"Migrações e Família" é o tema do encontro que se realiza a propósito do
Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, assinalado este domingo, e que
acontece numa altura em que os atentados em Paris voltaram as atenções
da Europa para o fenómeno da imigração.
Eugénia Quarema, a
primeira mulher e leiga, à frente da Obra Católica Portuguesa das
Migrações, lembra que os ataques foram concretizados por jovens que já
nasceram em França, mas não se identificam com o país. "Falta-lhes um
sentimento de pertença", diz a responsável, lembrando que uma das
primeiras lições que tirou quando começou a trabalhar em bairros
complicados em Portugal foi que "quem se sente ligado a um país, quem se
sente construtor, não tem necessidade de destruir".
Na sua opinião, a adesão daqueles jovens ao radicalismo islâmico "preencheu um vazio nas suas vidas".
A
aposta tem de ser feita na educação. "É preciso combater esse vazio,
dar-lhes um sentido, oportunidades de escolaridade, de trabalho, esta
possibilidade de se integrarem na sociedade". E nisso, lembra, a Igreja
católica tem sido pioneira: "várias instituições trabalham no campo da
educação, estão há muito tempo em bairros periféricos das grandes
cidades".
Em Portugal a própria Obra Católica Portuguesa das
Migrações desenvolve neste momento o projecto "Vidas Ubuntu", em
parceria com o Instituto Padre António Vieira. "Vamos às escolas,
entramos em contacto com jovens que vivem em contextos vulneráveis".
Alguns são de descendência migrante, outros são migrantes, mas há também
jovens portugueses. O objectivo é "valorizar o que muitos deles já
fazem" nas suas comunidades e "ajudá-los a desenvolver os seus próprios
projectos sociais na área do empreendedorismo". Também pretendem
trabalhar com jovens de centros educativos e têm já agendado um momento
de formação para os que se encontram refugiados em Portugal.
Novos desafios para as missões católicas
Eugénia
Quaresma diz que o encontro de formação que arranca esta sexta-feira,
em Palmela, pretende promover um olhar positivo sobre os migrantes,
gente que parte ou que chega à procura de melhores condições de vida e
de trabalho, mas que nem sempre é bem acolhida.
"Não só cá
dentro, mas quem vai para fora também. Há portugueses que emigraram e
que nos falam deste olhar preconceituoso, da falta de acolhimento, do
racismo que ainda existe". Para além das histórias que chegam de
exploração laboral.
A nova responsável, pela Obra Católica
Portuguesa das Migrações e pelo Secretariado Nacional da Mobilidade
Humana, lembra que os portugueses continuam a emigrar. Saem cada vez
mais jovens, muitos já para estudar, saem famílias inteiras e antigos
emigrantes que já tinham voltado ao país e que se vêm obrigados a partir
de novo. Muitos procuram as missões: "há muitas famílias a inscrever
crianças na catequese. Há missões que tinham uma comunidade pequenina e,
de repente, no espaço de um mês, veem-nas crescer bastante".
Para
analisar todos os desafios que a nova vaga de emigração trouxe às
missões católicas o encontro de agentes sócio-pastorais das migrações
conta com a colaboração do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil e
da Cáritas.
O encontro começa logo esta noite com o documentário da Renascença "A grande debandada", sobre a emigração portuguesa, e terá duas sessões
com entrada livre: a desta sexta-feira, a cargo do sociólogo António
Barreto, e a de dia 18, com o arcebispo do Luxemburgo, um dos países com
mais emigrantes portugueses.
A entrevista a Eugénia Quaresma vai ser transmitida no programa "Princípio e Fim", domingo, a partir das 23h30.
Ver Renascença, aqui.