Dorme mais vezes numa cadeira de avião do que na cama de casa. Literalmente. E casas, daquelas a que se pode chamar de lar, tem pelo menos duas. Uma em Lisboa e outra no país que a acolheu desde a adolescência. Acrescenta-se uma terceira, a Assembleia da República. Está habituada a viver permanentemente "entre dois mundos", porque nunca se desligou da cultura portuguesa desde o dia em que rumou ao continente americano com a família às costas. Hoje, Maria João Ávila, bem como Carlos Páscoa, são os únicos dois deputados eleitos pelas comunidades de emigrantes fora da Europa. Ambos são emigrantes a representar emigrantes - "e é assim que deve ser". E ambos são as ovelhas fora do rebanho no Parlamento.
"Acha que tenho cara de política? Eu sou aquilo a que se chama de politicamente incorreta". E ri-se, alto e bom som. Apresenta-se tal como é: uma "mover e uma shaker", que é como quem diz uma pessoa que "get things done". Percebeu? É frequente ouvi-la falar inglês, algumas palavras saem mais naturalmente na língua que teve de aprender a dominar desde os 13 anos, do que na língua que sempre falou - com sotaque açoriano. "Às vezes nem me lembro se estou a falar inglês ou português". Mas nem seria preciso língua nenhuma para se fazer entender, a imagem que transmite digamos que fala por si. Pessoa direta e espontânea, cabelo armado e voz audível, com uma gargalhada sempre na ponta da língua. "I realy get things done". Que é como quem diz, seja nos Açores, nos EUA ou em Lisboa, "eu adapto-me bem em todo o lado, chego e cá estou eu". Faz e acontece.
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