Quando a Associação Portuguesa de Zurique (APZ) foi criada, a 14 de junho de 1962, as estatísticas suíças registavam apenas 481 cidadãos de origem portuguesa no país. Meio século depois, os portugueses tornaram-se no terceiro maior grupo de estrangeiros [mais de 200 mil] na Suíça e a associação "democratizou-se" para acompanhar a comunidade.
"Na época, os portugueses eram muito poucos, uma elite, pessoas que tinham residência na Suíça e faziam parte de famílias com grande poder económico em Portugal, funcionários de bancos, seguradoras e grandes empresas", recordou Manuel Beja, conselheiro da comunidade portuguesa, que foi secretário da associação e posteriormente presidente da assembleia geral durante 20 anos.
Foi a chegada dos primeiros contingentes de trabalhadores sazonais portugueses e a revolução de abril de 1974 em Portugal que contribuiu decisivamente para a transformação.
"É evidente que essa transformação trouxe alguns conflitos iniciais entre os que queriam uma associação de fato e gravata e os outros, que na maioria trabalhavam na agricultura, e que tinham muito peso", acrescentou.
Na década de 1980, tornou-se "no rosto da contestação" dos emigrantes ao Estado português por causa do encerramento, em 1979, do consulado de Portugal em Zurique, contestação que só acalmou com o regresso dos serviços consulares em 1987.
A associação, a mais antiga da Suíça, foi ainda responsável pela criação da primeira escola de língua e cultura portuguesa, frequentada semanalmente por 50 crianças, e destacou-se na defesa do sistema oficial do Ensino do Português na Suíça.
Assumiu ainda o ensino básico de alemão para adultos, disponibilizando salas e professores, e desenvolvendo esforços para interessar os emigrantes pela aprendizagem da língua local, responsabilidade posteriormente assumida pelas autoridades suíças.
Inicialmente, as atividades da APZ, que incluíam ainda festas, palestras e folclore, funcionavam nas instalações da Missão Católica Francesa.
Nos anos 1980, conseguiu a sua sede social, que passou a acolher os serviços oficiais de apoio à emigração.
O apoio social, ainda que informal, continua hoje a fazer-se na associação, que fornece refeições gratuitas a algumas pessoas da comunidade em "extrema dificuldade".
A APZ foi distinguida, em 1990, pelo então Presidente da República, Mário Soares, com a Ordem de Mérito pelos serviços prestados à comunidade.
Atualmente, a associação mantém como única atividade cultural um grupo coral alentejano e promove cursos para promover a integração dos cada vez mais emigrantes que vão chegando à Suíça.
Rui Venâncio, presidente da APZ há quatro anos, lembrou que dos 500 sócios que a associação teve sobram hoje 150, lamentando a falta de apoio do Estado português e o desinteresse dos jovens.
"Os tempos não estão fáceis e cada vez há menos pessoas interessadas neste tipo de casas. As pessoas não têm tempo nem interesse. Os jovens que já nasceram cá estão muito integrados na cultura suíça não ligam a isto. São os mais velhotes que vão mantendo isto ainda com vida", disse.
"A associação tem passado por momentos maus, já esteve à beira de fechar e vamos lutando no dia a dia, mas não é fácil", adiantou, acrescentando que seria bom que os dirigentes políticos portugueses se lembrassem da APZ.
Mais otimista, Manuel Beja não deixa contudo de manifestar preocupação pelo futuro da coletividade.
"Vejo a situação com um misto de otimismo e preocupação porque (...) as pessoas pensam fazer uma vida mais citadina, olhando menos para a comunidade (...), mas muitos começam a entender que é necessário manter os contactos com o país de origem e os mais novos começam a aparecer nas coletividades".
Manuel Beja considera o movimento associativo "um pilar muito importante da ligação de Portugal às comunidades e na integração dos países de origem" e lamenta que não seja "mais bem acarinhado" pela comunidade e pelo estado português.
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