O "patrão" da Sonae, que falava num debate sobre desemprego promovido no Porto pelo PSD, com a presença da líder do partido, referiu mesmo que aquele país africano pode ser o destino natural de parte dos engenheiros e técnicos qualificados que venham a perder o posto de trabalho caso a fábrica da Qimonda em Portugal feche as portas.
"Às vezes, o que é mais difícil em Portugal é uma certa cultura, é as pessoas quererem emprego ali ao lado. A Qimonda, por exemplo, tem dois mil engenheiros e técnicos qualificados. É impossível arranjar empregos para todos eles [caso a fábrica encerre]. As pessoas vão ter de ir trabalhar noutro sítio: noutra parte de Portugal, da Europa ou do mundo", disse.
Belmiro de Azevedo apontou o exemplo concreto de Angola, "seguramente um país que pode atrair muitas pessoas. Está no princípio do seu desenvolvimento e como tal dispõe de muitos empregos e não precisa de trabalho muito qualificado".
Daniel Bessa classificou Angola como "o país do mundo que mais contribui para resolver o problema do desemprego em Portugal", nomeadamente porque "as exportações continuam a subir, sendo actualmente o quarto mercado para os produtos portugueses, à frente do Reino Unidos, Itália ou Estados Unidos".
"Há 40 anos, os portugueses habituaram-se a vender para Angola coisas que não prestavam e que em muitos casos nem chegavam a entrar naquele país. Quem continua a pensar assim que se desengane: hoje a situação é diferente", disse.
Apesar deste crescimento das exportações para Angola, o ex-ministro de António Guterres sublinhou que é apesar de tudo "um lugar de risco", pelo que é preferível "não pôr todos os ovos" naquele país.
Daniel Bessa admitiu que, face à orientação comunitária de violação do Pacto de Estabilidade e Crescimento, Portugal pode transgredir os três por cento previstos para o défice desde que "não cometa o erro capital de gastar mais do que os outros".
"Se é para gastar, gastemos. Agora, por favor, não gastemos maior percentagem do PIB do que os outros países, senão é o desastre: acabamos deitados fora da jangada que é o euro", avisou.
O economista, que defendeu "sem hesitação" um prolongamento do subsídio de desemprego, disse ter "alguma dificuldade em admitir que numa conjuntura como esta se despeça".
"O país está em dificuldades, a pedir o esforço de todos, e vem uma empresa despedir porque o número trabalhadores afecta os seus resultados? Isso cai muito mal. Não sei é se é possível impedir politicamente que isso aconteça", afirmou.
Por outro lado, frisou que o "assusta" ver o Estado a "pôr dinheiro em empresas só para salvar emprego. Isso é permissível a discricionariedades", disse.
E, tal como Belmiro de Azevedo, defendeu que o mais importante é criar riqueza - "emprego é presente, riqueza é futuro".
"O segundo governo de António Guterres teve a mais baixa taxa de desemprego, o que não impediu que tivesse sido o pior desde D. Maria", ironizou Daniel Bessa, fazendo referência a um comentário atribuído ao antigo ministro das Finanças, Sousa Franco, após deixar aquele Executivo.
Belmiro de Azevedo sublinhou que "as empresas têm como missão essencial criar riqueza, produzir serviços ou produtos para exportar, e delegaram no Estado - eventualmente mal - as funções sociais, pagando impostos e taxas sociais. O Estado é que deve usar bem esse dinheiro".
O empresário reafirmou a defesa da mobilidade laboral e da educação e formação permanente dos trabalhadores, sublinhando que para si "é preciso ganhar o direito a ter emprego. Não basta estudar, é preciso estudar, começar às sete ou oito da manhã e terminar quando o trabalho estiver feito".
"Para haver uma oferta de emprego satisfatória temos de ser os melhores trabalhadores do mundo ou perto disso", frisou, afirmando que, enquanto maior empregador nacional, o Grupo Sonae tem uma constante preocupação com a formação, que "em alguns casos nem implica nada de mais: para certos empregos basta saber ser simpático e sorrir, não é preciso nenhum curso universitário".
Belmiro de Azevedo defendeu que "os sindicatos terão de fazer uma correcção de trajectória quanto às suas eventualmente justas reivindicações de não deixar despedir. As pessoas não podem continuar a fazer a mesma coisa no mesmo sítio quando ela já não vende".
O padre Lino Maia, que falava em nome do sector económico solidário, sublinhou a importância deste segmento na criação de emprego, recordando que ele já tem mais colaboradores do que o dos transportes.
O sacerdote alertou para o fenómeno dos novos pobres, aqueles que há um ano já o eram por sobre-endividamento mas que viram a sua situação agravada com o desemprego.
No final, Manuela Ferreira Leite, que assistiu em silêncio ao debate, afirmou que "a ideia-base que saiu do encontro é a de que nenhuma das intervenções sugeriu que as soluções passam pela intervenção do Estado".
"A iniciativa deve ser das empresas e das pessoas. O Estado complementa, mas o empreendedorismo e a criação de riqueza e de emprego não são competências suas", disse.
Para a líder do PSD, "nenhuma das soluções apresentadas foi novidade, porque já tinham sido apresentadas" pelos sociais-democratas.
MSP.
RTP 1, aqui, acedido em 16 de Março de 2009