Madalena Queirós
Com um salário médio mensal de quatro mil euros brutos, o país precisa de 16 mil engenheiros.
Um salário médio mensal de quatro mil euros brutos. Para os engenheiros ronda os oito mil euros. Mas no final do mês há que deduzir uma carga fiscal que ronda os 35%. Em troca, a Noruega garante educação e saúde gratuitas para todos. A boa notícia é que, no final do ano, o que paga em impostos acaba por ser devolvido, porque o país tem uma generosa política de deduções fiscais. O custo de vida é muito mais elevado que em Portugal, mas o salário compensa. E feitas as contas, só vai gastar metade do que ganha nas despesas de casa, comida e transportes. Se ficar doente tem direito a uma baixa até um ano, em que recebe o salário por inteiro. A licença de maternidade é de um ano, com direito a receber 80% do salário, e a de paternidade três meses com vencimento por inteiro.
Um dia de trabalho começa cedo, mas às quatro de tarde está despachado. Parece uma sociedade imaginária, mas existe. Este é o dia-a-dia da Noruega.
O país, número um no ‘ranking' dos países mais desenvolvidos, procura desesperadamente mão-de-obra e quer recrutar portugueses.
Com uma taxa de desemprego de apenas 2,6%, a Noruega precisa de 16 mil engenheiros de todas as áreas, mas todos os sectores estão a precisar de trabalhadores. "Estamos a recrutar em todas as profissões, só não precisamos de economistas e de quadros de marketing", sublinha Eli Skaug, responsável norueguesa pelo Eures, base de dados de emprego europeia, em declarações ao Diário Económico.
Há seis anos que vem até Portugal para contratar e garante que as empresas noruegueses estão muito satisfeitas com o resultado. "Descobri que os portuguese se adaptam muito bem à Noruega". E os números falam por si: "Em 2006, a petrolífera Waco contratou cerca de 40 portugueses e destes apenas um se veio embora", relata, com orgulho, a responsável pelo recrutamento internacional .
Porque é que as empresas estão interessadas em recrutar portugueses? "Falam muito bem inglês, comunicam muito bem com os colegas, se não percebem alguma coisa dizem, não têm receio de fazer perguntas e uma boa formação", responde Mari, uma das recrutadoras da Ingenior Compagniet (IC), uma consultora que recruta engenheiros para as empresas norueguesas.
Os trabalhadores portugueses são preferidos também porque "há muitas empresas norueguesas com operações no Brasil, Angola e Moçambique, onde os portugueses são bem vistos" afirma Alice Brandão , responsável pelo serviço de colocações do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) . Quando há candidatos de outros países do Sul da Europa, os portugueses são os escolhidos. Porque "se adaptam muito bem, são humildes e têm uma boa formação académica", acrescenta a responsável do IEFP. Uma preferência comprovada nos "Engineers Mobility Days", uma feira de emprego que trouxe a Portugal 20 das maiores empresas norueguesas para contratar engenheiros portugueses. O edifício do ISEL, onde decorreu a feira, na quinta e sexta-feira passada, não teve espaço para todos os que quiseram entrar. A feira foi um sucesso com mais de 3.500 candidatos portugueses a tentarem sua sorte.
No caso de um engenheiro com experiência, o salário anual na Noruega pode chegar aos 150 mil euros por ano, diz Mari, da IC. Para além do aliciante ordenado, há outros benefícios: "as empresas que empregam portugueses, tentam arranjar ocupação para o cônjuge, alojamento e, muitas vezes, pagam as aulas de norueguês ao colaborador", acrescenta Eli Skaug.
Para concorrer à maioria dos empregos, basta dominar o inglês. Uma língua que todos falam no país e que já é a ferramenta de trabalho nas empresas de engenharia. Depois, a conselheira norueguesa diz que, em seis meses, é possível aprender a falar norueguês.
Uma comunidade portuguesa a crescer
"É fantástico viver na Noruega" sublinha Gabriela Fabião. Diplomada em Engenharia e Gestão Industrial, trabalha há um ano na FMC Tecnologies, uma empresa que está na lista das 500 maiores do mundo da Forbes e que é líder na construção de infra-estruturas para exploração de petróleo no alto mar. Na empresa já há quarenta engenheiros portugueses.
Quanto ao facto da Noruega ter pouco sol durante metade do ano diz que "é fácil adaptar-se a essa realidade". O país garante "todas as condições para crescer, trabalhar e termos uma boa vida", diz. Por isso, aconselha todos os portugueses a fazerem as malas e concorrerem.
"Neste momento, já há uma comunidade portuguesa considerável na Noruega", explica Alice Brandão do IEFP. Estão lá cerca de 450 engenheiros , mas há também professores, enfermeiros e psicólogos.
O país oferece vínculos profissionais de longo termo. O projecto de vida pode ser "ir trabalhar para a Noruega, acumular direito às pensões e depois regressar a Portugal para viver com a pensão daNoruega", sugere a responsável norueguesa pelo recrutamento em Portugal.
Testemunhos de quem procura trabalho
1 - À procura
O desemprego já está a chegar às melhores escolas. Com 26 anos, o curso de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior Téccnico, está desde Janeiro à procura de emprego. Não se quer identificar porque ainda não disse aos pais que ficou sem emprego para não os preocupar.Agora equaciona a hipótese de ir trabalhar para a Noruega, porque em Portugal não consegue nada. Foi um dos 3.500 portugueses que passaram pelo ISEL para entregar o currículo nas empresas do Enginers Mobility Days.
2 - Mais segurança
Miguel Severo, 38 anos, é engenheiro mecânico e foi ao "Mobility Engineers Days" à procura de uma oportunidade para uma carreira internacional. Apesar de estar a trabalhar, em Portugal, diz que "as coisas, por cá, não estão fáceis e os países nórdicos têm condições completamente difererentes. Há mais segurança". Licenciado em Engenharia Mecânica pelo ISEL, está a fazer o mestrado e encontra-se em contacto com algumas empresas belgas, país que lhe poderá interessar devido à proximidade geográfica.
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