 8 a dez mil euros mensais - "até dez vezes mais que em Lisboa". O que também serviria para que Sá Água pagasse a "cara vida em Luanda", onde um apartamento num "bom bairro" custa "até 15 mil dólares de aluguel por mês".
Colônia tornou-se colonizada?
O semanário ainda destaca a "inversão de papeis" das antigas colônia e metrópole, que transformou Portugal "num dos países mais pobres da Europa" e Angola "num dos maiores exportadores de petróleo bruto de África, ao lado da Nigéria".
"Com ajuda dos petrodólares da empresa estatal angolana Sonangol, a antiga nação de escravos pode comprar Portugal, antigo Estado escravizador: firmas angolanas compram participações em empresas estatais portuguesas que precisam de ser privatizadas rapidamente - também compram empresas de comunicação, pedaços de praias de luxo e imóveis de luxo - e também, claro, força de trabalho", relata a publicação.
Segundo o Spiegel, cerca de 150 mil portugueses já receberam vistos para Angola. A revista destaca ainda que a responsável pelo "boom" é a necessidade de reconstrução do país, dez anos após o fim da guerra civil. Precisam-se de "ruas, linhas férreas, aeroportos, casas, escolas e hospitais, além de se garantir o abastecimento com eletricidade, jágua potável e ligações de internet".
O relato do Spiegel ainda afirma que os intermediários dos trabalhadores portugueses que vão a Angola vêem o país africano como o objetivo mais "rentável" para quadros e chefias do país europeu. O motivo: "40% da população angolana, de 18 milhões, ainda são analfabetos. Os que não têm formação não conseguem trabalho, dosi terços da população recebem menos de um euro ao dia. Por isso, precisam-se de professores, médicos, engenheiros e técnicos agrários em Angola", explica o artigo.
Tais profissionais, no entanto, vivem isolados da vida da maior parte da população angolana, e negociam luxos como voar para casa "a cada seis semanas".
Muitos imigrantes portugueses em Angola também veem o país africano como um "sonho português" - mas a revista também relata sobre uma alta taxa de criminalidade, "em parte protagonizada por aqueles que não fazem parte do crescimento econômico".
A violência impediria muitos portugueses de levarem a família para Angola, ou de ficarem por muito tempo no país. Muitos dos portugueses também vivem em bairros fechados, com seguranças, ou fazem o caminho para o trabalho em carros blindados. Segundo o artigo do Spiegel, os europeus também estão "à mercê das autoridades, que ameaçam retirar-lhes o visto se fizerem críticas ou reclamarem".
Círculo Angolano Intelectual, aqui.