Lisboa, 10 jan (Lusa) - Algumas comunidades portuguesas em países como a Suíça ou o Luxemburgo duplicaram no último ano, segundo a Obra Católica das Migrações, que no fim de semana promove, em Fátima, uma reflexão sobre "a nova versão da emigração a salto".
"É muito difícil quantificar os números da emigração, mas os ecos que recebemos é que muitas comunidades duplicaram o número. Uma das coisas que nos permite ver isso é o número de crianças na catequese. De janeiro a novembro de 2012, numa das comunidades da Suíça triplicou o número de frequentadores na eucaristia, o que significa um grande aumento", disse à agência Lusa o diretor da Obra Católica das Migrações (OCM), frei Francisco Sales.
O responsável aponta ainda o caso do Luxemburgo onde o aumento do número de novos alunos portugueses permite estimar uma media de cinco a seis mil famílias emigradas só no ano passado.
Apesar destes números, Francisco Sales adianta que os alertas da Igreja para os casos de emigrantes a viverem situações de miséria na Suíça depois de terem partido sem trabalho certo levaram a uma redução destas situações, que, segundo disse, surgem agora apenas pontualmente.
"Parece que os portugueses acordaram e não se lançaram na aventura como tinha sido até agora", disse.
É neste contexto que cerca de 60 representantes das missões católicas portuguesas no estrangeiro e especialistas em fluxos migratórios se reúnem a partir de sexta-feira, no Santuário de Fátima, para debater as formas de acompanhamento e as estratégias de resposta da Igreja Católica a esta realidade.
"A ideia é fazermos um pouco a comparação desta situação de nova emigração, deste grande fluxo, com a emigração dos anos 1960 e 1970, a emigração de `ir a salto`. Hoje chamamos-lhe uma nova versão do `ir a salto` porque é uma emigração não programada, em que as pessoas decidem emigrar muito rapidamente devido à necessidade em que se encontram", disse Francisco Sales.
Durante o debate, serão analisadas também as implicações da emigração qualificada para o futuro do país e os problemas que as comunidades e os países de acolhimento sentem com o grande aumento dos fluxos migratórios portugueses.
Inspirado na frase de Bento XVI "antes do direito a emigrar há que reafirmar o direito a não emigrar, isto é, a ter condições para permanecer na própria terra", o encontro decorre sobre o tema "Entre o direito a e a não emigrar", remetendo para o debate político e mediático em torno de alegados apelos à emigração por parte das autoridades portuguesas.
"Os portugueses e, se calhar, o mundo atual, não tem muito garantido o direito a não emigrar. Para as pessoas terem direito a não emigrar e a construir a vida na terra onde nasceram, é preciso que o Estado e as autoridades lhe deem as condições necessárias para construir a vida com o mínimo de dignidade e, neste momento, devido à conjuntura, esta realidade não está garantida", disse.
Francisco Sales admite que a emigração pode ser um "caminho fácil" para resolver problemas imediatos, mas não tem dúvidas de que a longo prazo compromete a reconstrução do país.
"As pessoas mais responsáveis pelos destinos políticos do nosso país veem-se a braços com um situação herdada do passado e que não é fácil de enfrentar e, muitas vezes, escolhem o caminho mais fácil. Se as pessoas forem procurar trabalho e fazer a vida noutro sítio facilita e resolve muitos problemas", disse.
"O problema está no futuro e na forma de reconstruir toda a situação social, política e económica para garantir um estilo de vida que seja digna da nossa história como Nação", concluiu.
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