O diretor do Departamento de Migrações Internacionais da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Jean-Christophe
Dumont, disse esta terça-feira à Lusa que a emigração qualificada
portuguesa ainda é «temporária» e não afeta, «por enquanto», a economia
de Portugal.
«Para o Reino Unido foram 25 mil pessoas, contra os
12 mil que escolheram a Alemanha como destino. Os números, tendo em
conta o mercado de trabalho português, não são elevados ao ponto de
poderem prejudicar a recuperação económica», disse Jean-Christophe
Dumont à margem da apresentação de um relatório sobre migrações em 2013
que foi analisado hoje na Fundação Luso Americana (FLAD), em Lisboa.
«Penso
que não é um risco para a economia portuguesa e pode trazer benefícios a
médio prazo. Tudo vai depender de fazer regressar as pessoas
qualificadas e a vontade de quererem educar os filhos em Portugal. Para
isso é preciso manter as ligações com o país», adiantou.
«O que
também sabemos é que no caso da Alemanha, no que diz respeito à
emigração portuguesa, metade das pessoas não fica no país ao fim de doze
meses. É evidente que há problemas de língua na Alemanha. Por isso, as
pessoas seguem para outro país ou regressam a Portugal», referiu
Jean-Christophe Dumont.
Uma das principais tendências que o
relatório refere são precisamente os fluxos a partir dos países mais
afetados pela crise económica e financeira, designadamente os países do
sul da Europa que registaram «uma subida que foi de 45% entre 2009 e
2011».
«Este fenómeno está a aumentar mas levanta-se a questão de
saber se isto é bom ou mau. Temos de observar os factos. O que é que as
pessoas estavam a fazer antes de partirem? Temos de ver se estavam a
trabalhar, ou não, e se têm níveis de qualificação», sublinha
Jean-Christophe Dumont.
O responsável da OCDE diz também que é
preciso saber se as pessoas que estão a sair do país estão, ou não, a
utilizar as qualificações no estrangeiro e se estão a receber novas
qualificações ou mesmo a aprender uma nova língua.
«A questão que
se coloca é: quando é que vão poder regressar a Portugal, quando é que
vão existir condições económicas para o regresso. Em que condições esta
emigração se vai tornar positiva para o país de origem?», questiona
Dumont acrescentando que se os emigrantes não voltarem quando as
condições económicas melhorarem em Portugal, «isso pode ter um impacto
negativo».
O mesmo responsável indica ainda que existe, na
Alemanha e no Reino Unido, a procura de pessoas com qualificações que,
em geral, podem enquadrar-se dentro dos parâmetros dos estudos que
possuem.
«Não quer dizer que não se podem encontrar doutorados a
servir num restaurante, mas por enquanto não são estatisticamente
relevantes, pelo menos por agora», diz Dumont.
O relatório 2013
sobre migrações já foi divulgado em junho mas foi apresentado e
analisado por vários especialistas hoje em Lisboa.
TVI24, aqui.