Em 31 de dezembro de 2012, o cantão de Friburgo contava 21 mil
portugueses, 35% do total de estrangeiros de uma população de 291mil
pessoas. Nos últimos dois anos, 2 mil lusitanos chegaram à Suíça, por
ano. Entre eles, cada vez mais adolescentes que não são fluentes em
francês e devem frequentar as escolas do município.
Na da cidade
de Friburgo, os estudantes estrangeiros são acolhidos em classes
especiais para adaptação. De acordo com os números atuais, 45% dos
alunos estrangeiros são portugueses.
Em Bulle, segunda maior
cidade do cantão, a maioria dos adolescentes são lusitanos. O professor
da classe de acolho, Louis Philippe Clerc, introduziu um sistema de
freios e pequenas multas para aqueles que usam a língua de Pessoa, em
vez da de Molière. O dinheiro das multas é usado para pagar uma rodada
de sorvete no final do ano.
Acompanhantes involuntários
Esses adolescentes, obviamente, acompanham seus pais. A chegada
dos portugueses é por causa da crise na Europa? "A Suíça é uma ilha
econômica atraente, como o cantão de Friburgo. A comunidade portuguesa
sempre foi bem representada aqui", diz Patrick Pochon, responsável do
Serviço da População e Migrantes do cantão de Friburgo (SPoMi).
Segundo Patrick Pochon, é possível observar uma evolução linear na chegada dos portugueses à Suíça nos últimos três anos.
Centro português
O professor da região de Gruyère acompanhou a evolução da composição
de suas classes. "No meu primeiro ano na classe de acolho, em 2004,
havia uma grande quantidade de alunos dos Balcãs e, talvez, um português
e um espanhol. Agora, os portugueses são maioria, com a enorme
desvantagem de poder falar na língua deles. Quando a classe tinha doze
alunos de nove nacionalidades diferentes, a socialização era feita em
francês. Sou obrigado a constatar que os alunos agora progridem menos em
francês", disse.
O professor Clerc observa ainda uma outra
consequência da forte presença de uma única nacionalidade: "Esta
situação cria também uma forma de comunidade. Minha classe foi apelidada
de ‘centro português'. Para remediar esta situação, proponho aos alunos
de participar de um clube de esportes... esperando que o treinador não
fale português."
Os jovens que entram nesta classe falam mais ou
menos francês. O currículo é adaptado para cada um deles. Muitas horas
de francês e matemática, com uma segunda metade de alemão. Apesar de não
falarem francês, os alunos estrangeiros participam das aulas de
natação, educação artística, educação física e informática com os outros
alunos. Assim, lentamente, eles vão se integrando às classes normais.
Alguns bem rápido e com um nível muito bom.
"Não é uma escolha"
No começo, o professor trabalha com pictogramas. Louis Philippe
Clerc constata que em quatro meses os jovens portugueses ou espanhóis
conseguem adquirir uma compreensão oral.
O professor suíço é bem
compreensivo. "É claro que nenhum desses alunos, com idades entre doze e
dezesseis anos, escolheu vir à Suíça. O primeiro dia de aula é muito
angustiante. Eles não falam o idioma, deixaram seu país, sua cultura,
sua rede social... é normal que alguns chorem nos primeiros dias de aula
com saudades de casa", observa.
Além das disciplinas a serem
ensinadas, Louis Philippe Clerc também ensina as regras de comportamento
para se encaixar na sociedade suíça.
Mas este trabalho de
ensino é muitas vezes associado a um papel social. Os pais lhe pedem,
por exemplo, uma ajuda para escrever uma carta, ou até para encontrar
trabalho e moradia. "Isso abriu meus olhos para a miséria, a dificuldade
psicológica, econômica, emocional", observa.
Caráter especial
Este posto de ensino é particularmente especial, reconhece o
professor suíço: "É um prazer indescritível ser professor de uma classe
de acolho. Os pais são gratos e os laços feitos aqui não se desfazem
quando os alunos deixam a escola. Estive duas vezes no Kosovo para um
casamento."
Mas esses alunos conseguem seguir um currículo suíço
normal, fazendo um aprendizado ou uma faculdade? "Os alunos
provenientes de certos países estão na Suíça por razões econômicas e às
vezes têm ambições em que devemos colocar um amortecedor", diz Clerc.
"É
difícil explicar para um jovem de 15 anos da seção ‘conhecimentos
básicos' que vai ser difícil para ele ir para a faculdade. Mas, pelo
menos, poucos ficam em uma situação difícil graças às estruturas tais
como semestres de motivação ou estágios".
Tamara Bongard, La Liberté
Adaptação: Fernando Hirschy
Swissinfo.ch, aqui.