Mas, nos últimos três meses, o aumento foi de 7,1%, o que pode levantar o véu sobre novos motivos para esta evolução positiva, como, por exemplo, o facto de muitos dos novos emigrantes deixarem créditos em Portugal que têm de pagar mensalmente.
O balanço mais recente indica que as remessas de emigrantes subiram 7,1% no primeiro trimestre deste ano, para 644,8 milhões de euros, ao passo que as verbas enviado pelos trabalhadores estrangeiros para fora de Portugal desceram 30%, para 40,4 milhões de euros.
Estas são as estatísticas divulgadas pelo Banco de Portugal no seu Boletim Estatístico relativo a março e permitem constatar que os emigrantes em França e no Reino Unido continuam a ser dos maiores emissores de verbas para Portugal, com 198 e 46 milhões, respetivamente, representando mais de um terço do total de verbas recebidas em Portugal no primeiro trimestre deste ano. No que diz respeito às remessas de portugueses a trabalhar nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), houve uma redução de cerca de 3%, para 67,6 milhões (com Angola a valer a quase totalidade deste valor), enquanto, em sentido contrário, os imigrantes dos PALOP a trabalhar em Portugal enviaram para os seus países de origem 10,2 milhões de euros, o que representa uma redução de 2,2% face à média de transferências do ano passado.
Mas é precisamente dos PALOP que pode vir a explicação para este aumento. Segundo Filipa Pinho, investigadora da Observatório da Emigração, "há salários que podem estar parcialmente a ser pagos cá". E aquela investigadora, responsável também no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, aponta mesmo Angola como um dos países onde tal poderá estar presentemente a acontecer.
E de facto, entre 2011 e 2012, as remessas provenientes dos emigrantes portugueses em Angola quase duplicaram, passando de 147,322 milhões de euros para 270,687 milhões de euros. Angola passou assim a ocupar destacadamente a terceira posição entre os países com maiores remessas, ultrapassando a Alemanha (170 milhões) e deixando de lutar diretamente com um grupo de várias origens muito próximas, como os Estados Unidos, Reino Unido e Espanha.
Mas Filipa Pinho não restringe o aumento de remessas a este possível motivo. "Resumidamente, pode ter que ver com vários fatores, sendo o maior o aumento da emigração nos últimos anos. Mas essencialmente há um aspeto que é preciso ter em atenção: há emigração de pessoas que têm créditos em Portugal (de habitação, por exemplo, mas não só) e precisam de enviar dinheiro para cá para os pagar", explica.
Aquela responsável não valoriza, por outro lado, o impacto nas remessas de um aumento da qualificação dos emigrantes portugueses nos últimos anos, nem mesmo o facto de o fluxo aumentar para países com ordenados superiores, como a Alemanha e o Reino Unido, este último a registar também um forte subida de remessas no primeiro trimestre do ano.
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