Catarina Gome
João Maria Cabral, director-geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, avisou que ia ser "provocatório". Na senda do que já tinha dito o primeiro-ministro, Passos Coelho, afirmou: "não pretendo fazer o branqueamento do fenómeno social, mas a emigração pode ser vista como algo positivo e enriquecedor", disse esta terça-feira no seminário Novas dinâmicas migratórias internacionais: Portugal no contexto dos países da OCDE, em Lisboa.
O responsável referia-se à saída de jovens qualificados
que não encontram emprego em Portugal. Tentava assim contrariar o
discurso que se refere ao fenómeno "como a sangria da juventude na qual o
país tanto investiu", dizendo que a saída "pode ser uma mais-valia. O
país não tem que prescindir desses profissionais. A sociedade tem a
ganhar com os conhecimentos e experiência e redes que se estabelecem",
disse no seminário organizado pela Fundação Luso-Americana.
"A
emigração pode oferecer mais do que as remessas dos emigrantes",
acrescentando que "há que eliminar o estigma do fenómeno migratório e
retirar dele riqueza". João Maria Cabral admite que este tipo de
considerações "não se aplica a todo o tipo de emigração" , que em muitos
casos "pode ser negativa e por vezes trágica".
Neste contexto,
cabe às autoridades continuar "a assegurar a ligação com o país de
origem, garantir que o sentimento de pertença se mantém", fazendo "um
acompanhamento do emigrante". João Maria Cabral diz que o Governo
atribui importância à diáspora tendo um elemento vocacionado para esta
questão e o facto de quatro deputados serem escolhidos pelos portugueses
a viver no estrangeiro.
Em Janeiro, Pedro Passos Coelho, disse
que a emigração não deve ser como um "estigma" para quem precisa de um
emprego e não consegue encontrá-lo em Portugal.
O responsável referiu ainda dados sobre o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre Perspectivas das Migrações Internacionais 2013,
que dá conta de que Portugal é um dos países daquela organziação com
maior taxa de emigração, está em 14.º lugar naquele universo que inclui
40 países.
Questionado pelo PÚBLICO, Jean-Christophe Dumont,
director da Divisão de Migração Internacional da OCDE, admitiu que, nos
tempos de crise que se vivem, a emigração poder ser vista como uma
alternativa. "Em vez de se ficar dez anos à espera de um emprego sem
usar capacidades adquiridas durante a formação pode ter que se emigrar".
"Quando as oportunidades económicas voltarem, estas pessoas podem
pensar em Portugal como uma oportunidade, desde que sejam mantidos os
elos. Se bem gerida, a emigração pode ser uma oportunidade", sublinha.
Público, aqui.