A descrição desta "Geração Europa" foi feita à agência Lusa pelo sociólogo João Teixeira Lopes, professor da Universidade do Porto e autor do estudo "Novos emigrantes para França", cujas conclusões de 2013 vão ser apresentadas na quarta-feira no Colóquio "Imagem da (e)migração vs (e)migração em imagens", na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.
"Esta nova vaga é feminizada, qualificada, planeia [a viagem] e vai para França porque quer deixar de ser jovem. Estão fartos. Em Portugal só podem ser jovens, isto é, precários, intermitentes, constantemente adiando o futuro, permanecendo até muito tarde em casa dos pais, sem qualquer capacidade de constituírem família", descreve o professor, referindo-se ao estudo realizado para a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas sobre a recente vaga de emigração portuguesa para França.
A investigação, que se centrou em jovens entre os 20 e os 35 anos, qualificados e emigrantes em França, serviu para desmistificar a ideia de que "as novas gerações não estão tão voltadas para os valores familiares".
"A minha amostra está, e de que maneira", assegura Teixeira Lopes, vincando esta vontade dos jovens em se tornarem adultos como motivo para saírem de Portugal, onde não conseguem "ter casa própria, constituir família e ter uma carreira".
"Não é por desespero nem por exclusão. É porque em Portugal não conseguem passar à condição de adultos", garante o investigador.
A amostra abordada pelo estudo do sociólogo é bastante "feminizada" o que, na sua perspetiva, é revelador de um "grau de autonomia que mulheres e raparigas têm para sair do país que não existia antes".
"É também um indicador de fortíssimas alterações nas relações de género em Portugal", destaca.
Outro aspeto diferenciador é o facto de se integrarem como "jovens europeus em França".
"Não agem como comunidade. Daí a geração Europa. Não se veem na condição de emigrantes e tanto não contactam com a comunidade francesa como com as velhas comunidades portuguesas. Estão inseridos em dinâmicas de globalização e vivem as relações sociais à distância sem grandes problemas", descreve Teixeira Lopes.
É por isso que depois de ter recorrido a instituições financeiras, redes consulares, associações, autoridades nacionais e francesas, a investigação do sociólogo apenas conseguiu encontrar esta nova vaga de emigrantes "nas redes sociais".
"Esta emigração qualificada prepara a viagem e não trata de todos os processos e documentos como trataria em Portugal", justifica.
Relacionando-se sobretudo com outros novos emigrantes portugueses qualificados, para estes jovens "viajar e trabalhar fora é algo natural" e o seu estilo de vida não está "virado para as poupanças e as remessas", como acontecia com as anteriores gerações de emigrantes.
"Jantam fora, viajam, visitam exposições, trabalham bastante e têm um trabalho bastante reconhecido", defende Teixeira Lopes.
Por outro lado, ao mesmo tempo que a emigração não qualificada se dirige atualmente para as zonas de França onde se concentra o "turismo e a agricultura", a qualificada vai "para Paris, para o setor mais avançado dos serviços".
"Para eles, Paris continua a ser uma festa", nota Teixeira Lopes.
De tal forma que, acrescenta, "muitos deles chegam como assalariados, mas muito rapidamente se tornam profissionais liberais ou patrões".
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