Uma criança portuguesa abandonada pelos pais nos Açores acaba de vencer
uma inédita batalha legal, obtendo autorização de residência nos Estados
Unidos depois de ter sido colocada à guarda de uma avó e tia.
«Não
conheço nenhum caso nos Tribunais da Familia de Rhode Island e
Massachusetts, e mesmo no sistema de imigração federal, semelhante a
este», disse à agência Lusa a advogada Val Ribeiro.
Marco Moniz,
de 13 anos, é filho de dois imigrantes açorianos que foram deportados
para Portugal há cerca de 15 anos e desenvolveram uma relação em São
Miguel, nos Açores.
Os pais nunca ultrapassaram os problemas de
toxicodependência que motivaram a deportação e a criança, depois de
viver na rua com a mãe, acabou por ser colocada no sistema de proteção
de menores açoriano. Há cinco anos, a tia, Maria Moniz, e a avó paterna,
Hirondina Moniz, requereram a guarda da criança.
Em abril de
2010, Marco Moniz viajou pela primeira vez até aos EUA, durante uma
semana, acompanhado por uma assistente social. Meses depois, a guarda
permanente foi atribuída às duas imigrantes.
O pai da criança
acabou por falecer e terá deixado como último desejo que o filho vivesse
nos EUA com a avó. Em dezembro de 2010, ao abrigo do programa «Visa
Waiver», que permite a estadia de cidadãos portugueses no país sem visto
durante 90 dias, Marco Moniz viajou para os EUA.
Apenas depois
da sua chegada a família percebeu que a decisão judicial portuguesa, que
colocava o menino sob guarda das duas mulheres, não tinha validade nos
Estados Unidos.
«Portugal agiu no melhor interesse do menino. Mas
havia a questão do que podíamos fazer com a decisão de outro país»,
disse Val Ribeiro, sublinhando que «a fase inicial, em que tivemos de
decidir o que fazer, foi a mais difícil. Recorrer ao Tribunal
Internacional de Haia era a solução mais óbvia, mas demoraria muitos
anos.»
Nessa altura, as duas advogadas que trabalharam no caso
decidiram que o primeiro passo seria reconhecer a decisão do tribunal
português no tribunal de Rhode Island.
A família foi depois
direcionada para o Tribunal da Família, ao abrigo do «Uniform Child
Custody Jurisdiction And Enforcement Act», um acordo apenas usado em
casos dentro dos Estados Unidos.
«Foi a primeira vez que esta lei foi usada no caso de um jovem num caso de imigração», diz a advogada.
Assim
que o tribunal reconheceu a decisão, concordando que Marco fora
abandonado, as advogadas recorreram para os serviços de imigração
pedindo o estatuto especial de imigrante juvenil. A decisão final chegou
no dia 21 de agosto.
«Isto é excelente? Estou feliz. Significa
que posso ficar aqui. Tinha medo que precisasse voltar», disse Marco
Moniz ao «O Jornal», um jornal da comunidade portuguesa de Rhode Island e
Fall River que noticiou primeiro o caso.
Marco tem agora um
«green card», a autorização de residência permanente nos Estados Unidos,
e poderá pedir nacionalidade dentro de cinco anos.
«Este caso
pode ajudar outras pessoas, em casos de divórcios e custódias. São casos
muito difíceis, mas agora já sabemos como proceder», explicou Val
Ribeiro à agência Lusa.
Marco está agora no sétimo ano de
escolaridade e, segundo a advogada, «fala muito bem inglês e adaptou-se
muito bem ao novo país».
TVI24, aqui.