A investigadora portuguesa Ana Barbeiro alerta para a discriminação e injustiça que muitos emigrantes portugueses sofrem no primeiro ano de chegada à Suíça, de acordo com um inquérito que será divulgado na próxima semana.
- "No primeiro ano de chegada à Suíça, 56% dos inquiridos disseram que sofreram uma experiência de injustiça ou discriminação em pelo menos um contexto", disse à agência Lusa a investigadora Ana Barbeiro, da Universidade de Lausanne, que está a concluir uma tese de doutoramento intitulada, "Violências institucionais e percurso de vida. Vivências, representações e atitudes dos portugueses imigrantes na Suíça".
As injustiças estão principalmente relacionadas com o contexto de trabalho, de alojamento, da vida do dia-a-dia e dos serviços de imigração, disse.
Segundo a investigadora, "o primeiro ano dos portugueses na Suíça pode ser equiparado às vivências das minorias mais discriminadas (...) na União Europeia".
Isso demonstra que o primeiro ano é um momento de vulnerabilidade e que o contacto em vários contextos é difícil, de acordo com Ana Barbeiro.
No entanto, salientou que "com o passar dos anos, essas experiências são mitigadas".
Por outro lado, 44% dos Portugueses questionados disseram que nunca sofreram qualquer discriminação na Suíça.
O objetivo da investigadora é estudar a relação dos emigrantes com as instituições ao longo do seu percurso migratório, nomeadamente a perceção de justiça e injustiça das pessoas e de como lidam com essas experiências.
Formada em psicologia pela Universidades do Porto e do Minho, Ana Barbeiro interessou-se no início dos anos 2000 pelos emigrantes que chegavam a Portugal e as formas de discriminação que sofriam.
Na Suíça, os estudos sobre os emigrantes portugueses são raros e a imigração portuguesa é geralmente comparada à espanhola e à italiana, o que motivou Ana Barbeio a estudar os imigrantes portugueses quando iniciou o seu doutoramento no país helvético.
Os resultados do seu estudo baseiam-se em 273 questionários em português, complementados por 22 entrevistas aprofundadas, recolhidos em 2010 e 2013. Os inquiridos tinham entre 18 e 66 anos. A maioria deles chegou à Suíça quando tinha entre 20 e 29 anos.
No entanto, a investigadora ressalvou que "esta amostra não é representativa de toda a comunidade (...), não é um retrato de milhares de portugueses na Suíça".
Ana Barbeiro, que é também investigadora na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, vai apresentar este estudo a 04 de junho em Lausanne, durante o congresso da Sociedade Suíça de Sociologia, e prevê concluir a sua tese ainda este ano.
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