O evento pretendeu reunir dirigentes mais jovens e
outros mais velhos e com mais experiência que se propõem enfrentar novos
desafios para dinamizar o movimento associativo luso na diáspora
portuguesa, referiu o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas
no encerramento do Curso Mundial de Dirigentes Associativos da Diáspora,
que decorreu de 24 e 28 e Fevereiro. Organizado pela Confraria dos
Saberes e Sabores da Beira - Grão Vasco, com o patrocínio da Secretaria
de Estado das Comunidades, o curso desenvolveu actividades em Viseu,
Sintra Oeiras e Lisboa.
Durante cinco dias, 30 dirigentes de
associações portuguesas implantadas em 13 países (França, Alemanha,
Suíça, Luxemburgo, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, Brasil,
Venezuela, Uruguai, Argentina, África do Sul e Macau), partilharam
experiências, mas também receberam formação e documentação em várias
áreas, como programas de ação, organização e gestão associativa,
projetos e candidaturas, legislação, parcerias. Pelo meio, visitaram
algumas instituições de Portugal, participarem em mostras associativas e
conhecerem o trabalho que as autarquias realizam com as associações.
Para
além da formação e contacto com instituições nacionais, a realização do
curso em Portugal permitiu aos participantes perceberem "que país nós
temos", referiu José Cesário.
"Alguns vêm pouco, outros vêm mais,
mas é importante que percebam o que é Portugal, principalmente aqueles
que residem em países tão distantes e não têm tantas oportunidades de
vir", defendeu o titular da pasta das Comunidades Portuguesas,
acrescentando que em Portugal "faz-se muita coisa boa", valendo por isso
a pena "transmitir essa certeza".
Por outro lado, pediu aos
dirigentes associativos que apõem o atual esforço de internacionalização
nacional, considerando que "são embaixadores e Portugal" e defendendo
que o país "não tem sentido de ser se não pensar também na sua presença
no mundo e no seu potencial".
Compromisso de trabalho
Para
Martin D'Oliveira, o curso "superou as expectativas" e deu-lhe novas
ferramentas e trabalho. Dirigente no Clube Português da Grande Buenos
Aires e membro da Comissão Pastoral Portuguesa na Argentina, o jovem,
que não vinha a Portugal há 20 anos, disse ao Mundo Português ter
verificado durante o evento que "Portugal tem muito a dar aos seus
emigrantes". "Esta não foi uma viagem de férias, mas sim um compromisso
para trabalharmos mais mas nossas comunidades portuguesas", assumiu.
Já
Kátia Caramujo, directora na Casa dos Poveiros de Toronto,
representante da Aliança dos Clubes e Associações de Ontário, Canadá,
afirmou que regressa "mais preparada para desenvolver novos projectos" e
lamentou que não haja renovação de quadros nas associações. "O que está
a acontecer é que os clubes quando realizam assembleias gerais, às
vezes têm que fazer duas, porque não se consegue logo à primeira eleger
uma direcção. Não há grande envolvimento dos mais jovens, eu sou das
poucas", afirmou, acrescentando que "são sempre" as mesmas pessoas a
trabalhar e que estas "começam a ficar cansadas". "O meu receio é que,
por exemplo, quando o meu sobrinho tiver a minha idade, já não existam
mais associações", alertou a jovem dirigente, considerando, por isso,
ter sido "óptimo" este intercâmbio. "É bom descobrir que em Buenos Aires
ou em Joanesburgo há pessoas que fazem as mesmas coisas que nós, e
sobretudo que em Portugal o nosso associativismo ainda é importante".
Uma
realidade diferente vive o meio associativo luso em Macau, onde "as
associações de matriz portuguesa estão bastante activas", como afirmou
Miguel de Senna Fernandes. O presidente da Associação de Macaenses, que
congrega luso-descendentes, revelou que a ADM tem vindo a desenvolver
vários projectos em comum com a Casa de Portugal no território, como o
São João, celebrado anualmente e uma festa que as duas associações
"devolveram às ruas de Macau". Juntamente com outras «casas» lusófonas
realizam ainda todos os anos o Festival da Lusofonia, tendo em aberto
"vários outros projectos", revelou o responsável que defende "a partilha
de projectos associativos". Sobre o curso, Miguel Fernandes considerou
importante que a par da iniciativa, "haja mais apoio do Estado
(português)".
"Não estou a falar de apoio financeiro, mas de uma
aproximação do corpo consular, que é importante. É fundamental uma
efectiva aproximação do Consulado de Portugal à comunidade portuguesa
local, e a participação activa nas iniciativas das associações",
defendeu.
Dinamismo é a palavra que David Garcia utiliza para definir
o Portuguese Athletic Club, de San José, Estados Unidos. A associação
tem a segunda maior biblioteca portuguesa do estado da Califórnia e o
dirigente congratulou-se por ter tido conhecimento dos apoios do Governo
português nessa área". "Abriu-nos uma porta que não sabia que existia",
disse. A opinião de Jorge Rodrigues sobre o movimento associativo
português na Suíça, é mais sombria . O dirigente do Centro Lusitano de
Zurique afirma que "está um pouco decadente" e aponta, entre outras
razões, o grande número de associações no país, o cansaço dos quadros
que se repetem na gestão das instituições por falta de renovação e até o
regresso a Portugal de alguns dirigentes. Uma realidade que, diz, não
atingiu o Centro Lusitano de Zurique, que com 300 associados efectivos,
"foi renovado há pouco tempo e está em grande actividade". "Temos uma
grande componente social, organizamos festas para angariar verbas e uma
recolha de roupas em Fevereiro que enviamos a instituições em Portugal.
Temos várias equipas desportivas, e desenvolvemos outra vertente
importante, ligada à integração das pessoas que chegam ao país,
organizando cursos de alemão com o apoio da autarquia de Zurique",
revela.
O secretário de Estado das Comunidades mostra-se porém
optimista sobre ao futuro do associativismo no estrangeiro. "Se
conseguirmos prosseguir este trabalho durante mais dois ou três anos,
teremos muitas das nossas associações com novos protagonistas que, de
mãos dadas com os mais antigos, serão capazes de dar novas dinâmicas ao
movimento associativo", considerou José Cesário.
Cinco projetos para unir associações
Durante
o curso, os participantes conceberam e desenvolveram cinco projectos
que gostariam de implantar nos países onde residem. O projecto da equipa
de Bruno Marques, da Associação Lusófona de Zermatt, destina-se a
crianças e jovens dos 10 aos 15 anos e assenta na criação de um jogo com
perguntas e respostas em torno do tema da cidadania e participação
cívica e política. "Esse jogo seria distribuído nos cinco países de onde
são oriundos os membros do nosso grupo: Suíça, França, Reino Unido,
Luxemburgo e Brasil.", explica Bruno Marques, acrescentando que o
objectivo é "divulgar a importância da cidadania e falar na importância
do voto". "Serão perguntas básicas mas que os farão saber quem toma as
decisões, como funcionam as autarquias, os governos. Queremos que os
jovens percebam como funciona o sistema político no seu país", destacou
referindo que o jogo pretende incutir nos jovens "a responsabilidade do
voto". "Porque ao votar teremos mais força e conseguiremos eleger
políticos. E a integração é também isso", defendeu.
Outro projecto
parte das rotas dos descobridores portugueses para "assumir outra
maneira de ensinar a língua e a cultura portuguesas, através de
actividades", explicou David Garcia, do Portuguese Athletic Club, dos
Estados Unidos. "Queremos estabelecer entre as associações uma rota de
intercâmbio para reunir jovens luso-descendentes de vários países",
revelou.
Reunir todas as associações lusas na diáspora para num dia a
definir, escolherem um tema e celebrarem a portugalidade, estejam onde
estiverem, foi o projecto apresentado pela equipa de Miguel Fernandes,
de Macau. "Por que não arranjar uma forma de todas as associações
poderem comungar de algo que diga respeito à cultura portuguesa?",
questionou. "O celebrar pode ser de várias formas: quando se dança o
Vira, quando se joga futebol, quando se come bacalhau. Vamos supor que
num ano, o item escolhido é o bacalhau. As associações portuguesas no
mundo, nesse dia, se comprometem a festejar através da confecção de um
prato de bacalhau. É algo acessível e perfeitamente exequível para todas
as associações e de uma certa forma, evoca o sentir geral da
portugalidade, tendo um efeito unificador", defendeu.
Já o grupo de
Jorge Rodrigues, que reuniu dirigentes da Suíça, Canadá, Brasil, Uruguai
e Venezuela, propõe acções de formação de dirigentes associativos nas
áreas cultural, etnográfica, dos tempos livres e do movimento cívico.
"Queremos desenvolvê-lo em duas áreas: a da formação de dirigentes
associativos e a de dirigentes etnográficos, para formar novos
dirigentes associativos, mais jovens. E pretendemos que estes cursos
informem os mais novos e ajudem a dinamizar e rejuvenescer o movimento
associativo", explicou o dirigente da Suíça, revelando que pretendem
realizar as duas primeiras ações no Centro Português de Caracas e na
Casa Portuguesa de Valência, na Venezuela, já em Julho deste ano.
O
quinto projecto prende-se com a realização de um "seminário cultural
para o intercâmbio entre as diferentes comunidades diferentes no mundo",
como explicou Martin D'Oliveira da Argentina. "Achamos que seria
importante uma acção de intercâmbio para vermos como atua cada uma das
comunidades, na área da cultura e da língua portuguesa. Este curso
mostrou que há uma grande diferença na forma de trabalhar entre uma
comunidade e outra, até entre aquelas que estão no mesmo continente. A
ideia é fazer um primeiro seminário entre o meio associativo português
da Argentina e da França e depois realizá-lo em outras comunidades
portuguesas", revelou o dirigente.
O associativismo deve modernizar-se para atrair os mais jovens - Deputados pela Emigração
No
último dia do curso, os dirigentes foram recebidos no Parlamento pelos
deputados Carlos Gonçalves e Carlos Páscoa Gonçalves, do PSD, e Paulo
Pisco, do PS, eleitos pelos círculos da Emigração. Em resposta ao Mundo
Português sobre a forma de atrai os jovens para as associações, Carlos
Gonçalves defende a existência de redes "que permitam criar coesão er
que devem ter como objectivo a ligação das comunidades". "Há nesta
iniciativa pessoas que são já quarta geração portuguesa, e continuam
ligados a Portugal. Quando há assim pessoas, esta gente e as associações
que representam, têm que ser nossos parceiros", afirmou.
Carlos
Páscoa Gonçalves, por sua vez, acha que "tem que se dar uma volta (ao
movimento associativo)", porque a nova emigração tem um perfil
diferente. "A emigração que está a chegar ao Brasil, por exemplo, não
vai frequentar essas casas, porque a sua ligação a Portugal é feita de
outras formas e através de outros espaços, têm a internet e meios
electrónicos em geral", explicou, defendendo mais união entre as
associações. "Têm que se juntar por afinidade de serviços. As que forem
da área desportiva devem chegar a um entendimento entre elas, as que
forem voltadas para o ensino, as de solidariedade social, têm que se
agrupar. E aí começaremos a encontrar uma solução para o problema",
defendeu, dando como exemplo casos de sucesso. "Em Manaus, Amazonas,
onde as associações estão praticamente todas a fechar, foi criado o
Instituto Cultural de Portugal no Amazonas, onde estão representadas
todas as associações. O património imobiliário foi arrendado e a renda
permite manter o Instituto com enorme dignidade", revelou.
Já Paulo
Pisco acredita que o futuro do meio associativo passa "pelos mais
jovens, pelas mulheres, por novas ideias e eventualmente por novas
estruturas relativamente ao tipo de actividades que desenvolvem". "É
fundamental que as associações tenham actividades mais abrangentes, que
sejam identificados os assuntos que interessam às nossas comunidades nos
países onde estão inseridas", referiu ao Mundo Português. Para tal, o
deputado diz que deve ser feito "um trabalho de sensibilização dos
dirigentes associativos, para que as associações aproveitem todo o seu
imenso potencial para desenvolverem actividades que sejam do interesse
de todos". "A manutenção da comunidade unida e a sua afirmação nos
sítios onde está, pode ser feito de uma maneira muito relevante através
das associações", finalizou.
As associações estão a ganhar visibilidade - José Cesário
O
secretário e Estado das Cmunidades Portuguesas defende que iniciativas
nas áreas da solidariedade e da língua podem contribuir para a renovação
das associações
Como se atrai os mais jovens para as direções das associações?
É
preciso prestar-lhes atenção, dar-lhes incentivos. Ouvi-los,
acompanhá-los e que as associações dêem espaço para eles trabalharem e
lhes permitam realizar actividades que se ajustem aos mais jovens. Há
neste momento vários projectos a decorrer nesse sentido, como o «Proud
to Be Portugueses Canadian» (Orgulho em ser Luso-Canadiano), que se
realizou no ano passado em Toronto e deverá repetir-se este ano com um
evento na Califórnia.
O que as associações têm que fazer para se manterem abertas?
Eu
não quero dar lições às associações, cada uma saberá o que fazer, mas
não há dúvida nenhuma que há um conjunto de iniciativas, quer na área da
solidariedade social, quer na área cultural, na da língua portuguesa,
que podem permitir uma renovação muito significativa no movimento
associativo. Nenhuma associação tem que acabar, devem cooperar mais umas
com as outras. Têm que desenvolver mais projectos conjuntos que
permitam obter outros resultados e movimentar mais gente. Temos que
olhar para os jovens, mas também para os mais antigos. Não é por acaso
que temos acções para jovens, mas também estamos a fomentar acções para
mais velhos. Há projectos na área do apoio social no Luxemburgo, no
Reino Unido, no Brasil, na Venezuela que procuram explorar outras
vertentes.
O aumento da emigração deu visibilidade ao movimento associativo?
Claramente.
(O movimento associativo) Está já a ganhá-la, porque neste momento já
são as associações que conseguem completar o trabalho dos nossos
consulados e embaixadas na identificação das situações que merecem uma
atenção mais particular, situações mais dramáticas e difíceis.
Ana Grácio Pinto
Mundo Português, aqui.