O investigador Jorge Malheiros considera que o potencial da emigração portuguesa está a ser "muito deficientemente aproveitado" pelo Governo e defende que os emigrantes, sobretudo os mais qualificados, têm mais para dar do que remessas.
Para o investigador do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, o poder político está a gerir mal a questão da emigração, nomeadamente ao passar a ideia de que, não havendo alternativas em Portugal, "é normal emigrar".
"A 'naturalização' da emigração esquece que, sendo verdade que se deve respeitar o princípio da liberdade de circulação das pessoas que pretendem procurar emprego fora, também se deve respeitar a liberdade das pessoas que não querem circular", mas sim trabalhar no país, defende.
Para Jorge Malheiros, "quando não há alternativa dentro [do país], a emigração deixa de ser uma opção. É a única saída".
Outra "má forma de gerir" a emigração, argumenta, é "não garantir que há mecanismos fortes de ligação das pessoas ao território nacional".
Admitindo que a estrutura da Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades é "uma boa estrutura", o investigador lamenta que não esteja pensada para o actual contexto migratório.
"É pensada para outro contexto, que teve mais significado no passado em que houve outra emigração", diz, defendendo que hoje é preciso apostar nas ligações com os emigrantes qualificados.
Estes, defende, podem contribuir com mais do que remessas para o crescimento do país: "Podem trazer capital social - ligações a empresas e universidades no exterior -; podem trazer capital humano qualificado - eles próprios e outros que conheçam -; podem trazer experiência adquirida" e até investimento estrangeiro.
Malheiros exemplificou com o caso irlandês, lembrando que as elevadas taxas de crescimento que a Irlanda teve nos anos 1980 se devem, "em parte, a investimentos de empresas americanas que tinham, não poucas, emigrantes irlandeses nos quadros".
Para o investigador, o trabalho de ligação às comunidades emigrantes, "e sobretudo aos novos emigrantes, ainda está largamente por fazer" e deve passar pela construção de uma "relação de confiança e proximidade".
"Não me parece que dizer que os portugueses são piegas ou que são muito precisos lá fora seja a forma de construir uma relação de confiança e proximidade", afirma.
Malheiros defende que essa relação se constrói mostrando às pessoas que a sociedade portuguesa continua a considerá-las parte da nação - "sem nenhum nacionalismo bacoco".
Lusa/SOL, aqui.