Segundo o secretário de Estado das Comunidades
Portuguesas, têm diminuído as ofertas de trabalho na Europa, sobretudo
em países marcados pela forte emigração portuguesa. "Constato nos
últimos meses um fenómeno novo: nos principais países de destino dos
emigrantes portugueses começa a haver uma redução do número de
oportunidades de trabalho", disse José Cesário à agência Lusa,
referindo-se a Espanha, França, Reino Unido e Luxemburgo como "os casos
mais evidentes".
O governante revelou ainda que a falta de emprego
nos destinos tradicionais da emigração na Europa está a provocar uma
redução no número de saídas de portugueses para esses países, adiantando
que a tendência se acentuou desde o verão. "Há menos oportunidades de
emprego, há menos gente a ir para o estrangeiro. É uma coisa que me
começa a parecer muito evidente nestes últimos meses, sobretudo depois
do verão. Há países onde as oportunidades de emprego estão a reduzir-se
drasticamente", disse José Cesário.
Hoje verifica-se "um aumento de
oportunidades fora da Europa, mas para onde é mais difícil ir", admitiu o
governante à margem do "Encontro de Promotores Socioculturais das
Comunidades Portuguesas", que se realizou em Fátima, entre 2 e 5 deste
mês. A redução das ofertas de trabalho deve-se ao facto de "estar também
a aumentar significativamente o desemprego nestes países europeus",
justificou. José Cesário, que em várias intervenções tem apontado para
100 mil a 150 mil saídas de portugueses por ano, reconhece que em países
como Angola ou o Brasil as oportunidades se mantêm, mas sublinha a
dificuldade de emigrar para países como a Austrália ou o Canadá, onde há
oportunidades de trabalho. "Em Angola mantêm-se os fluxos que tínhamos,
no Brasil haverá até mais oportunidades e depois há outros países onde
sabemos que há oportunidades, como o caso da Austrália ou o Canadá, mas
para onde a emigração é muito difícil porque pressupõe a ilegalidade ou a
obtenção de vistos e os vistos não são fáceis", disse.
«Obrigados» a emigrar
Mas
apesar da diminuição das ofertas e trabalho, o povo português "está a
sentir-se obrigado a emigrar", afirmou o arcebispo de Braga e presidente
da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana. "Neste
momento não estão a ter ‘o direito de não emigrar', uma expressão que
está (contida) no Concílio Vaticano II e foi utilizada pelo papa (Bento
XVI) recentemente", explicou Jorge Ortiga à Lusa, à margem do Encontro.
O
responsável frisou ainda que "o Governo tem de criar condições
necessárias para os cidadãos poderem viver e trabalhar onde querem, na
sua terra, se assim o quiserem", admitindo, contudo, que hoje é muito
difícil "arranjar emprego para todos".
"A máquina diplomática tem
muito a melhorar no apoio social à emigração", admitiu o governante, que
aproveitou para elogiar o trabalho realizado pelas missões e paróquias
da Igreja Católica na ajuda prestada às comunidades portuguesas.