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Comunidade com maior índice de desemprego na Suíça, portugueses temem futuro após restrição a imigrantes
2014-03-08
Estrangeiros que não têm visto de trabalho definitivo devem ser os mais afetados, segundo especialistas

Antonio Fialho, 28 anos, é um dos 240 mil portugueses a viver na Suíça, que aprovou em referendo a restrição à entrada de estrangeiros como ele no país. Há oito anos Fialho deixou Évora, cidade de 50 mil habitantes ao sul de Portugal, para tentar a vida na região alpina. Atualmente trabalha em Zurique como operário da construção civil. Sua preocupação, contudo, é com o irmão de 24 anos, que há seis seguiu seus passos e hoje está empregado na mesma área. "A permissão que ele tem para trabalhar é temporária, e não sei o que vai acontecer depois", lamentou por telefone a Opera Mundi.

O resultado do referendo na Suíça tem tido impacto psicológico nos portugueses residentes, que formam a terceira maior comunidade de estrangeiros do país, atrás apenas de alemães e italianos. Apesar de o conselho federal dispor de até três anos para implementar a nova lei sobre o tema, o vácuo legal tem gerado ansiedade principalmente nas camadas mais vulneráveis: aquelas sem permissão de trabalho permanente e com poucas qualificações.

Se o futuro é incerto, o presente também preocupa. A renda per capita na Suíça é o dobro de Portugal e a taxa de desemprego ronda os 3,5% - contra 15% no lado português -, mas tentar a vida nesse país centro-europeu não é tão fácil. Entre os estrangeiros sem trabalho, os portugueses aparecem em primeiro lugar.

Também há a barreira linguística. "Os funcionários das repartições públicas, mesmo se sabem inglês, não se esforçam para falar conosco em outra língua que não seja o alemão", queixa-se a portuguesa Inês Carneiro, 22 anos, há dois em Lucerna. A jovem é fluente em inglês, mas para solicitar o seguro-desemprego teve de levar um tradutor consigo, custeado pelo sindicato Unia, o maior da Suíça.

O caminho para obter a permissão permanente de residência é longo e burocrático. Com o resultado do referendo, será ainda mais penoso, inclusive para cidadãos da União Europeia. Pedidos de asilo e reagrupamento familiar também podem ser limitados. Mesmo antes da votação popular, membros de países do leste europeu, tardiamente incorporados à UE, já estavam sujeitos a regras mais restritas.

Reação

Há um temor entre especialistas portugueses consultados por Opera Mundi de que a medida que inclui restrições a europeus se prolifere, na forma de lei, para outros países do bloco. "É, com certeza, uma marca no mapa político da Europa que pode reforçar os discursos anti-imigração", diz Elsa Lechner, da Universidade de Coimbra. Para o sociólogo João Peixoto, do Observatório da Emigração em Portugal, "existe um alarmismo ideológico" contra estrangeiros, impulsionado por países do Norte europeu.

A emigração em massa de portugueses para a Suíça e países vizinhos, como Luxemburgo, começou na década de 1970. Nos últimos anos, voltou a crescer com mais intensidade.  "Aumentou o número de jovens qualificados que emigra, mas o perfil predominante continua o mesmo: pessoas de baixa e média escolaridade que vão trabalhar naquilo que os nativos dos outros países não querem", afirma Peixoto. A razão também segue a mesma: a precária economia de Portugal, aliada à remuneração salarial menor que a média europeia.

Apoiadores do endurecimento da lei suíça evocam argumentos econômicos. Em artigo publicado na respeitada Swiss Political Science Review, o professor da Universidade da Basileia George Sheldon afirma que o problema "não é a quantidade de estrangeiros no país [24,5% da população ativa], mas a composição deles": a maioria tem baixa qualificação e vem de países menos desenvolvidos.

Para Sheldon, o impacto econômico é negativo: são justamente esses trabalhadores que tendem a ficar mais tempo na Suíça, onerando o Estado e desencorajando as empresas a investirem em tecnologia, uma vez que dispõem de mão-de-obra desqualificada. A solução, ainda conforme o professor, seria limitar a permissão de residência dessa fatia de estrangeiros a no máximo 2 anos, sem direito a que a família a acompanhe. Contrários ao referendo, contudo, dizem que o saldo entre a receita fiscal advinda dos imigrantes e o que eles usufruem é positiva para a Suíça.

Opera Mundi, aqui.

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