Rui Pena Pires, que falava em Lisboa no seminário "A atual situação migratória de Portugal", organizado pelo Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, destacou que, "ao contrário de uma ideia muito comum", a emigração tem vindo a diminuir desde o início da crise de 2008 e até ao final de 2011 -- último ano com dados disponíveis.
Isto acontece, explicou, porque a crise não foi exclusiva de Portugal e o desemprego afetou praticamente todos os países desenvolvidos, nomeadamente os tradicionais destinos da emigração portuguesa.
Para o investigador, a emigração tem hoje uma visibilidade que não tinha antes porque, "pela primeira vez, a necessidade de emigração chegou a grupos sociais com maior qualidade de vida, mais acesso a informação, maior influência e por isso passou a ser um problema público".
No entanto, na opinião de Rui Pena Pires, mais problemático do que o aumento da emigração dos quadros qualificados é a diminuição das alternativas para os desempregados pouco qualificados e com mais de 45 anos.
"Um mercado que até 2008 absorvia em boa parte esse desemprego potencial era Espanha - uma emigração pouco qualificada, masculina e para a construção civil - e essa desapareceu", lembrou, referindo-se a um país que chegou a ter, em 2010, quase 150 mil residentes portugueses.
O investigador recordou ainda que muita dessa emigração está a regressar a Portugal, onde não encontra alternativa.
"Neste momento, o problema mais dramático -- embora se fale muito na emigração de quadros e licenciados -- é a falta de alternativas para esta emigração mais desqualificada, que terá mais dificuldades em regressar ao mercado de trabalho mesmo quando a crise tiver passado", sublinhou.
O investigador explicou que nos destinos tradicionais desta emigração o desemprego também está a aumentar e para os outros, como o Brasil, Angola ou Moçambique, não precisam de mão de obra pouco qualificada porque têm "reservas internas mais do que suficientes".
Sobre a ideia de que está a aumentar a emigração para estes destinos, Rui Pena Pires disse que não existem números sobre Angola e sobre o Brasil confirma-se um aumento, mas em valores "irrelevantes": "Duplicou, mas duplicou de 700 para 1.400".
Sobre as perspetivas futuras, o investigador admitiu que em 2012 já se registe um ligeiro aumento da emigração para destinos para o Reino Unido ou a Alemanha e que nos próximos anos volte a aumentar, o que considerou natural: "As pessoas que regressam a um país que não tem emprego, é natural que re-emigrem".
Ainda assim, estimou que "demorará algum tempo a repor" valores como os de 2007, quando o número de emigrantes para Alemanha, Espanha, Holanda, Reino Unido e Suíça atingiu quase 60 mil.
A emigração para destinos como o Brasil e Angola, que são comummente referidos como muito procurados, Rui Pena Pires estima que não se torne brevemente um fenómeno muito relevante: "Não é fácil iniciar uma emigração de forma rápida para um país onde não há emigração ativa que sirva de suporte a este incremento. O que é normal é que cresça nos países onde já há alguma emigração portuguesa e onde a mobilidade é mais forte", antecipou.
"Provavelmente vamos continuar a ter o que temos até 2008: emigração a crescer basicamente dentro da União Europeia", disse.
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