Mafalda Lacerda, em Joanesburgo
Os portugueses na África do Sul não estão particularmente preocupados
com a situação do país depois do líder da reconciliação desaparecer. A
ideia é deixada à Renascença pelo director do jornal "O Século de Joanesburgo".
"Não
detectei da parte da comunidade portuguesa grandes apreensões. Nunca
ligaram muito à política, estão mais envolvidos nas áreas económicas e
estão mais preocupados com a desvalorização do rand [moeda do país] do
que propriamente com a política do país" - contou Varela Afonso, que
também não receia qualquer convulsão social, num pós-Madiba.
"A
África do Sul é um país que - graças a Mandela - tem hoje uma democracia
estável. As instituições democráticas funcionam, o parlamento funciona,
o governo funciona, portanto, o período pós-Mandela sucedeu quando
deixou o Governo em 1999", sublinhou.
Na opinião do director do
semanário em língua portuguesa, "Nelson Mandela foi um homem que não
esteve agarrado ao poder, que deu um exemplo extraordinário de
democracia e, portanto, o país e as instituições têm funcionado
normalmente já depois dele deixar de estar na vida activa política".
"A
estabilidade está criada", conclui Varela Afonso. O ex-presidente
sul-africano "é uma figura respeitada, mas não tem influência nos
destinos políticos do país. Há-de ser sempre lembrado, mas depois de ter
deixado a vida activa, cada um dos presidentes que foi eleito - tanto
Thabo Mbeki, como depois Jacob Zuma, seguiram a política. Têm um grande
respeito pelo antigo presidente, mas a política activa não foi
influenciada nem é teve interferências".
Relação dos portugueses com Madiba
O
Nobel da Paz é reconhecidamente uma figura ímpar e muito acarinhado
também pelos portugueses no país. O director do "Século de Joanesburgo"
lembra a alegria com que foi vivido o momento da libertação do líder
histórico, a 11 de Fevereiro de 1990.
"O primeiro contacto que
Nelson Mandela teve com a comunidade portuguesa data de Outubro de 1993 -
ainda não era Presidente da República", cargo para o qual foi eleito em
Abril de 1994.
Folheando a revista que acompanhava o jornal na
altura, Rogério Varela lembra que o líder histórico da África do Sul
aceitou o convite da Associação de Jovens Empresários Portugueses para a
entrega dos troféus aos empresários e técnicos do ano, uma cerimónia
realizada no Carlton Hotel, na baixa de Joanesburgo. «Jovens portugueses
galardoados com a presença de Nelson Mandela» era o título da notícia.
"Estive
nesta cerimónia e tive oportunidade de falar com ele", conta o
director, que destaca o "respeito" pela figura do símbolo da
reconciliação.
"Vai ser recordado, porque ele é a figura
política que evitou uma guerra civil na África do Sul e toda a gente e
todo o país e todo o povo lhe deve isso, inclusivamente nós portugueses
que vivemos desde então uma vida tranquila neste país", conclui.
O
herói da luta contra o apartheid, carinhosamente conhecido por Madiba,
está num hospital de Pretória. Desde Dezembro, foi hospitalizado quatro
vezes, devido a uma infecção pulmonar recorrente.
Rádio Renascença, aqui.