O Governo luxemburguês prepara-se para despejar quinze portugueses que
vivem na maior residência do país para estrangeiros com dificuldades
económicas, o Foyer de Muehlenbach. A denúncia parte da Associação de
Apoio aos Trabalhadores Imigrantes (ASTI), que indica que a notificação
obriga os portugueses a sair até ao dia 1 de Janeiro.
Em
declarações à agência Lusa, o porta-voz da associação, Sérgio Ferreira,
considera a situação «grave» e «sem critério», e vai, por isso, enviar
uma queixa ao Gabinete Luxemburguês de Acolhimento e Integração (OLAI,
na sigla em francês) e ao ministério da Família e da Integração, que o
tutela, na tentativa de evitar o despejo.
Nesta residência, onde vivem 90 portugueses, o despejo dos 15 trabalhadores deixou os restantes em pânico.
«Andamos
todos com o coração nas mãos, porque não sabemos se nos bate amanhã.
Todos os dias, quando vamos ver o correio, é uma insegurança total»,
contou Armando Estêvão, de 50 anos, a viver no Foyer há quatro.
Entre
os trabalhadores notificados para despejo estão, por exemplo, dois
casos vulneráveis. «Há pelo menos dois casos que estão em invalidez ou
com deficiência reconhecida, e que têm por isso rendimentos muito
baixos, na ordem dos 1.500 euros. Para esses é ainda mais complicado,
porque não têm contrato de trabalho, que é necessário para conseguir um
contrato de arrendamento. E há um que está com contrato a termo, e
nenhum proprietário arrenda a quem quer que seja que esteja nessa
situação precária», disse à Lusa Sérgio Ferreira.
«Há aqui várias
situações que consideramos graves. O facto de o prazo ser curto, de ser
em pleno inverno, e de o OLAI não ter tido em conta a situação de cada
um deles, e não haver por isso nenhum critério«, disse Sérgio Ferreira.
Há 25 anos no Luxemburgo
Jacinto
Gomes da Silva tem invalidez declarada e é um dos portugueses que
recebeu ordem para deixar o Foyer, onde vive há 25 anos. À Lusa, o
português disse que o que recebe não chega para pagar os medicamentos e
acusa o OLAI de não ter tido em conta a sua situação.
«O que é
triste é que depois de verem as condições e de tirarem fotocópias dos
papéis do médico, mandam-me na mesma embora e não esclarecem nada»,
lamentou.
Na carta que recebeu do OLAI, e a que a Lusa teve
acesso, diz-se que as estruturas de habitação social para imigrantes são
«reservadas ao alojamento provisório de estrangeiros» e que os
residentes vivem ali há já vários anos.
Em maio, fonte do OLAI disse à
Lusa que todos os residentes no Foyer há mais de três anos iam ser
convocados para uma entrevista, mas o porta-voz da ASTI disse que os
trabalhadores nunca foram avisados de que a situação era provisória.
«Nunca
ninguém lhes disse que era uma situação provisória, e as pessoas
fizeram os seus projectos de vida em função disso. E é preciso ver que o
Foyer está longe de ser uma situação de luxo. Eles dividem o quarto com
outra pessoa e pagam 200 euros por mês. É aquilo que a situação
profissional e os rendimentos deles permitem», disse Sérgio Ferreira.
Esta
é a segunda vez que o Governo luxemburguês despeja portugueses a viver
em habitação social, depois do despejo de 14 portugueses do «Foyer de
Bonnevoie», em Outubro de 2012.
Na altura, a então ministra da
Família e da Integração disse que o Ministério se limitava a cumprir a
lei, em vigor desde 2008, que determina que estas estruturas de
acolhimento são provisórias.
O caso do «Foyer de Bonnevoie»
chegou mesmo ao Parlamento luxemburguês e a ministra foi obrigada a
recuar, alargando o prazo inicialmente fixado para os trabalhadores
saírem até ao final do inverno.
Construído nos anos 1970 para
acolher a primeira vaga de imigração portuguesa, o Foyer de Muehlenbach,
na periferia da capital luxemburguesa, está dividido em oito blocos,
cada um com seis quartos duplos, além de cozinha e balneário comum. Ali
vivem cerca de 90 trabalhadores, a maioria portugueses do sector da
construção.
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