Os novos emigrantes portugueses que fixam residência no Brasil integram-se menos com a comunidade compatriota no país, afirmaram hoje investigadores universitários durante o seminário "Os Portugueses no Brasil - Novos Desafios", em São Paulo.
"Os jovens migrantes não têm interesses em associações tradicionais. Não são os almoços e os jantares com grupos folclóricos que os atraem, e cabe às associações descobrirem outras formas para chamar esse público", afirmou a historiadora brasileira Sónia Maria de Freitas.
A docente da Universidade de São Paulo (USP) realçou que, como muitos, os imigrantes acabam por ficar numa situação de trabalho ilegal enquanto aguardam que a documentação seja autorizada, e, por isso, são mais 'fechados'.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, também presente no evento, afirmou também que as novas gerações têm um nível de individualismo mais acentuado, influenciado pelo desenvolvimento de relações por meio da internet, que dificulta o relacionamento com a comunidade local.
A socióloga Alice Beatriz Gordo Lang realçou que a diferença de comportamento deve-se a uma questão geracional.
Por seu turno, o historiador José Jobson Arruda disse que a diferença de qualificação profissional entre as gerações pode gerar tipos de comportamentos diferentes.
O seminário tem o objectivo de reflectir sobre a nova emigração portuguesa, no âmbito das comemorações do Ano de Portugal, e foi promovido pelo Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade (CEPESE), uma Instituição de Utilidade Pública dedicada à investigação científica.
Durante a conferência, foi apresentado um estudo desenvolvido com os emigrantes portuguese que fazem parte da comunidade "Nova Geração de Patrícios no Brasil", no Facebook, que conta hoje com 2.472 membros.
Ao todo, 63 pessoas responderam à pesquisa, desenvolvida por Sónia Maria de Freitas, a maioria dos quais (51 por cento), imigrou para o Brasil para trabalho, sendo que 59% possui nível superior completo e outros 18% pós-graduação.
Os entrevistados afirmaram-se integrados na sociedade brasileira (75%), mas a grande maioria (84%) não teve ajuda ou orientação de entidade luso-brasileira para emigrar.
Sónia Freitas afirmou que algumas das dificuldades citadas por membros da nova geração foram a burocracia brasileira, a dificuldade em conseguir vistos de trabalho, a falta de equivalência em diplomas de engenharia e arquitectura, a falta de "networking e a dificuldade de se abrir uma empresa.
O secretário José Cesário afirmou que as especificidades da migração para o Brasil estão a ser analisadas e que será lançado um guia de aconselhamento para as pessoas que desejem emigrar para aquele país.
Cesário realçou que a língua portuguesa em comum é uma vantagem e que deve ser usada como um factor de promoção de desenvolvimento.
Para isso, disse que "anseia" pelo momento em que o Brasil trabalhe ao lado de Portugal no esforço para internacionalizar o idioma.
Diário de Notícias da Madeira, aqui.