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Reino Unido. Há portugueses de primeira e de segunda
2015-03-12
Os emigrantes licenciados destacam o facto de o Estado proporcionar qualidade de vida. No entanto, estão preocupados com as eleições

O tema da imigração tem dominado a agenda política e social dos britânicos nos últimos meses. À medida que as eleições legislativas no Reino Unido se aproximam, a emigração e o serviço nacional de saúde (NHS) vão dominando cada vez mais as conversas. A portuguesa Carolina Dias Costa disse ao i que "há alguma incerteza em relação ao que vai acontecer depois do acto eleitoral". Por sua vez, o jurista Francisco Carvalho revela que "a imigração é o tema do momento", a par do funcionamento do NHS. Os portugueses que vivem em Londres entendem que existem dois factores para os cidadãos britânicos se sentirem preocupados. Melanie Bacchi, portuguesa e trabalhadora de recursos humanos, revela que "a onda de imigração que veio com a abertura de novos países e as medidas tomadas pelo actual governo facilitaram a chegada de muitas pessoas ao país". Na sua opinião, o "executivo liderado por David Cameron está a ser demasiado laxista e indolente com o suposto aproveitamento dos imigrantes das ajudas que o Estado oferece, enquanto muitos britânicos não têm qualquer apoio".

ACOLHIMENTO Os portugueses ouvidos pelo i foram bem acolhidos nos respectivos locais de trabalho, bem como na sociedade britânica. No entanto, nem todos os imigrantes dizem o mesmo, uma vez que esta depende de vários factores. O médico Miguel Soares Oliveira diz que "os britânicos acolhem bem os profissionais licenciados, que vão para melhores empregos, tendo uma posição diferente dos restantes". Carolina Dias Costa acrescenta que "o facto de muitos imigrantes de Leste terem vindo para o Reino Unido com o objectivo de obter benefícios manchou a ideia que os britânicos têm da imigração". Por sua vez, a trabalhadora de recursos humanos numa empresa financeira aponta o "aumento do crime, do terrorismo e da fraude ao Estado" como outros factores que estão ligados à imigração. Francisco Carvalho acredita que "a origem, etnia, cor, grupo religioso e até a fluência na língua inglesa" influenciam a forma como as pessoas são recebidas no país. O jurista fala também em "desconfiança quanto ao que vem de fora e um sentimento de superioridade moral em relação aos outros povos devido a factores históricos". O único português que teve problemas relacionados com o tema em discussão foi Miguel Soares Oliveira. O médico contou que houve "uma situação em que um doente se recusou a ser atendido por um português".

EUROPA A imigração e a manutenção do Reino Unido na União Europeia estão ligados entre si porque as propostas dos partidos políticos, em particular do UKIP, culpam a política de Bruxelas pelo aumento da chegada de emigrantes. A saída da União Europeia continua a dividir a população. Melanie Bacchi garante que "os britânicos preferem ficar isolados na sua ilha a continuar a pertencer à União Europeia porque sabem que são uma das nações mais poderosas do mundo desenvolvido". A trabalhadora de recursos humanos justifica a afirmação com a população "entender que não há vantagens ou benefícios em pertencer à instituição". O jurista acrescenta que "a ideia é aliciante para uma parte significativa da população". O médico tem uma opinião divergente dos outros dois portugueses. Miguel Soares Oliveira considera que "as pessoas gostariam de um modelo diferente da União Europeia, mas não parece que preferissem ficar no seu canto".

BENEFÍCIOS Na semana passada o diário britânico "Daily Mail" noticiou que a família de Mohammed Emwazi, mais conhecido como Jihadi John, estaria a beneficiar de uma ajuda estatal. A resposta dos britânicos quando confrontados com a comparação das ajudas por parte do Estado britânico e do português é unânime. Os apoios concedidos no Reino Unido atingem vários sectores, sobretudo a saúde, a educação e a habitação. Carolina Dias Costa entende que "o sistema de benefícios sociais é bastante alargado". A portuguesa aponta vários exemplos, como são as ajudas no pagamento da renda caso esta seja reduzida, uma remuneração mensal ou semanal quando uma pessoa procura trabalho ou tem um salário reduzido e apoio nos transportes para os desempregados. Melanie Bacchi realça o facto de as "diferenças serem vastas e incomparáveis, sobretudo ao nível do serviço nacional de saúde, que funciona, e de um Estado social que entrega benefícios e serviços, ao contrário do que acontece em Portugal". Na saúde o Estado oferece medicamentos e consultas grátis a pensionistas e menores de 18 anos. A família e os mais desfavorecidos também têm direito a valores elevados durante um certo período. Não é só no domínio das ajudas estatais que os britânicos se distinguem dos responsáveis portugueses. No Reino Unido também existe a preocupação de garantir aos imigrantes "o valor da igualdade de oportunidades e tratamento para todos". Miguel Soares de Oliveira destaca o facto de "concorrer em igualdade de circunstâncias a qualquer concurso por ter a garantia de que o melhor vai vencer". O médico assegura que não vê esses valores defendidos em Portugal, "nem sequer entre os próprios portugueses".

A situação em que se encontram as duas economias não permite uma comparação entre o que cada Estado pode fazer para melhorar a integração daqueles que chegam aos dois países. Francisco Carvalho afirma que "a imigração que chega a Portugal é maioritariamente pouco qualificada", enquanto "no Reino Unido os imigrantes são em maior número e de tipo mais variado". No entanto, sobre a questão dos benefícios em particular, o jurista assegura que "Portugal perde muito em relação ao Reino Unido".

 

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